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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

às 17:25 \ Direto ao Ponto - Por Augusto Nunes

04/11/2010

O ovo da serpente não resiste à claridade

Num dos intervalos do Roda Viva desta segunda-feira, traindo no rosto crispado a irritação com as perguntas dos jornalistas, o entrevistado olhou para o chão do estúdio e fez o comentário que os espectadores da TV Cultura mereciam ter ouvido:

─ Zé Dirceu… Zé Dirceu… Já tô cansado desse personagem ─ disse a voz em surdina.

Para escapar do castigo merecidíssimo, o mineiro José Dirceu de Oliveira e Silva, nascido em Passa Quatro há 64 anos, resolveu debitar os incontáveis pecados que cometeu na conta de um personagem inventado pela mídia reacionária e pela elite golpista. Chama-se Zé Dirceu, é perseguido desde o berço e, por representar uma grave ameaça ao sistema capitalista, os inimigos fingem não entender que é um inocente.

A dupla identidade é só mais um sintoma de esquizofrenia malandra. José Dirceu de Oliveira e Silva e Zé Dirceu são uma coisa só ─ uma usina de culpas no cartório, que nega ter protagonizado sequer uma contravenção de trânsito com a placidez de estelionatário aposentado. Nega até ter dito o que está registrado em vídeo, como fez quando entrou em pauta, durante o Roda Viva, o episódio da agressão sofrida pelo governador Mário Covas em 1° de junho de 2000.

“Não usei a expressão”, afirmou o entrevistado ao ser convidado a explicar a frase beligerante pronunciada em 25 de maio daquele ano: “Eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas”. Com assombroso cinismo, jurou que não disse o que disse. “Não usei a expressão”, garantiu, agarrado à versão de que só pregou a surra nas urnas. O vídeo reproduz a mentira na TV Cultura, o comício em que fez a celebração da violência e imagens do obsceno ataque a Mário Covas, já visivelmente em luta contra o câncer. A agressão ocorreu uma semana depois do discurso de Dirceu.

Respeito a opinião dos leitores que criticam o espaço concedido a tal figura por uma TV pública. Mas discordo veementemente. Como atesta a reação histérica dos devotos do ministro despejado da Casa Civil, é ele o chefe, o símbolo e o heroi das milícias do PT. É preciso mostrar-lhes que jornalistas independentes não temem guerrilheiros de araque. É preciso deixar claro que quem enfrenta uma tropa comandada por Dirceu só corre o risco de morrer de rir.

Se o entrevistado quis usar os holofotes para destacar-se no palco, teve uma péssima ideia. Como informa a reportagem reproduzida na Feira Livre, o governo federal e o PT consideraram desastrosa a aparição do companheiro definitivamente associado ao escândalo do mensalão. O Roda Viva não exibiu o monólogo de um farsante. Documentou um confronto entre a verdade e a mentira. E a verdade sempre prevalece.

O ovo da serpente é chocado nas sombras, longe dos olhos dos ameaçados. Não resiste à claridade. Se não o destroi de imediato, a luz ilumina e identifica o perigo a eliminar.


03/11/2010

às 17:02 \ Direto ao Ponto

O guerrilheiro de festim fuzila a verdade

biografia do companheiro José Dirceu é constantemente redesenhada pelo oportunismo crônico. Conforme as circunstâncias e conveniências, jura ter feito o que nunca fez ou nega ter sido o que foi. Ao ser despejado da Casa Civil, por exemplo, exumou o guerrilheiro que só atirou com balas de festim para apresentar-se como “camarada de armas” de Dilma Rousseff. No Roda Viva desta segunda-feira, convidado a justificar a guerra movida ao presidente Fernando Henrique Cardoso quando foi deputado federal, declamou a resposta espantosa: “Eu não era deputado no governo Fernando Henrique”.

Sem ficar ruborizado, acrescentou que se elegeu em 1978. Só se foi eleito Comerciário do Ano de Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná, onde se limitou a enfrentar a freguesia entrincheirado na caixa registradora do Magazine do Homem, com identidade falsa, entre 1973 e a decretação da anistia. Ele chegou ao Congresso em 1998, informa o próprio blog do entrevistado. Nos quatro anos anteriores, instalado na presidência do PT, comandara a distância as incontáveis manobras destinadas a abortar todos os projetos originários do Planalto. Nos quatro anos seguintes, sempre à beira de um ataque de nervos, lideraria a mais raivosa tropa oposicionista da história republicana.

A menos que um gêmeo univitelino tenha exercido o mandato e circulado pela Câmara com o nome do irmão, as fotos que ilustram o texto comprovam que o ex-deputado federal é capaz até de negar que foi deputado federal. Como se verá nos próximos posts, Dirceu fuzilou reiteradamente a verdade em duas horas de programa. Melhor ignorar o que diz.

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