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terça-feira, 9 de agosto de 2011

A oportuna análise dos Currículos Militares


Por portaria do Ministério da Defesa, um Grupo de Trabalho Interministerial foi criado para analisar e apresentar propostas de aperfeiçoamento nos currículos militares.

A notícia é preocupante. É lamentar ou deplorar, difícil escolha.

A análise, que implicará em propostas e mudanças nos currículos, poderia ser interpretada como um grande passo. Contudo, tememos que tal estudo, no quadro de subordinação e subserviência total atual, seja a deixa para a sonhada lavagem cerebral.

Desde que cursamos as Escolas Militares, fomos evoluindo do rastejo ao míssil teleguiado, passamos pelas aulas de Direito, que destacaram os nossos deveres e sacralizaram os direitos dos outros.

Ah, os outros, pobres diabos. Amparados por suas convicções e desejos, sempre devem contar com a nossa religiosa boa vontade. Se mataram ou feriram, foi por um ideal. Nós, de safadeza.

Nas Escolas de Capitães, a base era a operacionalidade. Sobe no morro, se assenta no PO, visualiza via de acesso, planeja os suprimentos, e assim por diante. Com o novo currículo, o que orientará aqueles profissionais? Filosofia? Sociologia? Psicologia? Direitos Humanos?

Nos Altos Estudos, baniram a Guerra Revolucionária. O enfoque, quem sabe? O estudo da estratégia era primordial. Na prática, o judicioso emprego dos meios. Que meios? Talvez, o pretendido seja apreender as motivações do outro lado, e concluir que eles tinham razão?

No Grupo de Trabalho, diversos representantes, na maioria militares. E daí? Lá, estarão os representantes do MD e da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, e como sabemos um daqueles vale por uma horda de milicos. Além disso, no § 3º o GTI poderá convidar para participar das discussões, representantes de outros órgãos e entidades, inclusive especialistas nacionais.

É ingênuo acreditar que os outros estejam preocupados com o currículo profissional das Escolas Militares, com o incremento da capacidade, com o aprimoramento do combatente, mas com o seu pensamento, com as suas peculiaridades, com o Idealismo, com o Patriotismo, com o Amor à Profissão, com o Espírito de Corpo, enfim, com os Valores que embasam a Identidade das Forças Armadas.

Com a falta de armamentos e equipamentos adequados, o macete é o adestramento com tacape, estágios como serviçal no MRE, cursos de oratória para convencer o inimigo que “eu só estava passando por aqui”, rever a tática dos hoplitas da Grécia antiga, o manuseio das lanças de grande comprimento, a camuflagem escrachada, treinar a negativa veemente no sentido de confundir quando aprisionado, decorar os mandamentos dos direitos humanos.

Até esta data, as Forças Armadas permaneceram às margens da esbórnia que se espraia por toda a Nação. Os princípios básicos, como a Disciplina e a Hierarquia, estavam resguardados de modismos de governichos, e incólumes às corrupções.

Todos os pilares que mantêm de pé as Instituições Militares, na adversidade, nas vicissitudes, parâmetros que sustentam a sua credibilidade poderão correr sérios riscos se convencidas da necessidade de mudanças, que num primeiro momento surgem como meras alterações, necessárias melhorias, mas que poderão macular os referenciais fixos, imutáveis e universais, que as sedimentam e concorrem para a sua eficiência e eficácia, e a sua sobrevivência. Portanto, uma proposta de revisão curricular deve ser vista como uma perigosa brecha, quiçá ideológica.

Por isso que as Instituições Militares sejam avassaladoras na escolha de seus representantes, selecionem o suprassumo de seus profissionais de ensino. Enviem sempre o dobro de representantes, se era um, mandem dois ou três. Aqueles, se não concordarem com as sugestões e propostas, que sejam irredutíveis, não concordem, repudiem.

Não sabemos quem deu a ideia da revisão curricular, se as Instituições Militares, muito bem, mas não permitam interferências externas, pois lembrem - se que os militares brasileiros são respeitados e admirados em todos os graus hierárquicos pelo seu profissionalismo e pelo seu nível intelectual, no Brasil e no exterior.

Que os céus se apiedem de nós, se estivermos vendo chifre em sapo ou dos senhores, chefes militares, se tivermos um mínimo de razão.

Brasília, DF, 09 de agosto de 2011.

Gen. Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo Pereira

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