Por: FRANCISCO VIANNA
(com base na visita recente de um amigo à ilha-cárcere dos Castros)
Domingo, 30 de maio de 2010
A ditadura Castro dá uma lavada na cara de partes do centro histórico da cidade, promove música ao vivo, noites shows e outras maquiagens, criando uma cidade para turista ver, onde os próprios cubanos estão impedidos de freqüentar como usuários. Mas, para cada fachada repintada e recuperada, é fácil encontrar dezenas de outras que revelam a miséria a que o regime comunista submete o seu povo.
Os chamados ‘coco-taxis’, são motoca com uma carenagem de fiberglass. Tomar um deles é se submeter a fortes emoções no trânsito caótico da cidade. Da antiga jóia do Caribe, pouca coisa resta digna de nota.
Alina tem pouco mais de 30 anos, a pele curtida pelo sol caribenho, os olhos estranhamente claros, o sorriso fácil e amigável. Começou a dirigir um coco-taxi por volta de 2006, quando decidiu sair de seu emprego num posto de saúde – onde além de ganha uma miséria ainda tinha que conviver com a miséria da medicina cubana que, apesar de tudo, é cantada em prosa e verso pelos comunistas – e candidatar-se a obter uma carteira de motorista, algo extremamente difícil na ilha-cárcere de Cuba. "Tive que esperar dois anos até conseguir uma e depois ainda esperei uns meses mais enquanto fazia cursos para ‘aprender’ o que deveria dizer aos poucos turistas estrangeiros que se aventuram a visitar a cidade", conta a moça motorista antes de vestir seu capacete e seus óculos escuros.
Qualquer taxista em Havana é um pouco de guia turístico preparado pelo estado comunista, e neste tipo de capacitação que recebem para conseguir a carteira, aprende exatamente o que deve dizer ao turista estrangeiro, uma vez que o turismo interno é uma atividade inexistente. Os locais não têm o direito de ir e vir como nas democracias. E uma denúncia de que um desses motoristas tenha dito algo diferente do script fornecido poderá lhe custar sua carteira e até algum tempo na cadeia. Os coco-taxis, esses pequenos triciclos com carroçaria arredondada que se assemelha a um coco, apesar de pouco seguros, acabam sendo um dos poucos meios de transporte com agilidade suficiente para desviar da buraqueira das ruas e capaz de percorrer suas vielas sujas e decadentes. Como tudo, no regime, é ruim, mas é barato. Mesmo assim, eles custam caro para o padrão de vida dos habitantes e são quase que exclusivamente utilizados por quem visita a ilha. É também fresco em face do calor natural que impera na cidade, porém seus ocupantes devem estar preparados para saírem dele ensopados caso caia uma chuva mais forte no caminho... Nos carros velhos que circulam nas ruas, o ar condicionado é um acessório destinado provavelmente apenas aos que pertencem ao politburo cubano.
A frota dos carros na rua, mostra o atraso imposto aos cubanos pelo regime comunista de Fidel Castro...
Mesmo assim, Alina diz que não trabalha todos os dias, porque há mais motoristas do que coco-taxis e há uma espécie de rodízio semanal entre os condutores. Mesmo assim, argumenta, "ganho muito mais com o coco-taxi do que ganhava antes no posto de saúde; alem disso, estou em contato frequente com pessoas de todo o mundo e posso conhecer um pouco da cultura delas, sua forma de pensar. Quase todos parecem estar cientes de que o que lhes digo é uma cantilena padronizada, exigida e fiscalizada pelo governo, mas, ao que parece, não se importam com isso", explica ela com um tom de resignação em suas palavras.
Enquanto a motoca triciclo avança em direção à ‘cidade-velha’ pelo famoso bairro Malecón, a nossa conversa com ela fica difícil e desagradável pelo barulho intenso do seu pequeno motor. Conta ela que, apesar de não comparável a qualquer outra capital latino-americana, a situação na ilha já esteve muito pior, há poucos anos atrás. Em que pese ainda muitas dificuldades e privações, ela garante que os cubanos confiam em que tudo ainda irá melhorar... "Claro que há muita coisa que tem que mudar, como em qualquer lugar. Mas há coisas que não queremos que se modifiquem... Todos falam em uma ‘abertura’ e todos nós esperamos uma ‘abertura’. Mas não queremos que essa ‘abertura’ acabe com as muitas coisas boas que temos aqui"... Quando pedi a ela que desse alguns exemplos dessas “coisas boas”, ela simplesmente desconversou e começou a descrever o local por onde passávamos. Insisti e ela me disse que a nossa conversa “estaba empezando a quedarse peligrosa”...
Apesar do comunismo, o povo cubano segue com sua forte religiosidade, única reduto de esperança em meio a tanta pobreza.
Ao entrar no bairro ‘El Vedado’, uma estranha praça surge em meio a um calçadão ladeado por dezenas de mastros negros e bandeiras negras que formam um obstáculo enorme para quem passa por ali não poder ter uma visão direta de um grande e moderno edifício, o qual, assim, fica quase que completamente vedado aos olhares do público. Aí ela me diz toda a cantilena que o governo exige que seja dita: "Esta é uma tribuna antiimperialista. Está em frente aos Escritórios de Interesses dos Estados Unidos – uma espécie de ‘embaixada extra-oficial’ americana em Cuba – porque de lá eles costumavam exibir cartazes e a passar gravações luminosas que nos atacavam (ao regime castrista), e assim os mastros e bandeiras em negro foram ali postos para dificultar ao máximo a visão direta pelos cubanos de toda essa propaganda anti-socialista e, assim, foi armada esta tribuna".
Painel eletrônico nos escritórios da representação comercial americana em Havana.
Ao cruzar o Monumento às Vítimas do Maine, o Malecón adquire outro aspecto. A ‘cidade velha’ começa a mostrar certa beleza ‘cultural e arquitetônica’ numa espécie de ‘decadência encantadora’. De frente para o mar, os edifícios recém recuperados externamente e pintados formam um conjunto de diversos estilos arquitetônicos do início do século XIX, quando Havana ganhou a alcunha de “pérola do Caribe”. "Muitos edifícios estão sendo restaurados por toda a cidade, graças à ajuda de países amigos, como o Brasil" – disse a nossa motorista de ‘coco-taxi’.
O castelo de São Salvador marca a entrada da Cidade Velha de Havana, uma área que se assemelha ao Pelourinho de Salvador na Bahia. Ali, Aline estaciona o veículo que dirige para nos deixar, pois estava terminada a sua corrida. Após dar-me algumas indicações aonde ir a pé, ela retorna à sua base.
Havana Velha conta uma história em cada canto, não apenas porque é uma das cidades mais antigas da América, mas porque é uma das que menos modificaram seu legado arquitetônico (a UNESCO, é claro, declarou-a como Patrimônio da Humanidade em 1982).
Fundada em 1519, rapidamente se converteu num porto importante para o comércio entre América e Europa e, também, num ponto estratégico militar. Daqui os espanhóis, ante o avanço de ingleses e holandeses, decidiram cercá-la de muralhas a partir do inicio da década de 1670 e, posteriormente, entre os séculos XVII e XVIII, protegê-la com três enormes fortalezas encravadas na entrada da cidade. Da primeira restam apenas vestígios na orla sul, enquanto as outras duas (os castelos de San Salvador com o Forte do Morro, e a fortaleza de San Carlos) estão lá como se o tempo não tivesse passado.
Seguindo as indicações de Alina, entramos a pé nessa parte da cidade e pudemos contemplar a antiga – porém carcomida – magnificência da cidade, antes conhecida como a ‘Jóia do Caribe’: as várias dezenas de mansões que compõem a principal área turística da cidade, onde se sucede uma carreira infindável de edifícios levantados entre meados do século XVII e inícios do século XVIII, apresentando estilos que vão do barroco ao neoclássico, passando pelo mourisco e o gótico. A vinda de famílias abastadas ficou plasmada no mármore que abunda nos pisos e nas colunas, nas madeiras nobres dos tetos e das escadarias, nos vestíbulos e nos assoalhos... Tudo lembra um remoto esplendor perdido pela ideologia comunista e que agora, com a ajuda externa de alguns países, o governo tenta promover uma pálida recuperação.
Abandonadas à própria sorte durante décadas, vastas áreas exibem, no entanto, as marcas da profunda deterioração provocada pela umidade, pelo salitre, mas, principalmente, pelo maior dos males: a falta de manutenção. "Nas piores épocas da escassez comunista, a última coisa que se pensava era em recuperar e pintar estes edifícios. Além do mais, não havia como fazê-lo; faltava cimento, cal, tinta", explica Vladimir, um músico de profissão que conhecemos no lugar. Ele se entrega rapidamente – e com visível necessidade de desabafar – ao nosso bate-papo e externa seu ponto de vista sobre a cidade.
Explica que Havana está sendo submetida há cerca de duas décadas a um profundo processo de restauração urbana e de recuperação de prédios antigos, num trabalho quase titânico ao custo de milhões de dólares por ano, muitos dos quais provêm de verbas da própria UNESCO, mas principalmente de ajuda de países amigos, como o Brasil, a Argentina, e outros. Essas propriedades, que hoje são do estado comunista, estão sendo renovadas e usadas como museus, centros culturais e até hotéis e butiques ao quais apenas os turistas têm acesso. Ou seja, nada que promova a geração de trabalho e riqueza. Nesses lugares, o cubano só entra para trabalhar...
Uma Havana que está sendo ‘maquiada’ para turista ver...
Para se ter um parâmetro mais nítido desse trabalho de recuperação de edifícios da cidade, basta se afastar uns quarteirões dos tradicionais circuitos turísticos e enveredar por ruas aonde ninguém quer ir. Ou seja, todo o trabalho está sendo feito apenas para “turista ver”, uma maquiagem da tradicional miséria socialista. As condições habitacionais em Havana continuam a mostrar quão grande é o atraso imposto a população pelo regime castrista.
Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento... É a farsa socialista.
Quer ir lá você também para ver?
Não precisa! Para ver pobreza e violência basta dar uma volta na periferia de nossas principais cidades, aqui no Brasil mesmo, e rezar para sobreviver a tal aventura...
Saudações,
Francisco Vianna
domingo, 20 de junho de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário