artigo
Nunca antes na história deste País houve uma eleição como esta que se aproxima.
Sempre houve governo, sempre houve oposição, e salvo no período em que os militares no poder escolhiam os sucessores dentro da caserna, os que estavam no governo se empenhavam em eleger seus candidatos, e os que estavam fora do governo se empenhavam em eleger alguém que significasse algum tipo de alternância do poder.
É assim que, bem ou mal, funcionam as democracias.Quem está dentro quer ficar, quem está fora quer entrar.
Mas esta eleição é bastante atípica.Os dois candidatos de oposição de fato não se opõem muito-ou se opõem circunstancialmente a algumas coisas aqui e ali- e o candidato da situação é o atual presidente, que pela legislação em vigor não pode ser candidato, e que por isso mesmo colocou alguém para representá-lo.Votar nesse alguém, segundo ele mesmo, será como votar nele.Teremos a primeira eleição presidencial onde você pode votar por procuração: põe lá o nome de um, mas estará votando em outro.
Ou seja: a pessoa que o presidente quer eleger existe como pessoa física, tem RG,CIC,CEP, tem até um nome de batismo e uma controvertida história política pregressa, mas tem uma existência apenas virtual como ente político autônomo.Você vota x e elege y,pela simples razão de que x na verdade não existe: é apenas a transubstanciação de y.
O nome dela é Dilma,mas isso é um acidente de percurso ocasional, ela poderia se chamar Pedro ou Maria da Penha, tanto faz.Na verdade,o nome dela é Lula, ela fala Lula,ela pensa Lula, e se tem alguma autonomia de vôo ou alguma idéia própria, ela a guarda para si, e talvez guarde a grande revelação para o dia em que (e se for) eleita.
Não são os adversários que inventam isso para caluniá-la ou para menosprezá-la.Quem a embala é Lula, o próprio Mateus que a pariu.Seu alter ego diz,com todas as letras, com toda a franqueza de quem tem a glória e o privilégio de privar da intransferível intimidade de seu próprio ego:
“Vai ser a primeira eleição,desde que voltou as eleições diretas para presidente,que meu nome não vai estar na cédula.Vai haver um vazio naquela cédula.E,para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula.E aí as pessoas vão votar.Por isso, companheira,eu quero que Deus te abençoe e te dê força, cabeça fria,e saiba que você tem um companheiro para a hora que precisar”.
Depois de tantas peripécias para reconquistar a democracia, tendo passado por um período de 20 anos em que a ditadura militar construiu avatares de si mesma, multiplicando o partido oficial em sublegendas para evitar que o poder fugisse de seu controle,chegamos a outro truque tipicamente brasileiro.
Como a lei não permite o vazio na cédula, colocaram lá o nome de alguém, que na verdade não é ninguém,mas votando em ninguém, você está elegendo alguém que não é candidato porque a lei não permite.
Parece difícil mas é muito simples.O presidente mesmo explicou: Dilma está lá para que o vazio seja preenchido.Ela não é uma candidata.É o preenchimento de um vazio.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.. E.mail: svaia@uol.com.br
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário