STALIN,
OS JUDEUS E ISRAEL:
HEITOR DE
PAOLA
10/05/2012
Com as
declaradas intenções nazistas de exterminar os judeus, Stalin, ele mesmo
antissemita, aproveitou para mostrar-se como campeão da defesa dos judeus e
outras minorias. A fábrica de mentiras comunista criou o mito de que o Pacto
Molotov-Ribbentropp era uma saída stalinista para salvar a URSS e o comunismo
da “reação capitalista anti-revolucionária representada pelo nazismo”, e não o
que realmente era: a continuação lógica da aliança com a Alemanha na conquista
e destruição dos países livres da Europa ocidental [2]. Hitler seria apenas a ponta de lança da ofensiva e para tal Stalin
implicitamente endossou a política de extermínio judaico. Substituiu Máxim
Lítvinov, nascido Meir Henoch Mojszewicz Wallach-Finkelstein, um judeu de rica
família de banqueiros de Bialystock, da função de Comissário do Povo para
Assuntos Exteriores, que exercia desde 1930, por Vyácheslav Mikháilovich
Mólotov. Este não era judeu e não ofenderia aos aliados nazistas que
dificilmente aceitariam um como negociador. Mólotov foi um dos signatários da
resolução do Politbüro autorizando o massacre
de Katyn (atribuindo posteriormente as
mortes aos nazistas) e liderou pessoalmente a Comissão Extraordinária para a
Expropriação de Grãos na Ucrânia que se apossou de 4,2 milhões de toneladas
levando os camponeses ucranianos à escassez abrupta e à fome (conhecido como Holodomor, o Holocausto
Ucraniano).
Na época do
Holodomor a NKVD (antecessora do KGB) possuía 40% de judeus entre seus membros,
sendo que mais da metade – 54% - dos Generais [3]. Os judeus eram a única minoria étnica super-representada na NKVD no
final do Grande Terror. Em 1936 a representação dos judeus no aparato central
da NKVD em Moscou era de 64% e na Ucrânia Soviética 67%.
A possível
explicação para isto eram os pogroms do período tzarista, principalmente por
parte dos Kossacos na Ukrania, e durante a guerra civil o fato de que o
exército Branco era ostensivamente judeofóbico enquanto o Vermelho era
comandado por um judeu, Leon Trotsky, nascido Lev Davidóvitch Bronstein. Era
natural que os judeus vissem o estado soviético como protetor.
A URSS se
beneficiou enormemente das violências públicas na Alemanha nazista encorajando
a Frente Popular, comandada pelo Partido Comunista (KPD - Kommunist Partei
Deutschland) e o Front Populaire francês a mostrá-la como protetora
das minorias étnicas europeias.
O Grande
Terror foi uma terceira revolução soviética: a de 17 mudou o sistema político,
a coletivização forçada pós 1930 mudou o sistema econômico e o Terror de 37-38
significou uma revolução mental, destruindo grande parte das teorias marxistas
e leninistas.
Stalin se
aproveitou desta grande participação judia para por a culpa nos judeus. Ao
final do Grande Terror, em 1938, apenas 20% da NKVD eram da minoria judaica e
um ano depois não mais de 4%. Todos foram mortos a começar pelos líderes Izrail
Leplevskii, Lev Raikhman e Boris Berman.
Stalin
começava a mostrar suas garras antissemitas que o levariam a novos expurgos.
Mas a hipocrisia ainda não chegara ao seu fim. Veremos na próxima parte.
(SEGUE:
Stalin e a fundação do Estado de Israel).
STALIN, OS JUDEUS E ISRAEL II
HIPOCRISIA, DECEPÇÃO E VINGANÇA
II
HEITOR DE PAOLA
20/06/2012
Él término anti-semitismo fué acuñado por el
pensador alemán Wilhelm Marr para amparar uma ideologia que propugna la
inferioridad y malignidad de los judíos
SERGIO VICH SÁEZ
Las semillas del ódio – Europa desata el terror, Revista Historia y Vida, nº 520
O final da
guerra e o conhecimento do horror do Holocausto Judeu (Shoah) fez renascer esperanças, mas a volta dos sobreviventes aos
seus antigos lares não foi fácil. A judeofobia continuava dominante em muitos
países, como na URSS e na Polônia. Seus bens tinham agora novos donos que
resistiram a lhes devolver, provocando longos e penosos processos judiciais
geralmente mal resolvidos para os judeus. Para muitos a opção sionista esboçada
de forma ambígua por Lord Balfour, por insistência de Theodor Herzl, parecia a
mais viável. A Declaração Balfour não falava da criação de uma pátria judia,
mas sim de um lugar onde poderiam regular sua convivência com as comunidades
não-judias da área.
A
ambigüidade levou a que as próprias autoridades britânicas, signatárias do
Tratado se Sèvres, impedissem o desembarque de navios de refugiados que eram
internados em campos provisórios em Chipre, numa forma mais benigna, mas não
menos humilhantes que os campos de concentração.
Em mais uma
medida obscura, a resolução da ONU ordenou a partição da região de um estado
judeu e outro árabe, reforçando o anti-semitismo muçulmano. Os árabes trataram
logo de mandar contingentes de egípcios, jordanianos, libaneses e outros para
ocupar a terra, criando do nada um mitológico povo “palestino” que juraram
defender contra a “entidade sionista”. Até hoje este é o nome oficioso de
Israel para os muçulmanos, grande parte culpa da ambiguidade e obscuridade das
Declarações e Resoluções mencionadas acima.
Stalin
percebeu a chance de se opor ao imperialismo britânico na região criando um
estado comunista. Certamente a maioria dos primeiros colonos judeus era
socialista e de dedicaram a incrementar um sistema que já existia há décadas
nas áreas rurais, uma economia baseada exclusivamente no cooperativismo e na
divisão igualitária do trabalho e dos bens: os kibutzim. Estes primeiros colonizadores acreditavam ter uma grande
gratidão com a liberdade com que exerceram suas atividades na URSS, inclusive
com o apoio dado por Stalin ao Comitê Judeu Anti-Fascista e o grande número de
judeus aceitos em altos cargos soviéticos, inclusive na NKVD como vimos no
artigo anterior. O segundo homem do regime, considerado por anos como o virtual
sucessor de Stalin, Lázar Káganovitch, conhecido com “o lobo do Kremlin” ou
“Lázar de ferro”, era judeu. Participara, junto com Mólotov na Conferência do
Partido para Toda a Ucrânia em 1930 onde se determinaram as tarefas de
implementação da política de coletivização forçada (1932-33) que causou o
Holodomor. Supervisionou pessoalmente o confisco de grãos. Políticas similares
foram infligidas às Repúblicas Centrais Soviéticas, como o Cazaquistão, Kuban,
Criméia e baixo Volga.
A
participação de judeus até no Comitê Central (5 de 210 membros) e a ajuda
inicial da URSS na fundação do Estado de Israel, o treinamento de soldados na
Polônia comunista, o envio de armas tchecas para a lutar contra os invasores
árabes e o fornecimento de víveres enganou os primeiros colonizadores de ter na
URSS e nos seus satélites da Cortina de Ferro amigos fiéis e duráveis. Não se
deram conta de que Stalin apenas perseguia uma estratégia de dominação do
Oriente Médio, pois inicialmente os países árabes recém-descolonizados foram
dirigidos por governos títeres do Ocidente.
Naqueles tempos iniciais mais judeus viviam na URSS do que em Israel. Os
russos, Judeus ou não, parecem ter adorado a carismática embaixadora Golda
Meir, nascida em Kiev. O Rosh Hashanah foi
naquele ano uma das festas mais concorridas de Moscou nos últimos vinte anos. Poliina Zhiemchuzhina, mulher de Mólotov encorajou Golda a voltar a
frequentar a Sinagoga e as tradições religiosas e, falando em Yiddish sugeriu a unidade nacional Judia
sem fronteiras. Ekatierina Gorbman,
mulher de Klímient Voróshilov exclamou: “Agora
nós também temos nossa própria Terra Natal”.
A pergunta
que Stalin se fez era se devia continuar apoiando Israel contra o Ocidente, ou
se o estabelecimento de uma Pátria para ser considerada sua colocava em risco a
lealdade dos judeus soviéticos para com a URSS e deveria ser não apoiada, mas
temida. No final de 1948 decidiu que os judeus estavam influenciando mais o
estado Soviético do que este conseguia influenciar o estado Judeu.
Em 1948 e
início de 49 começaram as medidas antissemitas na URSS: acabara-se o efeito da
hipocrisia stalinista, veio a decepção e, como não poderia deixar de ser numa
personalidade cruel, totalitária, que não aceitava decepções mesmo de seus mais
próximos colaboradores – por isso os grandes expurgos na cúpula civil e militar
dos anos 30, surgiu a vingança!
(SEGUE: Stalin e o desencadeamento do antissemitismo
interno e do antissionismo).
STALIN,
OS JUDEUS E ISRAEL III
Decepção e vingança: a repressão interna e o antissionismo
HEITOR DE
PAOLA
21/06/2012
A lo largo de los siglos, aquellas antiguas tribus
hebreas iban a resisitirse a todo intento foráneo de asimilación. Su
obstinación les granjeó muchos enemigos
SERGIO VICH SÁEZ
Las semillas del ódio – Europa desata el terror, Revista Historia
y Vida, nº 520
Não obstante
tenha havido – e ainda haja - coincidência ideológica de muitos judeus com o
comunismo, mais uma vez as “tribos hebréias” não se deixaram assimilar pelo
stalinismo. E agora tinham uma terra para orgulhosamente chamar de sua! Às
identidades étnicas, culturais e religiosas, somava-se agora a identidade
Pátria. Não só identidades, mas principalmente solidariedades e sentimento de
irmandade. Um povo que durante milênios foi afastado de sua terra, rapidamente
mostrou que mesmo em diáspora continuou sendo uma poderosa Nação.
Foi demais
para Stalin – e continua sendo para supostos aliados ocidentais, como veremos
no próximo artigo.
Na verdade,
a repressão stalinista começou antes da fundação de Israel. Já em janeiro de
48, Solomon Mikhoels, Chairman do Comitê Judeu Antifascista e Diretor do Teatro
Yiddish de Moscou, foi brutalmente assassinado em Minsk por ordem direta de
Stalin [ii][1] a Lavrienty Tsárvana, chefe da polícia
Bielorrussa. Mikhoels estava lá para julgar uma peça para o Prêmio Stalin de Teatro.
Como ele escrevia uma história dos partisans judeus que lutaram contra a
Wermacht e o Livro Negro do Judaísmo
Soviético, ambos sumiram. Os judeus foram sem dúvida os que mais sofreram
em Minsk durante a guerra, mas a liberação pelos comunistas não terminou com
seus sofrimentos e isto não poderia ser mostrado.
Retroativamente
Viktor Abákumov, chefe do então MVD, concluiu em março que Mikhoels era um
perigoso nacionalista judeu a serviço dos Estados Unidos.
O Holocausto
não podia fazer parte da história oficial soviética, pois esta teria que
admitir sua cumplicidade: implícita, pela aliança com a Alemanha até 41 e
dissolvida por Hitler, não por nenhuma ação soviética explícita, já que muitos
russos se apresentaram à polícia como voluntários para tomar conta dos guetos e
guarnecer os campos de Treblinka, Sobibór e Bełżec. Tal colaboração, maciça em
alguns lugares, minava a crença no mito de uma população soviética unida na
defesa da honra da Rodina [iii][2] na resistência ao odiado invasor fascista. Portanto,
o extermínio em massa dos judeus tinha que ser esquecido.
Uma
distorção mais profunda da história, especialidade marxista, já estava em
andamento: a mudança da própria data do início da guerra. Esta não poderia ser
admitida como tendo começado em 1939 com a invasão e participação conjunta germano-soviética na divisão e
destruição da Polônia derivada do Pacto Mólotov-Ribbentropp [iv][3], mas sim
pela invasão alemã em 1941. Tomou forma a história oficial soviética: A Grande Guerra Patriótica é confundida
como sendo uma versão russa do nome do conflito em substituição ao
consagrado II Guerra Mundial, quando não
é: é a total distorção da verdade histórica para livrar a URSS e Stalin do
fato de terem sido co-partipantes, e até mesmo a verdadeira raiz da guerra
contra a Polônia e o Ocidente. Assim, os territórios absorvidos através da
agressão soviética passaram a “ser” partes
da Rússia desde sempre, e o morticínio soviético no leste polonês, igual ou
mais brutal ainda que o germânico a Oeste foi disfarçado de baixas soviéticas
causadas pelos alemães. No número “oficial” de baixas soviéticas estão
incluídos poloneses, ucranianos, lituanos, bielorrussos e de outras regiões,
que foram na verdade, assassinados pelos russos durante o Grande Terror, ou da
coletivização forçada ou em atos de guerra. Assim se faz a história segundo os
cânones da distorcida dialética marxista [v][4].
