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quarta-feira, 15 de junho de 2011

OS MILITARES E OS BENS MATERIAIS

Os militares das Forças Armadas não são apegados aos bens materiais, inclusive aos salários.

Desde criancinhas acostumam – se a consumir e a viver de coisas supérfluas, como honestidade, abnegação, dedicação e exemplo.

É uma comunidade sui generis. Assim como alguns acreditam que se pode viver de brisa, eles vivem de boca aberta, engolindo nacionalismo, amor à pátria e outras gulodices.

Nas dificuldades, lá vão eles no farnel vasculhar se ainda sobrou um pouco de valores e virtudes e outras migalhas para prover seu sustento. E olha que conseguem.

Saboreiam a gororoba do quartel como se fosse a última. No campo, na mata, na selva, deitam no solo, na maior poça d ’ água que houver. Para ganhar rusticidade, dizem eles.

Mosquitos, aranhas, moscas e outros insetos fazem parte do seu habitat, e adeptos do ambientalismo consideram um privilégio doar um pouco de sangue para preservar a fauna.

Quando de serviço, em qualquer dia, aos sábados, aos domingos e feriados, à noite, enquanto de vigília, contam estrelas, procuram a estrela Dalva e o Cruzeiro do Sul, para achar o norte. E sonham, ou melhor, divagam.

Por vezes, as dúvidas. Como respeitar quando não se é respeitado?

Como marchar “com a coragem à sua esquerda e a disciplina à sua direita”, conforme disse Guilherme Moniz Barreto, se nada há a defender, nada há a preservar.

Servir a quem? Amar o quê? Adestrar, ensinar, dar o exemplo, para quê, quando muitos não dão. Quando muitos não se importam.

Quando o soldado foi esquecido? Quando a Defesa da Pátria foi considerada a quinta roda da carroça?

E a Hierarquia? Ela determina que o grau de superioridade embutido em cada nível impõe ao seu detentor um aumento no seu grau de responsabilidade. Na prática, pressente este grau de responsabilidade nas subordinações que a política de hoje lhe impõe?

Mas busca aquietar seus desânimos nas sábias palavras do General Charles de Gaulle sobre a Disciplina, “A partir do dia que as empunha (as armas), o soldado é submetido a uma disciplina que não mais o deixa. Amante generosa e ciumenta, ela o guia, sustentando suas fraquezas e multiplicando suas aptidões, mas também o constrange, forçando suas dúvidas e refreando seus ímpetos. O que ela exige o faz sofrer até o fundo de sua natureza humana: renunciar à liberdade, ao dinheiro, algumas vezes, á vida. Qual sacrifício é mais completo?”.

Assim, imbuído de Hierarquia e consciente da Disciplina, ele segue, não importa, se sem lenço e sem documento.

Contudo, o duro de agüentar é a família. Os filhos, as filhas, às vezes a mulher, que volta – e – meia reclama. Não fizemos nenhum juramento de austeridade, brada a consorte.

Brasília, DF, 15 de junho de 2011

Gen. Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo Pereira

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