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terça-feira, 22 de maio de 2012


STALIN, OS JUDEUS E ISRAEL:

HIPOCRISIA, DECEPÇÃO E VINGANÇA I [1]

HEITOR DE PAOLA

10/05/2012

Com as declaradas intenções nazistas de exterminar os judeus, Stalin, ele mesmo antissemita, aproveitou para mostrar-se como campeão da defesa dos judeus e outras minorias. A fábrica de mentiras comunista criou o mito de que o Pacto Molotov-Ribbentropp era uma saída stalinista para salvar a URSS e o comunismo da “reação capitalista anti-revolucionária representada pelo nazismo”, e não o que realmente era: a continuação lógica da aliança com a Alemanha na conquista e destruição dos países livres da Europa ocidental [2]. Hitler seria apenas a ponta de lança da ofensiva e para tal Stalin implicitamente endossou a política de extermínio judaico. Substituiu Máxim Lítvinov, nascido Meir Henoch Mojszewicz Wallach-Finkelstein, um judeu de rica família de banqueiros de Bialystock, da função de Comissário do Povo para Assuntos Exteriores, que exercia desde 1930, por Vyácheslav Mikháilovich Mólotov. Este não era judeu e não ofenderia aos aliados nazistas que dificilmente aceitariam um como negociador. Mólotov foi um dos signatários da resolução do Politbüro autorizando o massacre de Katyn (atribuindo posteriormente as mortes aos nazistas) e liderou pessoalmente a Comissão Extraordinária para a Expropriação de Grãos na Ucrânia que se apossou de 4,2 milhões de toneladas levando os camponeses ucranianos à escassez abrupta e à fome (conhecido como Holodomor, o Holocausto Ucraniano).

Na época do Holodomor a NKVD (antecessora do KGB) possuía 40% de judeus entre seus membros, sendo que mais da metade – 54% - dos Generais [3]. Os judeus eram a única minoria étnica super-representada na NKVD no final do Grande Terror. Em 1936 a representação dos judeus no aparato central da NKVD em Moscou era de 64% e na Ucrânia Soviética 67%.

A possível explicação para isto eram os pogroms do período tzarista, principalmente por parte dos Kossacos na Ukrania, e durante a guerra civil o fato de que o exército Branco era ostensivamente judeofóbico enquanto o Vermelho era comandado por um judeu, Leon Trotsky, nascido Lev Davidóvitch Bronstein. Era natural que os judeus vissem o estado soviético como protetor.

A URSS se beneficiou enormemente das violências públicas na Alemanha nazista encorajando a Frente Popular, comandada pelo Partido Comunista (KPD - Kommunist Partei Deutschland) e o Front Populaire francês a mostrá-la como protetora das minorias étnicas europeias.

O Grande Terror foi uma terceira revolução soviética: a de 17 mudou o sistema político, a coletivização forçada pós 1930 mudou o sistema econômico e o Terror de 37-38 significou uma revolução mental, destruindo grande parte das teorias marxistas e leninistas.

Stalin se aproveitou desta grande participação judia para por a culpa nos judeus. Ao final do Grande Terror, em 1938, apenas 20% da NKVD eram da minoria judaica e um ano depois não mais de 4%. Todos foram mortos a começar pelos líderes Izrail Leplevskii, Lev Raikhman e Boris Berman.

Stalin começava a mostrar suas garras antissemitas que o levariam a novos expurgos. Mas a hipocrisia ainda não chegara ao seu fim. Veremos na próxima parte.


(SEGUE: Stalin e a fundação do Estado de Israel).
STALIN, OS JUDEUS E ISRAEL II
 

 
HIPOCRISIA, DECEPÇÃO E VINGANÇA II
Stalin e as repercussões de Yom HaAtzmaut [i][1]
HEITOR DE PAOLA

20/06/2012

Él término anti-semitismo fué acuñado por el pensador alemán Wilhelm Marr para amparar uma ideologia que propugna la inferioridad y malignidad de los judíos

SERGIO VICH SÁEZ

Las semillas del ódio – Europa desata el terror, Revista Historia y Vida, nº 520

O final da guerra e o conhecimento do horror do Holocausto Judeu (Shoah) fez renascer esperanças, mas a volta dos sobreviventes aos seus antigos lares não foi fácil. A judeofobia continuava dominante em muitos países, como na URSS e na Polônia. Seus bens tinham agora novos donos que resistiram a lhes devolver, provocando longos e penosos processos judiciais geralmente mal resolvidos para os judeus. Para muitos a opção sionista esboçada de forma ambígua por Lord Balfour, por insistência de Theodor Herzl, parecia a mais viável. A Declaração Balfour não falava da criação de uma pátria judia, mas sim de um lugar onde poderiam regular sua convivência com as comunidades não-judias da área.

