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domingo, 7 de novembro de 2010

Se os fantasmas falassem...

A indiligente Erenice, o ferido Tuma e o trapalhão Amaury dominaram a campanha eleitoral. O que eles ainda podem falar assombrará muita gente por muito tempo

Gustavo Ribeiro

A edição de VEJA da semana passada revelou como o ministério mais tradicional da República, o da Justiça, foi reduzido a um aparelho partidário a serviço dos interesses eleitorais do PT. Através de conversas gravadas legalmente, soube-se que o atual secretário nacional de Justiça, Pedro Abramovay, sofria pressões para confeccionar dossiês contra adversários do governo a pedido da ex-ministra Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência, e de Gilberto Carvalho, o chefe de gabinete do presidente Lula. Os diálogos mostraram também que o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, não se sentia a vontade diante de seu principal subordinado, o diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Alem de reclamar do fato de o subordinado desrespeitar a hierarquia, despachando direto no Palácio do Planalto, o ministro fala da íntima suspeita de que estaria sendo alvo de espionagem por parte da própria PF. Indagado sobre o assumo, Luiz Paulo preferiu não comentar. O presidente Lula disse que não leu a reportagem. Dilma Rousseff informou que "negava terminantemente esse tipo de conversa na véspera da eleição”. O caso só não foi considerado encerrado, como reza o script oficial para situações assim, porque um dos interlocutores das conversas comprometedoras, o ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior, confirmou o teor dos diálogos.

Em entrevista a VEJA, Tuma Júnior reafirmou ter ouvido mais de uma vez da boca do próprio Pedro Abramovay reclamações sobre os constantes pedidos de dossiês e investigações contra adversários do governo. "Ele parecia muito preocupado e falava em tom de desabafo. Foi assim, nessa circunstância, que ele (Abramovay) comentou que quase chegou a ser preso como um dos aloprados no escândalo de 2006", recorda Tuma Júnior. Na terça-feira, o PPS entrou com uma representação na Procuradoria-Geral da República para investigar o caso. "Além de deplorável a prática, por si só, agrava a situação o fato consubstanciado na utilização da estrutura estatal em proveito de interesses particulares ilegítimos, interesses partidários de manutenção de Poder", diz a representação assinada pelo deputado Raul Jungmann.

Na reação oficial as revelações de VEJA, chama atenção um detalhe. Em casos assim, a cartilha petista de defesa recomenda que os envolvidos e seus porta-vozes desqualifiquem a testemunha na tentativa de, assim, desqualificar a própria informação. Por que Romeu Tuma Júnior foi poupado e um enigma - apenas parcial, mas ainda um enigma. Ex-secretário nacional de Justiça, Tuma deixou o cargo em junho, depois que foram divulgadas denúncias de que teria relações impróprias com os chefes de máfia chinesa especializada em contrabando - denúncias essas que foram arquivadas pela Polícia Federal, por falta de provas. "Fui defenestrado porque contrariei imeresses escusos de pessoas poderosas. Mas tenho tudo bem documentado", disse Tuma a VEJA. É assustadora a hipótese de que ele tenha sido poupado dos sempre tão bem coordenados ataques petistas por ter provas do que afirmou acima. Que "interesses escusos" são esses que foram contrariados? E por que razão os patronos desses "interesses escusos" teriam tido força para desalojar do cargo um secretário nacional de Justiça? O desenrolar do episódio promete produzir capítulos interessantes.

Também está longe de se encerrar o caso Erenice Guerra, a ex-escudeira de Dilma Rousseff, sobre quem repórteres de VEJA descobriram evidências desabonadoras fortes o suficiente para afastá-la do cargo e levá-la a se explicar a polícia. A ex-ministra foi demitida da Casa Civil depois que uma reportagem de VEJA revelou que ela tinha deixado sua repartição se transformar em um balcão de negócios para atender a interesses pecuniários de sua família e do PT. No primeiro momento, Erenice negou ter participado de qualquer irregularidade. Na semana passada, confrontada com os fatos, a ex-ministra recuou, e confirmou a Polícia Federal ter tido encontros com empresários interessados em fazer negócios com o governo, todos arregimentados pelos seus filhos em troca de milionárias "taxas de sucesso". Os depoimentos da ex-ministra a PF ficaram aquém de admitir que os encontros visavam a vender facilidades para os empresários que deles participaram. Ficaram, portanto, aquém de revelar detalhes de fatos cujos resultados são notórios e que só poderiam ter sido produzidos caso os encontros fossem pelo menos em parte conduzidos em um clima nada republicano.

Aos fantasmas Tuma Júnior e Erenice se junta outro abantesma, o enfatuado ex-jornalista Amaury Ribeiro Jr., o espião trapalhão que contratou serviços ilegais de compra de dados sigilosos da Receita Federal, pagando com dinheiro vivo. Contratado pela campanha petista para bisbilhotar a vida de familiares e amigos do tucano José Serra, Amaury foi indiciado pela Polícia Federal por quebra de sigilo fiscal, corrupção ativa, falsidade ideológica e suborno de testemunha. O aprendiz de araponga deu dinheiro ao despachante que contratara em troca do silêncio do vigarista a respeito do trabalho encomendado. Amaury ainda pode revelar de quem recebeu dinheiro vivo para financiar suas aventuras amadorísticas no submundo do crime. Fala, Amaury! Fala, Erenice! Fala, Tuma!

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