O ANTIJUDAÍSMO NA VENEZUELA DE HUGO CHAVEZ
O INIMIGO JUDEUQuem quer que visite a sede dos Ministérios do “Poder Popular” de Educação Superior, de Ciência e Tecnologia ou de Informação e Comunicação, no próprio centro de Caracas, tem que passar ao longo de uma exposição de uns vinte painéis dispostos nas colunas do hall de acesso, supostamente dedicada à Palestina.
O que chama logo a atenção é que não se vê uma só palavra ou imagem que, positivamente, faça com que o visitante conheça alguma coisa sobre o povo palestino que possa lhe inspirar alguma simpatia por essa gente, mas, ao contrário, o que ele verá será uma avalanche de insultos e impropérios contra o Estado de Israel. Israel é qualificado como estado colonialista, racista, genocida, que pratica uma limpeza étnica, um apartheid e que edificou um “muro da vergonha” para segregar os palestinos.
Todas essas acusações, nas quais a mendacidade só é superada pela gratuidade, suscitam a pergunta: O que terão feito, Israel e os judeus em geral, aos militares golpistas, guerrilheiros e comunistas venezuelanos, para que se manifestem tanto ódio contra eles?
Esta simples circunstância, aparentemente inexplicável, impõe a obrigação de se fazer algum esforço para pelo menos compreender e achar um sentido inclusive dessa loucura, pois, como veremos, esta atitude também pode servir a propósitos políticos.
Cabe esclarecer de início, ponto a ponto, que Israel não levantou nenhum “muro da vergonha”. Esta qualificação foi atribuída ao muro de Berlim, levantado pelos comunistas alemães do este, títeres de Moscou. Um muro contra o qual a esquerda mundial jamais interpôs o menor protesto, embora, sim, quis se aproveitar da sua queda, como se ela tivesse sido propiciado por eles e não por Ronald Reagan e pelo Papa João XXIII.
O muro de Berlim tinha a peculiaridade de ter sido construído para impedir a saída de pessoas do lado comunista; o da Galiléia, ao contrário, tem um caráter de defesa, ou seja, para impedir a entrada de terroristas suicidas e deve se ressaltar que sua construção reduziu a quase zero o número desses atentados sangrentos.
A expressão “muro racista” é de uma estupidez completa e um contrasenso inteiro, pois os muros não têm ideologia nem preferências raciais: são meras ferramentas de segurança em qualquer parte, desde a Grande Muralha da China ao muro que começa a defender o território norte-americano das hordas de imigrantes ilegais provenientes do México.
O apartheid é uma política específica da África do Sul, sustentada em leis vigentes por gerações, um regime que foi recentemente superado com o governo de Nelson Mandela; mas talvez pareça a este senhor, que esteve preso pelo regime durante 27 anos sem qualquer acusação formal exceto de ser contra o racismo tanto de brancos quanto de negros, inexplicável que a África do Sul até tenha se tornado uma espécie de paraíso da esquerda mundial, que desfruta lá de ruidosas convenções em seus mais luxuosos hotéis. Quem é o culpado? O autor ou o praticante do apartheid? De certo – segundo o ‘Socialismo Del Siglo XXI’ – Israel!
A limpeza étnica também é uma política específica, recentemente posta em prática pelo populista Slobodan Milosevic, Presidente da República Socialista da Sérvia e líder do ‘Partido Socialista Sérvio’, durante a guerra civil desatada em virtude do esfacelamento da antiga Iugoslávia, um estado mantido com mão de ferro pelo líder comunista Yosif Broz Tito, idolatrado pelos terceiro-mundistas.
Mas acontece que agora os socialistas não têm nada a ver com a limpeza étnica nos Bálcãs, nem os sérvios, nem os bósnios, nem os croatas, nem os macedônios, nem os montenegrenses, o culpado da limpeza étnica, ora, é os estado de Israel!
Israel não é um estado “genocida”; ao contrário, são precisamente os judeus as vítimas do mais gigantesco genocídio ocorrido na história da humanidade, o Holocausto. E se esse genocídio é reconhecido como crime internacional isso se deu graças às extenuantes diligências a que dedicou sua vida o advogado judeu polonês Rafael Lemkin, criador do termo e redator da Convenção para a Prevenção e Sanção do Delito de Genocídio aprovada pelas Nações Unidas em 1948.
