22/10/2009
às 17:03
Outro trecho verdadeiramente sensacional, que precisa entrar para a história do jornalismo — tanto a das perguntas como a das respostas —, é este que segue. Não está na versão impressa. Só na online. Uma leitura distraída sugere a curiosidade implacável do jornalismo. Um minuto de reflexão, e estamos diante do horror. Leiam.
FOLHA - O sr. não teme a repercussão negativa entre os judeus do encontro com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad?
LULA - Muito pelo contrário. Não estou preocupado com judeus nem com árabes. Estou preocupado com a relação do estado brasileiro com o estado iraniano. Temos uma relação comercial, queremos ter uma relação política, e eu disse ao presidente Barack Obama (EUA), ao presidente Nicolas Sarkozy (França) e à primeira-ministra Angela Merkel (Alemanha) que a gente a não vai trazer o Irã para boas causas se a gente ficar encurralando ele na parede. É preciso criar espaços para conversar.
Comento
Entendi. Ahmadinejad é um problema dos judeus. Eles são os únicos que podem se incomodar com a presença do meliante no Brasil. Os que não são judeus não têm por que se ofender ou integrar a “repercussão negativa”. Trata-se de uma brutalização da inteligência como raramente se viu e se leu.
Afinal, o que foi que Ahmadinejad fez ou falou? Ah, ele nega que o Holocausto tenha existido. Se a única repercussão negativa a temer é a dos judeus, aprendemos mais uma lição: o Holocausto é um problema que só diz respeito a essas pessoas. O resto da humanidade não tem nada com isso. Ahmadinejad, como se nota, está vencendo a sua batalha intelectual.
A resposta também é muito boa. Indagado se “não teme a repercussão negativa entre os judeus” — a escolha do verbo “temer” aí merece uma boa reflexão… — Lula responde: “Muito pelo contrário”. O “contrário” de quê? Se for o contrário do verbo “temer”, então ele, na verdade, espera muito barulho — e, creio, não se deve decepcionar o presidente. Se for o contrário do adjetivo “negativa”, então ele deve esperar a repercussão positiva, não é? Os judeus o aplaudiriam por sua coragem.
Na seqüência, Lula diz não estar preocupado com judeus ou árabes — nesse caso, não teria mesmo por que se preocupar com árabes. Na cabeça de Lula, sempre que um judeu for ofendido, é preciso ver o que pensa um árabe a respeito… Muito sério, ele se ocupa das relações do Estado brasileiro etc e tal! Mas é mesmo um estadista! Um verdadeiro Chamberlain de Garanhuns! Um Daladier de São Bernardo. O que é, afinal, o Holocausto diante das necessidades do Estado brasileiro?
Só um problema de judeus. Na pergunta e na resposta!
Por Reinaldo Azevedo
quarta-feira, 28 de julho de 2010
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