Uma das mais
absurdas distorções foi a aplicação ao levante do gueto de Varsóvia em 1943,
uma luta desesperada dos Judeus que acabou numa das maiores tragédias da
guerra, onde inúmeros Judeus demonstraram um heroísmo ímpar ao enfrentar a
morte inevitável.
Pode-se
notar neste feito comunista um exemplo do que recentemente fazia furor no
Brasil e na França, o desconstrucionismo e
a “construção” de uma mentira em seu lugar:
o levante foi descrito pelo judeu polonês comunista Hersh
Smólar segundo a fórmula “dialética”
de Andréi Zhdánov segundo a qual
existiam dentro do gueto dois grupos: o progressista e o reacionário. Este
último era constituído pelos Sionistas de esquerda ou direita e o Bund, União
Judaica Trabalhista, o primeiro pelos comunistas. Segundo a fábula de Smólar só
os comunistas lutaram contra as tropas nazistas: “Toda a resistência contra o
fascismo era, por definição, comandada por comunistas, caso contrário não seria
resistência” [vi][5].
A
OFICIALIZAÇÃO DO ANTISSEMITISMO
A jornal do
Partido, Pravda (A Verdade) sempre
foi o veículo que anunciava da “nova linha” decidida pelo Politbüro. A
população soviética aos poucos se acostumou a modular suas opiniões pelas
mudanças ideológicas expressadas em suas páginas, não apenas nos Editoriais
como também no próprio tom das notícias, inclusive, no que viria a ser
consagrado como Ministério da Verdade, por
Orwell, às súbitas mudanças no teor das mesmas, dando início ao que hoje
chamamos de politicamente correto.
Em 28 de
janeiro de 1949, um ano após a morte de Mikhoels, o Pravda publicou um artigo sobre “críticos teatrais não patriotas”,
defensores do “cosmopolitismo apátrida” iniciando uma campanha de denúncia de
judeus em todas as áreas profissionais. Em março o Pravda dispensou todos os colaboradores judeus, assim como o
Exército Vermelho e o próprio Partido Comunista. O Comitê Judaico Anti-Fascista
foi dissolvido em novembro por ter se tornado uma “agência a serviço do
imperialismo americano”.
Mais uma vez
a “dialética” marxista conseguia acusar os judeus simultaneamente de
nacionalistas e cosmopolitas. Abákumov desencadeou uma verdadeira caça aos
judeus nas mais altas posições no Estado e no Partido. Stalin, por razões
políticas, não permitiu que Káganovitch, o único judeu ainda no Politbüro,
fosse preso, mas a mulher de Mólotov, Polina Zhemchuzhima, foi presa, seu
marido vergonhosamente se divorciou e ela foi exilada para o Kazaquistão. De
nada adiantou: Mólotov foi expurgado do Partido pouco depois.
Stalin havia
justificado o Grande Terror para remover qualquer ameaça em potencial contra a
URSS antes de dar início à guerra em 1939. Depois desta, Stalin estava
convencido de que uma III Guerra, contra o Ocidente seria inevitável e
precisava se livrar dos judeus soviéticos, supostamente espiões americanos. Em
1951 Stalin, já fisicamente doente, inventou que havia uma conspiração de
médicos judeus para matar os líderes soviéticos e declarou que “todo judeu é um
nacionalista e agente da inteligência americana”. Em 30 de janeiro o Pravda anunciou oficialmente o complô.
Na Polônia
comunista o anti-semitismo se estabeleceu com a mesma incongruência
“dialética”: os judeus foram divididos em duas classes, os “Sionistas” eram a
favor do Estado de Israel e os “cosmopolitas” tendiam a favorecer os Estados
Unidos, mas ambos os grupos eram aliados do imperialismo e, portanto, inimigos do
Estado. A liderança comunista polonesa identificava Israel com a Alemanha
Nazista e o Sionismo com o Nacional-Socialismo. Israel representava o campo
reacionário: judeus milionários ligados aos monopólios americanos.
É impressionante
como esta interpretação, simplória e idiota, ainda é a dominante na
esquerda, inclusive judia, sessenta anos depois!
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