Quase pelas mesmas razões, Israel não é um estado “racista”, nem os judeus o são, nem poder sê-lo, porque eles são exatamente o povo que mais sofreu pela discriminação racial. São inúmeras as instituições judias dedicadas à promoção da tolerância, à convivência pacífica e ao reconhecimento das diferenças entre pessoas e povos; ao passo que é totalmente possível encontrar lideranças que promovem o contrário, como a que propõe “apagar Israel do mapa” e “atirar os judeus ao mar”.
Israel não é, e nem pode ser, um estado “colonialista” e tal fenômeno – o colonialismo – nem sequer corresponde à sua própria existência histórica. O colonialismo é um fenômeno que se iniciou no fim do século XV, teve seu apogeu ao longo dos séculos XVIII e XIX, e declinou no século XX, a ponto da ONU tê-lo declarado como abolido, reconhecendo a independência das ex-colônias, criando inclusive uma comissão de descolonização, de eventos contemporâneos à independência de Israel, um produto genuíno da descolonização.
Todavia, ainda teoricamente, o colonialismo supõe uma metrópole imperial e alguns territórios de ultramar sob seu domínio, como o foram a Grã Bretanha, a Espanha, a França, a Holanda e Portugal. Então, o que tem isso a ver com Israel, um estado territorialmente minúsculo, com cerca de 20 mil km2, pouco menor que o estado de Sergipe, o menor estado do Brasil?
A necessidade de chamar Israel de “estado colonial”, surge em decorrência de facções palestinas se autodenominarem “frentes de libertação nacional”, o que lhes permitia ter acesso à condição de receber ajuda externa da ex-União Soviética.
A pesar de todos os esforços políticos, ideológicos e propagandísticos, esta falácia jamais pode se concretizar na prática, porque simplesmente os judeus não têm de onde explorar recursos, como os franceses faziam com a Argélia ou com a Indochina, e a concepção de Israel como uma potência européia, na realidade fincada em sua terra ancestral e nela entranhada, sem nenhuma referência metropolitana em outra parte, é completamente desvinculada do conceito de colonialismo (mas isto já se afigura como uma manifestação de loucura política).
O epílogo da exposição é um painel dedicado a Mordejai Vanunu, o que suscita perguntar quem é este senhor e o que faz ali aos olhos dos passantes. Aparentemente se trata de um físico judeu de origem marroquina, transformado em ícone da esquerda por seus diatribes contra Israel.
Sua história poderia se resumir em poucas palavras: tinha trabalhado em projetos estratégicos do governo israelense, que, após ser despedido, se dedicou a divulgar o que sabia num itinerário rocambolesco que o levou desde a Austrália até a redação de jornais sensacionalistas de Londres.
Capturado numa operação novelesca, a Gordon Thomas, foi condenado por traição, por revelar informação secreta e tentar contra a segurança do estado. Nesse caso não parece que Israel tenha feito nada pior ou melhor que qualquer potencia faz em condições idênticas, com a provável exceção de se imaginar o que faria o Irã, a Coréia do Norte, Cuba, ou outro regime socialista qualquer, fascista ou comunista, caso um de seus físicos nucleares adotasse uma atitude equivalente com seus projetos de biotecnologia.
Inclusive, a condenação de Vanunu é menor do que as aplicadas na Venezuela aos presos políticos, não chega a dois terços da dos comissários e policiais metropolitanos, nem a que se impôs à juíza Afiuni; mas a pergunta é: o que tem a ver isso com a Palestina?
Mais uma evidência, caso falte outra, de que esta exposição, como as ruidosas manifestações antissemitas européias, faz com que a causa palestina, de fato, se torne igual e pior que elas; pior, inclusive, do que era antes de existir, na sua forma atual, o Estado de Israel.
POLÍTICA E LOUCURA
O problema reclamado é que tal propaganda, inequivocamente nazifascista, impregnada por gente anônima, porém tida como uma posição oficial do governo de Hugo Chávez, implica naquilo que se conhece como “antissemitismo de estado”, sua utilização como tática política, como mote motivacional de mobilização e de organização “de massas”.
O ódio contra os judeus é para nacional-socialismo o que o ódio ao burguês, ao proprietário de terras, é para os comunistas; e o regime venezuelano combina ambos, tanto o racismo como o classicismo, num coquetel socialista indigesto e repugnante.
O traço comum é uma incongruência constitutiva, como contrastar “o muro da vergonha” com as paredes de Auschwitz, imagem abominável cuja impressão não pode produzir senão uma fratura do senso comum, uma rotura das formas normais de raciocínio.
Nossa hipótese é que isso é o que se pretende. Toda revolução socialista é montada sobre o que eles mesmos chamam de “assalto à Razão”, o desprezo pela racionalidade própria do Ocidente, à qual desqualificam como capitalista e burguesa, tentando suplantá-la mediante uma aberta irracionalidade política, econômico e cultural.
É como se os socialistas, os nacional-socialistas e comunistas, quisessem nos dizer: “nós não aplicamos a limpeza étnica nem levantamos o muro de Berlim, mas são os judeus que fizeram e fazem isso!”
Já é um fato suficientemente demonstrado que os socialistas sempre se apresentam a si mesmos como ‘vítimas inocentes’ de outros nos quais projetam seus próprios propósitos assassinos.
Não se poderá encontrar qualquer discurso, nem sequer o menor gesto por parte de qualquer governante judeu que incite a aniquilação de quem quer que seja; mas são anedóticas as declarações de seus inimigos clamando pela destruição de Israel e pelo assassinato de “todos os judeus onde quer que estejam”. Agora mesmo corre pela Internet um chamado em prol da uma “Terceira Intifada” cujo objetivo é afogar Israel em sangue. A simples visão de milhões de pessoas marchando para ocupar o território israelense é, em si, delirante e demente; mas o pior é que os milhares de aderentes a essa agressão nem conhecem essa zona e em sua grade maioria nem sequer são palestinos.
A tática política nacional-socialista está montada sobre os andaimes das mentiras insustentáveis -- como se pode pretender que funcione? A resposta é trivial: rompendo com todo raciocínio normal, ou seja, estabelecendo a irracionalidade como sistema, sob o slogan: “tudo está permitido”.
Voltemos, como exemplo, ao senhor Vanunu. Diz seu cartaz que: “O estado colonial de Israel, que foi fabricado em 1948 com base na limpeza étnica contra o povo palestino, (…)”. Esse mesmo cartaz tinha que acrescentar: pela Resolução 181 da ONU, aprovada por 33 países incluindo a Venezuela, o Brasil, a Bolívia, o Equador, a Nicarágua, o Uruguai, a Rússia e a Bielorrússia e o patrocínio da ex-URSS, para o que bastaria consultar os inflamados discursos de seu chanceler Andrei Gromyko.
Para a ocasião da independência de Israel, o sionismo era considerado como um “movimento de libertação nacional” contra o imperialismo britânico que tinha um mandato sobre a Palestina; como tinha sido antes contra o império otomano.
A Grã Bretanha tinha restringido ao mínimo a imigração judia e junto com os EUA decretaram um embargo de armas, em função do qual os primeiros equipamentos pesados recebidos pelas forças de defesa de Israel provieram da Checoslováquia, um país da órbita soviética!
Assim, uma exposição que começa denunciando “o movimento ariano-sionista judaico-europeu…”, conclui em tamanhos desatinos: o gosto pelos falsos paradoxos, pela invenção de situações incongruentes, não só insultam o senso comum, mas também é uma maneira de subverter a percepção normal com a qual as pessoas se orientam no mundo, um jeito de dar a impressão de que o impossível pode se tornar cotidiano.
A hegemonia da comunicação estatizada do regime chavezista pretende que a mentira prevaleça, imponha o reino da obscuridade; mas a verdade nunca desaparece, espera sempre por quem queira desvendá-la.
O antissemitismo não é só uma ameaça para os judeus, ele está contido numa ameaça muito maior, global, e é um desafio contra toda a humanidade.
Luis Marín - 17-04-11
Nenhum comentário:
Postar um comentário