A ambigüidade levou a que as próprias autoridades britânicas, signatárias do Tratado se Sèvres, impedissem o desembarque de navios de refugiados que eram internados em campos provisórios em Chipre, numa forma mais benigna, mas não menos humilhantes que os campos de concentração.

Em mais uma medida obscura, a resolução da ONU ordenou a partição da região de um estado judeu e outro árabe, reforçando o anti-semitismo muçulmano. Os árabes trataram logo de mandar contingentes de egípcios, jordanianos, libaneses e outros para ocupar a terra, criando do nada um mitológico povo “palestino” que juraram defender contra a “entidade sionista”. Até hoje este é o nome oficioso de Israel para os muçulmanos, grande parte culpa da ambiguidade e obscuridade das Declarações e Resoluções mencionadas acima.

Stalin percebeu a chance de se opor ao imperialismo britânico na região criando um estado comunista. Certamente a maioria dos primeiros colonos judeus era socialista e de dedicaram a incrementar um sistema que já existia há décadas nas áreas rurais, uma economia baseada exclusivamente no cooperativismo e na divisão igualitária do trabalho e dos bens: os kibutzim. Estes primeiros colonizadores acreditavam ter uma grande gratidão com a liberdade com que exerceram suas atividades na URSS, inclusive com o apoio dado por Stalin ao Comitê Judeu Anti-Fascista e o grande número de judeus aceitos em altos cargos soviéticos, inclusive na NKVD como vimos no artigo anterior. O segundo homem do regime, considerado por anos como o virtual sucessor de Stalin, Lázar Káganovitch, conhecido com “o lobo do Kremlin” ou “Lázar de ferro”, era judeu. Participara, junto com Mólotov na Conferência do Partido para Toda a Ucrânia em 1930 onde se determinaram as tarefas de implementação da política de coletivização forçada (1932-33) que causou o Holodomor. Supervisionou pessoalmente o confisco de grãos. Políticas similares foram infligidas às Repúblicas Centrais Soviéticas, como o Cazaquistão, Kuban, Criméia e baixo Volga.

A participação de judeus até no Comitê Central (5 de 210 membros) e a ajuda inicial da URSS na fundação do Estado de Israel, o treinamento de soldados na Polônia comunista, o envio de armas tchecas para a lutar contra os invasores árabes e o fornecimento de víveres enganou os primeiros colonizadores de ter na URSS e nos seus satélites da Cortina de Ferro amigos fiéis e duráveis. Não se deram conta de que Stalin apenas perseguia uma estratégia de dominação do Oriente Médio, pois inicialmente os países árabes recém-descolonizados foram dirigidos por governos títeres do Ocidente.

Naqueles tempos iniciais mais judeus viviam na URSS do que em Israel. Os russos, Judeus ou não, parecem ter adorado a carismática embaixadora Golda Meir, nascida em Kiev. O Rosh Hashanah foi naquele ano uma das festas mais concorridas de Moscou nos últimos vinte anos. Poliina Zhiemchuzhina, mulher de Mólotov encorajou Golda a voltar a frequentar a Sinagoga e as tradições religiosas e, falando em Yiddish sugeriu a unidade nacional Judia sem fronteiras. Ekatierina Gorbman, mulher de Klímient Voróshilov exclamou: “Agora nós também temos nossa própria Terra Natal”.

A pergunta que Stalin se fez era se devia continuar apoiando Israel contra o Ocidente, ou se o estabelecimento de uma Pátria para ser considerada sua colocava em risco a lealdade dos judeus soviéticos para com a URSS e deveria ser não apoiada, mas temida. No final de 1948 decidiu que os judeus estavam influenciando mais o estado Soviético do que este conseguia influenciar o estado Judeu.                  

Em 1948 e início de 49 começaram as medidas antissemitas na URSS: acabara-se o efeito da hipocrisia stalinista, veio a decepção e, como não poderia deixar de ser numa personalidade cruel, totalitária, que não aceitava decepções mesmo de seus mais próximos colaboradores – por isso os grandes expurgos na cúpula civil e militar dos anos 30, surgiu a vingança!

(SEGUE: Stalin e o desencadeamento do antissemitismo interno e do antissionismo).

STALIN, OS JUDEUS E ISRAEL III
 

 
Decepção e vingança: a repressão interna e o antissionismo

HEITOR DE PAOLA

21/06/2012

A lo largo de los siglos, aquellas antiguas tribus hebreas iban a resisitirse a todo intento foráneo de asimilación. Su obstinación les granjeó muchos enemigos

SERGIO VICH SÁEZ

Las semillas del ódio – Europa desata el terror, Revista Historia y Vida, nº 520

Não obstante tenha havido – e ainda haja - coincidência ideológica de muitos judeus com o comunismo, mais uma vez as “tribos hebréias” não se deixaram assimilar pelo stalinismo. E agora tinham uma terra para orgulhosamente chamar de sua! Às identidades étnicas, culturais e religiosas, somava-se agora a identidade Pátria. Não só identidades, mas principalmente solidariedades e sentimento de irmandade. Um povo que durante milênios foi afastado de sua terra, rapidamente mostrou que mesmo em diáspora continuou sendo uma poderosa Nação.

Foi demais para Stalin – e continua sendo para supostos aliados ocidentais, como veremos no próximo artigo.

Na verdade, a repressão stalinista começou antes da fundação de Israel. Já em janeiro de 48, Solomon Mikhoels, Chairman do Comitê Judeu Antifascista e Diretor do Teatro Yiddish de Moscou, foi brutalmente assassinado em Minsk por ordem direta de Stalin [ii][1] a Lavrienty Tsárvana, chefe da polícia Bielorrussa. Mikhoels estava lá para julgar uma peça para o Prêmio Stalin de Teatro. Como ele escrevia uma história dos partisans judeus que lutaram contra a Wermacht e o Livro Negro do Judaísmo Soviético, ambos sumiram. Os judeus foram sem dúvida os que mais sofreram em Minsk durante a guerra, mas a liberação pelos comunistas não terminou com seus sofrimentos e isto não poderia ser mostrado.

Retroativamente Viktor Abákumov, chefe do então MVD, concluiu em março que Mikhoels era um perigoso nacionalista judeu a serviço dos Estados Unidos.

O Holocausto não podia fazer parte da história oficial soviética, pois esta teria que admitir sua cumplicidade: implícita, pela aliança com a Alemanha até 41 e dissolvida por Hitler, não por nenhuma ação soviética explícita, já que muitos russos se apresentaram à polícia como voluntários para tomar conta dos guetos e guarnecer os campos de Treblinka, Sobibór e Bełżec. Tal colaboração, maciça em alguns lugares, minava a crença no mito de uma população soviética unida na defesa da honra da Rodina [iii][2] na resistência ao odiado invasor fascista. Portanto, o extermínio em massa dos judeus tinha que ser esquecido.

Uma distorção mais profunda da história, especialidade marxista, já estava em andamento: a mudança da própria data do início da guerra. Esta não poderia ser admitida como tendo começado em 1939 com a invasão e participação conjunta germano-soviética na divisão e destruição da Polônia derivada do Pacto Mólotov-Ribbentropp [iv][3], mas sim pela invasão alemã em 1941. Tomou forma a história oficial soviética: A Grande Guerra Patriótica é confundida como sendo uma versão russa do nome do conflito em substituição ao consagrado II Guerra Mundial, quando não é: é a total distorção da verdade histórica para livrar a URSS e Stalin do fato de terem sido co-partipantes, e até mesmo a verdadeira raiz da guerra contra a Polônia e o Ocidente. Assim, os territórios absorvidos através da agressão soviética passaram a “ser” partes da Rússia desde sempre, e o morticínio soviético no leste polonês, igual ou mais brutal ainda que o germânico a Oeste foi disfarçado de baixas soviéticas causadas pelos alemães. No número “oficial” de baixas soviéticas estão incluídos poloneses, ucranianos, lituanos, bielorrussos e de outras regiões, que foram na verdade, assassinados pelos russos durante o Grande Terror, ou da coletivização forçada ou em atos de guerra. Assim se faz a história segundo os cânones da distorcida dialética  marxista [v][4].

