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domingo, 26 de dezembro de 2010

Uma presidenta descartável.


De Guilherme Fiuza, na revista Época:

Dilma, o contratempo

Deu tudo certo no Plano Dilma, com exceção de uma palavra que anda incomodando seus artífices: Dilma.A prorrogação da DisneyLula em direção ao infinito está funcionando bem. A vitória eleitoral relativamente fácil renovou o oxigênio dessa formidável máquina de ocupação do Estado pelo exército de companheiros. O PT e seus sócios de vida fácil estão, porém, apreensivos com o futuro do paraíso estatal sem a mística do filho do Brasil. Inventar Dilma e colocá-la na Presidência foi uma jogada de mestre. O único inconveniente é que agora ela vai ter que governar. Serão quatro anos de exaustiva ginástica para não desmanchar o fetiche do Padre Cícero do ABC. Esse contratempo vinha sendo bem dissimulado nos três anos que Dilma passou em campanha eleitoral. Agora o PT rasgou a fantasia.

O porta-voz da sinceridade foi o escudeiro Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, escalado para manter a encarnação do chefe no palácio – agora como secretário-geral da presidenta. Perguntado sobre a possibilidade da volta de Lula ao posto em 2014, ele mandou às favas o teatro em torno do primeiro governo feminino do Brasil: “Num cenário de a Dilma fazer um governo bom, é evidente que ela vai à reeleição. Se houver dificuldades e ele (Lula) for a solução para a gente ter uma vitória, ele pode voltar.” É comovente o acesso de franqueza. Até os eufemismos habituais sobre um novo governo promissor, ou mesmo as evasivas sobre a impossibilidade de prever o futuro, sumiram de cena. Sem meias-palavras, o porta-voz do messias já fala abertamente em sua volta, mediante a hipótese de Dilma fazer besteira.

É antropologicamente interessante ver o discurso do triunfalismo feminista girar 180 graus para o pragmatismo fisiológico. Nunca é tarde para se dizer a verdade. Antes mesmo de largar o osso, Lula é lançado candidato para 2014 pelos companheiros que já cogitam as “dificuldades” do governo Dilma.O país assistirá a uma batalha interessante daqui para frente: a luta do fisiologismo contra o fisiologismo do B. Como é voraz, essa nova elite nacional.

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