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terça-feira, 17 de maio de 2011

Infraero: Dois pitos e quatro frases implodem o retrato oficial da Primeira Servidora da Pátria


Direto ao Ponto -

http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/

Irritada com a sequência de más notícias, Dilma Rousseff interrompeu bruscamente o relato do presidente da Infraero.

Quando chamei o senhor para o cargo, sabia que não entendia de aeroportos! ─ exaltou-se. ─ Mas se passaram semanas! (Então, por que chamou ? Os Ministros e Assessores não seriam TODOS TÉCNICOS?)

A primeira frase informa que a presidente da República escolheu para cuidar dos aeroportos alguém que não entende de aeroportos. A segunda revela que, na cabeça de Dilma, um cursinho intensivo de 60 dias é suficiente para transformar um ex-diretor do Banco Central num especialista em pistas, birutas, salas de embarque, pousos e decolagens.

Conjugados, os pontos de exclamação que escoltam as 17 palavras confirmam que a superexecutiva que inaugurou o ofício de gerente de país não sabe o que é conversar civilizadamente com subordinados. Desconhece o abismo que separa a líder enérgica da mandona grosseira. E aprecia a metodologia do pito.

Esse defeito de fabricação voltou a dar as caras em outra reunião com diretores da Infraero. Colérica com a descrição do ritmo das obras no aeroporto de Cumbica, Dilma tirou a cor do rosto de Jaime Parreira e João Márcio Jordão com o aparte em tom de úlcera:

Vocês estão me enrolando há oito anos!

A frase informa que a onisciente, onipotente e onipresente Mãe do PAC pode ser enrolada por oito anos. Também revela que, durante cinco, o Brasil foi enrolado pela chefe da Casa Civil e, depois, pela candidata que tinha mais de um computador no cérebro, visão de estadista, intuição mediúnica e todos os canteiros de obras armazenados na memória.(os grifos são deste repassador)

Desde 2005, Dilma repete que o Brasil está uma maravilha e promete a cada entrevista que tem guardada na bolsa a solução definitiva para todos os problemas do mais movimentado aeroporto do país. Quem se deixa enrolar por oito anos e enrola os outros por cinco não está preparada sequer para o posto de síndica.

Mal aconselhados pelo instinto de sobrevivência no emprego, os alvos da explosão tentaram prosseguir a prestação de contas. Ao ouvir dos diretores da Infraero que a execução de parte das obras do terceiro terminal de Cumbica foi confiada ao Exército, Dilma perdeu a paciência de vez:

O Exército, que não trabalha três turnos, que não trabalha nos fins de semana?

A frase informa que sucessora escolhida por Lula ignora a imensidão de serviços prestados ao país pela engenharia militar. Também revela que, se puder, só encomendará obras públicas a empreiteiros que operam do começo da manhã ao fim da noite e, aos sábados e domingos, ouvem o som do bate-estaca com o êxtase de quem degusta sinfonias de Beethoven. A gastança é secundária. Honestidade é detalhe. Ganância é virtude. Nenhuma roubalheira é tão relevante assim. O progresso não tem preço, incluídas comissões, propinas e taxas de sucesso.

Com quatro frases e dois pitos, a própria Dilma Rousseff implodiu o retrato oficial esboçado caprichosamente por jornalistas estatizados, arrendados, genuflexos ou apenas ineptos. Publicadas por Renata Lo Prete na coluna Painel, da Folha de S. Paulo, as 38 palavras vão muito além de avisar que a chefe anda insatisfeita com o desempenho da Infraero. Também gritam que ninguém muda o estilo, a alma e a cabeça aos 60 e poucos anos de idade.

A Primeira Servidora da Pátria, que pouco aparece porque trabalha muito, que fala só de vez em quando por dedicar-se em período integral aos interesses da nação, essa só existe na visão edulcorada da imprensa oficialista. Quem vê as coisas como as coisas são continua enxergando a autoritária vocacional que intimida em vez de persuadir, que se tranca no palácio por insegurança e que economiza declarações porque não tem nada de importante a dizer. A biografia de Dilma não exibe uma única ideia brilhante, uma tirada imaginosa, sequer alguma originalidade que merecesse registro em diários de debutantes.

Enfileiradas, as falas de Dilma Rousseff compõem uma procissão de platitudes, obviedades e miudezas. É um discurso sobre o nada pontuado por pitos. A presidente é a continuação da candidata. Oremos

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