Por Roberto Freire
Presidente do PPS
É imoral a situação que leva nossos irmãos brasileiros do Nordeste - como já ocorreu também com os do Sul - ao desespero de perder família, casa, enfim, tudo o que tinham.
Esse tudo na maioria das vezes era muito pouco, porque a tragédia das enchentes, como a da seca, golpeia aqueles que menos têm, a quem sobra os espaços mais insalubres e perigosos nas periferias das cidades.
O caráter perverso do drama que estão enfrentando alagoanos e pernambucanos é que dinheiro não deveria faltar para evitar que desastres como o que enfrentam com a chegada das chuvas ocorressem.
Nem para acudi-los com presteza e garantindo-lhes dignidade e agilidade no socorro. No entanto, lá estão eles em meio a escombros de cidades devastadas.
Os últimos números dão conta de que 600 pessoas estão desaparecidas, 44 já morreram!
Mas, em vez de aumentar, os recursos destinados "Prevenção e Preparação para Desastres" minguam expressivamente todos os anos. Um levantamento da Secretaria de Defesa Civil do governo federal mostra que, neste ano, apenas R$ 99 milhões dessa rubrica, segundo dados do Siaf, figuravam no Orçamento.
Pior é que até o dia de hoje nenhum centavo havia sido gasto, apesar de todos os desastres que o país teve de enfrentar. Municípios de Santa Catarina ainda esperam recursos da tragédia do ano passado.
Em 2008, esse orçamento foi de R$ 722 milhões aprovados pelo Congresso. Absurdamente, apenas R$ 54 milhões foram usados. O restante engordou o caixa do superávit primário.
No ano de 2009, o diapasão continuou o mesmo. Dos R$ 369 milhões previstos para situações de "desastres, flagelos e inundações", menos de 6% foram utilizados!
Esse é o país das iniqüidades. Mas na televisão existe outro, muito diferente... Aquele com o qual o governo não tem medida para gastar.
O Brasil perfeito, que sai das agências de propaganda para consumo de eleitores. Neste ano eleitoral, os gastos com propaganda subiram 63%.
Só nos primeiros quatro meses de 2010, o governo gastou nada menos que R$ 240 milhões! A previsão orçamentária é de uma despesa de R$ 700 milhões para o ano todo.
Aqueles comerciais de casinhas coloridas que sequer saíram do papel, de estradas e outros equipamentos de infra-estrutura perfeitos que só existem no computador e que todos os dias estão na TV, no rádio, jornais e revistas é nossa colaboração, como contribuintes, para a campanha eleitoral da candidata do governo. Involuntária, obviamente, mas compulsória.
Enquanto esse Brasil desfila na mídia, o Brasil de verdade está à espera do governo nas enchentes, nos barrancos desabados, nos escombros de sua própria vida.
Razão tinha Celso Furtado, que defendia com tanto afinco uma política de desenvolvimento para o Nordeste. Se o país tivesse apostado nessa proposta, não estariam os nordestinos zanzando sem casa, comida, remédios...
Mais uma vez dependendo da caridade e daqueles políticos que apenas se utilizam do voto deles, como que comprados com os serviços que o Estado lhes deve.
O coronel apenas mudou. Passou a ser o Estado. A perversidade continua a mesma.
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Roberto Freire é presidente do PPS
sexta-feira, 25 de junho de 2010
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