ARNALDO JABOR
"Sem nós, ela não faz nada! Não pensem vocês que estamos de brincadeira. Demos um tempo no ‘blocão’ para não assustar a madame ainda, mas qualquer coisa a gente volta a ter 202 deputados, no mínimo, na Câmara. Estes soviéticos não aprendem... Tentaram enrolar o PTB, logo com quem - o cobra-criada Jefferson, que os botou para correr.
E, agora, acham que vamos topar outro petebista mandando na Comissão Mista do Orçamento, como quer d. Dilma? Aquele Gim Argello, que não foi nem eleito, lugar tenente do Roriz? Sei que o plano da presidente (a) é combater nosso excesso de poder; sei que ela quer, ‘homeopaticamente’, desfazer nossos esquemas (que chamam de ‘corrupção’...) com mais ‘corrupção’ (‘similia similibus curantur’ - sei latim, meu filho). Não adianta... a gente coopta quem aparecer, principalmente esse aí que nem foi eleito, lá do buraco do Roriz...) e, se bobear, fazemos novo ‘blocão’, pois, além dos ‘nanicos’, nós temos os grandes mestres, os faixas-pretas do país: Sarney, o eterno, Renan, Jucá, o impalpável Eduardo Cunha, tantos... Eles sabem nos comandar, eles sabem o que querem... E tem mais: agora, estamos no Executivo...
Nosso comandante Temer conquistou a posição ideal que sempre almejamos: a vice-presidência. O vice é tudo. O presidente é alvo, o vice pula de lado e escapa das flechas. O presidente é culpado e o vice, observador isento. E o Temer não é o tipo de vice que ‘não aporrinha’, como quis o Serra; nós aporrinharemos, sim.
Esses comunas pensam que a gente é babaca. São séculos de aprendizado. O PMDB é uma das mais belas florações de nossa história.
Temos interesses, claro. Queremos cargos, muitos cargos e, no mínimo, seis ministérios importantes porque, sem nós, não tem comuna que se dê bem.
Não é assim que essa tigrada do PT fala: os fins justificam os meios? Pois é, nós somos os meios. No entanto, meu caro, os fins são deformados pelos meios e de ‘meios’ acabaremos sendo ‘fins’. Viu como sou profundo? Não há casamento sem interesse. É belo e progressista o interesse. O desprendimento, a honestidade alardeada, é hipocrisia de teóricos.
E nossos fins são sábios, experientes; são frutos de uma grande tradição brasileira que os maldosos chamam de ‘corrupção’, quando são hábitos incrustados em nossa vida como a cana, o forró, a obediência dos filhos que seguem nosso exemplo, nossos bigodes, que chamam de bregas, as ancas das amantes risonhas com joias de ouro tilintando em pescoços e pulsos, diante da palidez infeliz de nossas esposas... Vocês não entendem que isso é a cara do país? Vocês reclamam de nossa voracidade. E os milhares de famintos que invadiram o batatal do poder para comer tudo, os ex-pelegos hoje de gravata?
O PMDB é um exército de amigos unidos - qual o mal? Admire a beleza superior desse imenso patrimônio espiritual que nós possuímos, tanto em nosso partido como nas alas aliadas. É uma beleza feita de amizades, famílias amplas, burocratas cooperativos. E tem mais: nós do PMDB temos um projeto, sim, para este país... Um projeto muito mais pragmático, mais progressista que esses dogmas de 1917 do Dirceu e outros - abstrações ridículas como ‘igualdade’, ‘controle social’ , ‘comitês centrais’, ‘palavras de ordem’.
Nosso projeto é mais Brasil... ‘São coisas nossas, muito nossas...’, como cantou o Noel. Nosso projeto é uma girândola de malandragens, de negociatas que deixam cair pelas brechas, pelas frestas das maracutaias, migalhas de progresso. É isso: tudo que houve de bom no país foi fruto de malandragens no encontro entre o privado e o público.
Não, cara, não há corrupção no PMDB - trata-se apenas da continuação de um processo histórico. O dinheiro que arrecadamos em emendas do orçamento, em gorjetas justas de empresas e burocratas, esse dinheiro sempre foi a mola do crescimento do país.
Haveria Brasília sem ela? Onde estaríamos nós - na roça de um país agropastoril? Essa é a eterna verdade desde a Colônia, tão eterna quanto a miséria que sempre haverá. Querem o quê? Que fiquemos magros também, que dividamos nossas conquistas com os que nada têm, querem socializar a miséria? Quando eu faço uma piscina azul em meio à seca, não é crueldade, porque é preciso que alguém tenha piscina na caatinga para que a dor dos miseráveis seja suportável. A vida do pobre ganha um sentido hierárquico: ele está embaixo, mas se consola porque alguém vive feliz em cima.
De modo que não nos venham com papos de inclusão social. Ademais, é impossível salvá-los (como alguns poucos ainda pensam no PT). São 40 milhões de pobres chocados em quatro séculos de tradição patrimonialista da boa. Vocês verão que isso é natural, a natural ‘survival for the fittest’ (‘sobrevivência do mais forte’, como bem traduziu meu filho do MIT)...
Vamos olhar para a outra face da beleza: a alegria de ver a grande arte dos lucros fabulosos, as mandíbulas salivando a cada grande negócio fechado, o encanto dos shoppings de luxo, as velozes paixões dos cartões de crédito, o eufórico alarido dos restaurantes, os roncos de jetskis à beira mar, os gemidos das amantes no cetim, a euforia dos almoços de conchavos... Tudo isso doura o nosso progresso.
A classe dominante deste país é uma grande família, unida por laços de amizade total, mesmo que definhe sob nossos pés a massa de escravos em seus escuros mundos.
Nós somos muito mais o Brasil profundo do que esse bando de comunas que chegaram aí, com um sarapatel de ideias feitas por um leninismo mal lido e um getulismo tardio...
No entanto, sou otimista - acho, sim, que a aliança PT-PMDB poderá ser doce e linda. Mas, do nosso jeito. Tudo bem que censurem a imprensa e coisas menores (é até prático para nós...), mas, na infraestrutura de nosso passado de donatários, ninguém toca. Temos no peito o orgulho de proteger a sobrevivência da linda tradição de nossa colonização portuguesa.
O PMDB é a salvação da democracia; suja, mas muito nossa".
terça-feira, 23 de novembro de 2010
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