Uma das mais absurdas distorções foi a aplicação ao levante do gueto de Varsóvia em 1943, uma luta desesperada dos Judeus que acabou numa das maiores tragédias da guerra, onde inúmeros Judeus demonstraram um heroísmo ímpar ao enfrentar a morte inevitável.

Pode-se notar neste feito comunista um exemplo do que recentemente fazia furor no Brasil e na França, o desconstrucionismo e a “construção” de uma mentira em seu lugar: o levante foi descrito pelo judeu polonês comunista Hersh Smólar segundo a fórmula “dialética” de Andréi Zhdánov segundo a qual existiam dentro do gueto dois grupos: o progressista e o reacionário. Este último era constituído pelos Sionistas de esquerda ou direita e o Bund, União Judaica Trabalhista, o primeiro pelos comunistas. Segundo a fábula de Smólar só os comunistas lutaram contra as tropas nazistas: “Toda a resistência contra o fascismo era, por definição, comandada por comunistas, caso contrário não seria resistência” [vi][5].

A OFICIALIZAÇÃO DO ANTISSEMITISMO

A jornal do Partido, Pravda (A Verdade) sempre foi o veículo que anunciava da “nova linha” decidida pelo Politbüro. A população soviética aos poucos se acostumou a modular suas opiniões pelas mudanças ideológicas expressadas em suas páginas, não apenas nos Editoriais como também no próprio tom das notícias, inclusive, no que viria a ser consagrado como Ministério da Verdade, por Orwell, às súbitas mudanças no teor das mesmas, dando início ao que hoje chamamos de politicamente correto.  

Em 28 de janeiro de 1949, um ano após a morte de Mikhoels, o Pravda publicou um artigo sobre “críticos teatrais não patriotas”, defensores do “cosmopolitismo apátrida” iniciando uma campanha de denúncia de judeus em todas as áreas profissionais. Em março o Pravda dispensou todos os colaboradores judeus, assim como o Exército Vermelho e o próprio Partido Comunista. O Comitê Judaico Anti-Fascista foi dissolvido em novembro por ter se tornado uma “agência a serviço do imperialismo americano”.

Mais uma vez a “dialética” marxista conseguia acusar os judeus simultaneamente de nacionalistas e cosmopolitas. Abákumov desencadeou uma verdadeira caça aos judeus nas mais altas posições no Estado e no Partido. Stalin, por razões políticas, não permitiu que Káganovitch, o único judeu ainda no Politbüro, fosse preso, mas a mulher de Mólotov, Polina Zhemchuzhima, foi presa, seu marido vergonhosamente se divorciou e ela foi exilada para o Kazaquistão. De nada adiantou: Mólotov foi expurgado do Partido pouco depois.

Stalin havia justificado o Grande Terror para remover qualquer ameaça em potencial contra a URSS antes de dar início à guerra em 1939. Depois desta, Stalin estava convencido de que uma III Guerra, contra o Ocidente seria inevitável e precisava se livrar dos judeus soviéticos, supostamente espiões americanos. Em 1951 Stalin, já fisicamente doente, inventou que havia uma conspiração de médicos judeus para matar os líderes soviéticos e declarou que “todo judeu é um nacionalista e agente da inteligência americana”. Em 30 de janeiro o Pravda anunciou oficialmente o complô.

Na Polônia comunista o anti-semitismo se estabeleceu com a mesma incongruência “dialética”: os judeus foram divididos em duas classes, os “Sionistas” eram a favor do Estado de Israel e os “cosmopolitas” tendiam a favorecer os Estados Unidos, mas ambos os grupos eram aliados do imperialismo e, portanto, inimigos do Estado. A liderança comunista polonesa identificava Israel com a Alemanha Nazista e o Sionismo com o Nacional-Socialismo. Israel representava o campo reacionário: judeus milionários ligados aos monopólios americanos.

É impressionante como esta interpretação, simplória e idiota, ainda é a dominante na esquerda, inclusive judia, sessenta anos depois!








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