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sábado, 18 de setembro de 2010

Nomeado por Erenice, diretor dos Correios se une a argentino misterioso, para controlar transporte aéreo, projeto que tem apoio do governo Lula

18/09/2010
às 20:42

Vamos lá, leitor. Tente não perder o fio da meada:


1 - No sábado passado,VEJA publicou uma reportagem demonstrando que Israel Guerra, filho de Erenice, fez lobby para que a Anac renovasse a licença da empresa MTA para que ela trabalhasse para os Correios;
2 - A revista informava também que, numa demonstração de força, foi Erenice quem nomeou Eduardo Artur Rodrigues diretor de Operação dos Correios;
3 - E quem era Rodrigues? Nada menos do que o testa-de-ferro da MTA: o homem passou a ser, ao mesmo tempo, o contratado e o contratante;
4 - ATENÇÃO: Lula e os petistas querem transformar a MTA no núcleo de uma grande empresa de logística;
5 - O Jornal Nacional passou três dias procurando a sede da MTA no Brasil. Sem sucesso!;
6 - Reportagem no Estadão deste domingo prova que, contrariando as leis brasileiras, a MTA não é uma empresa de capital nacional. Rodrigues, nomeado por Erenice, é só um testa-de-ferro de um misterioso argentino. Leiam a reportagem do Estadão deste domingo. É de estarrecer.

Por Leandro Colon:
O diretor de Operações dos Correios, coronel Eduardo Artur Rodrigues, que assumiu o cargo em 2 de agosto numa “reformulação administrativa” comandada pela ex-ministra-chefe Erenice Guerra, é testa de ferro do empresário argentino Alfonso Conrado Rey. Alfonso, que mora em Miami, é o verdadeiro dono da empresa Master Top Linhas Aéreas (MTA).

Ex-coronel da Aeronáutica, Rodrigues faz parte de um grupo de executivos e advogados que tem uma rede de empresas de fachada espalhadas pelo Uruguai, EUA e Brasil. Eles movimentam dinheiro para um casal de laranjas brasileiros, como provam documentos do Banco Central e trabalham para fazer da MTA o embrião da empresa de logística e carga aérea que o governo Lula promete criar após as eleições. O negócio atiça os empresários porque os Correios pretendem comprar dessas empresas aéreas os aviões da nova estatal.

O Estado teve acesso e juntou documentos da Justiça e do Banco Central e da própria MTA que revelam o papel duplo do diretor dos Correios e ajudam a entender como a empresa já abocanhou R$ 60 milhões em contratos públicos. A MTA ganhou as manchetes nas últimas semanas por causa do tráfico de influência de Israel Guerra, filho da ministra Erenice, a seu favor. A ministra caiu na quinta-feira, depois de a revista Veja ter revelado que Israel intermediou junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a devolução da certificação de voo da MTA, que fora suspensa.

Os documentos mostram que o coronel Artur envolveu-se pessoalmente no esquema montado para a empresa MTA funcionar no Brasil. Era, inclusive, consultado sobre decisões a serem tomadas. A legislação brasileira é clara: o capital estrangeiro não pode superar 20% em empresas aéreas. Para viabilizar a MTA com recursos externos e driblar autoridades, foi criada, de 2005 para cá, a tal rede com pelo menos seis empresas de fachada com sede em apenas dois endereços: um em Campinas e outro em Montevidéu, no Uruguai.

Em outra ponta, sustenta o esquema um grupo de empresas com sede nos EUA, ligadas ao argentino Alfonso Conrado Rey. Ele é o dono do grupo norte-americano Centurion Cargo, que é quem movimenta o dinheiro e fornece os aviões da MTA.

Resumindo: é tudo a mesma coisa, e bancado com dinheiro externo. Quem aluga o avião para a MTA é o dono da MTA e quem “empresta” os dólares que chegam de fora é a própria empresa.

Dono oculto da MTA fora do Brasil, Alfonso Rey esteve em Brasília em para prestigiar a posse do coronel Artur como diretor de Operações dos Correios. Até pouco antes de assumir essa diretoria, o coronel dirigia a MTA no País. Agora, o diretor é o peruano Orestes Romero, mas, no papel, os ex-sogros da filha do diretor dos Correios, Tatiana Silva Blanco, são os donos, como “laranjas”. O “casal de Ipanema”, Anna Rosa Pepe Blanco Craddock e Jorge Augusto Dale Craddock, como é conhecida a dupla de “laranjas” da MTA, mora no Rio e não entende nada de transporte aéreo de carga.

O uso do casal como “laranja” fica evidente pelos documentos do BC, pois, além da MTA, são eles que “recebem” os empréstimos milionários, em dólares, remetidos do Uruguai para a MTA. Os papeis do BC, obtidos pelo Estado na sexta-feira, mostram como os dólares são movimentados. No mês passado, a MTA simulou empréstimo de US$ 2,5 milhões junto à Viameral Sociedad Anônima, com sede na Avenida 18 de Julho, 878, em Montevidéu, repetindo transações semelhantes ocorridas desde 2006, quando entraram pelo menos outros US$ 2 milhões. Só que essa empresa uruguaia não existe na prática. Sua filial no Brasil, a Viameral Participações, fica no mesmo endereço da MTA em Campinas. Na “sede”, em Montevidéu, funciona ainda a Deadulus Aviation Financing, matriz da “campineira” Deada Investimentos Ltda, outra companheira de sede da MTA.

Coincidentemente, no mesmo endereço uruguaio estão registradas a DC-Quatro Cargo S.A e a CD-Cinco Pax, que alugam os aviões para a MTA funcionar no Brasil. É o que revelam os contratos assinados no Uruguai e obtidos pela reportagem nos autos de um processo na Justiça brasileira. Segundo a Junta Comercial de São Paulo, os advogados da MTA, Marcos de Carvalho Pagliaro e Bruno Fagundes Vianna, são os procuradores das empresas de Campinas que não existem.

Além do peruano Orestes Romero, os negócios da MTA no Brasil são hoje dirigidos pelo advogado argentino Eduardo Galasio e o brasileiro Fernando Barbosa, amigo do diretor dos Correios. Todos são homens de confiança de Alfonso Rey.

Em e-mail enviado aos operadores da MTA no Brasil em 6 de abril, Galasio informa que já consultou o coronel Artur sobre possíveis mudanças na sociedade da MTA para que saia tudo planejado em nome da propriedade de Alfonso Rey. “Hoje falei com coronel Artur e confirmo que devemos efetuar tudo como havíamos planejado ou seja com todos os documentos que garantissem ao Alfonso a propriedade e o controle da MTA”, disse.

Então consultora da MTA, Tatiana, a filha do coronel Artur, é copiada na mensagem. Em outro e-mail, de 2 de março, ela é alertada sobre os documentos de possíveis mudanças no quadro societário, tratadas como “saída dos Craddock”.

Por Reinaldo Azevedo

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