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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Morrer por um copo dágua

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

[Asia Bibi] Cristã vai morrer por causa de um copo de água

Presa há dois anos, uma paquistanesa cristã foi condenada à morte por ter sede. Muçulmanos dizem que contaminou o poço de onde bebeu
Asia Bibi, foto: DR
Vera Moura
Devem estar mais de 45 graus ao meio-dia. As mulheres, alagadas em suor, estão de cócoras, a apanhar mirtilos. A tarefa é árdua – é preciso abrir caminho com os braços esticados entre as silvas e puxar os pequenos frutos vermelhos sem os esmagar. Encher um alguidar demora uma eternidade mas para Asia Bibi e as restantes 15 paquistanesas que naquele domingo de 14 de junho de 2009 saíram de casa muito cedo para ir apanhar bagas, vale bem o sacrifício: as 250 rupias (menos de dois euros) que recebem no final do dia são suficientes para comprar dois quilos de farinha e fazer chapatis durante uma semana.
Asia, camponesa da aldeia de Ittan Wali e mãe de cinco filhos, recebia uma bacia maior do que a das outras mulheres: no Paquistão é uma prática corrente os cristãos ganharem menos do que os muçulmanos pelo mesmo trabalho. Não reclamou. À hora do almoço, estava tão cansada que se dirigiu ao poço. Tirou um balde cheio de água, onde mergulhou o copo que estava pousado na borda. Bebeu goles grandes. Sentiu-se melhor. Bebeu mais um pouco, voltou a encher o copo e ofereceu-o a uma mulher que estava ao seu lado. Foi neste instante que a sua vida se transformou completamente.
Aasiya Noreen Bibi foi condenada à morte há dois anos. Está presa desde então, sem saber quando será cumprida a sentença. Não roubou nem matou ninguém. Mas, para a justiça do seu país, fez muito pior: é uma blasfema. O seu erro? Ter bebido água de um poço que pertencia a muçulmanas. Água bebida por uma cristã é considerada impura.
Activists of the Pakistani fundamentalist party Jamiat Talaba Islam protest last month in Karachi, carrying signs decrying blasphemers and chanting slogans against Asia Bibi, a Christian mother sentenced to death for blasphemy. Politicians and conservative clerics are at odds over whether President Asif Ali Zardari should pardon Asia Bibi, sentenced to hang for defaming the Prophet Muhammad. Photo: Rizwan Tabassum/AFP/Getty Images
Anne-Isabelle Tollet, jornalista do canal televisivo France 24, escreveu a história de Asia Bibi num livro lançado esta semana pela Alêtheia em Portugal. Nele, a paquistanesa cristã conta na primeira pessoa a tortura de que tem sido vítima na prisão; as visitas esporádicas do marido e do advogado; e a forma como as pessoas que ousaram defendê-la – o governador Salman Taseer e o ministro para as minorias Shah-baz Bhatti – foram brutalmente assassinadas.
Asia também descreve os raros momentos de esperança: como quando soube que o Papa Bento XVI pediu publicamente a sua libertação ou quando Hillary Clinton (que ela não fazia ideia de quem era) soube do seu causo. Até agora, não consegui mais do que adiar o enforcamento.
Texto: Vera Moura, revista “Sábado”, edição nº 384, de 8 a 14 de setembro de 2011


Leia mais:

Há três petições correndo o mundo em favor da católica Asia Bibi, condenada à morte no Paquistão por “blasfêmia” contra o islã.
Clicando aqui, você tem acesso a uma petição dirigida a Hillary Clinton, secretária de Estados dos EUA, e ao embaixador do Paquistão no país. Neste link, há outra para a Susan Rice, representante americana na ONU. E há uma para o povo e os líderes paquistaneses.
Seguem os três endereços por extenso para facilitar a divulgação.

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