06/05/2012
às
7:57LULA ESTÁ COM ÓDIO E ABRAÇADO A SEU RANCOR! ELE É HOJE O ÚNICO RISCO QUE ENFRENTA O GOVERNO DILMA. OU: AINDA QUE A GRITARIA SUGIRA O CONTRÁRIO, OS TOTALITÁRIOS JÁ PERDERAM
Considero este texto
um dos mais importantes já publicados neste blog. Se gostarem, ajudem a
divulgá-lo.*
Eu não gosto da expressão “passar a história a limpo”. Tem apelo inequivocamente totalitário. Fica parecendo que vivemos produzindo rascunhos e que a história verdadeira nos aguarda em algum lugar. Para tanto, teríamos de nos submeter às vontades de um líder, de uma raça, de uma classe ou de partido para atingir, então, aquela verdade verdadeira. A gente sabe aonde isso já deu. Nos milhões de mortos dos vários fascismos e do comunismo. Assim, não existe história a ser “passada a limpo”. Os países que alcançaram a democracia política, como alcançamos, têm é de lutar para tirar da vida pública os corruptos, os aproveitadores e os oportunistas. Isso é “passar a limpo”? Não! isso é melhorar quem somos. Não por acaso, antes que prossiga, noto que Luiz Inácio Lula da Silva é um dos herdeiros dessa visão totalitária supostamente saneadora — daí o seu mentiroso “nunca antes na história destepaiz“, como se fosse o fundador do Brasil.
Eu não gosto da expressão “passar a história a limpo”. Tem apelo inequivocamente totalitário. Fica parecendo que vivemos produzindo rascunhos e que a história verdadeira nos aguarda em algum lugar. Para tanto, teríamos de nos submeter às vontades de um líder, de uma raça, de uma classe ou de partido para atingir, então, aquela verdade verdadeira. A gente sabe aonde isso já deu. Nos milhões de mortos dos vários fascismos e do comunismo. Assim, não existe história a ser “passada a limpo”. Os países que alcançaram a democracia política, como alcançamos, têm é de lutar para tirar da vida pública os corruptos, os aproveitadores e os oportunistas. Isso é “passar a limpo”? Não! isso é melhorar quem somos. Não por acaso, antes que prossiga, noto que Luiz Inácio Lula da Silva é um dos herdeiros dessa visão totalitária supostamente saneadora — daí o seu mentiroso “nunca antes na história destepaiz“, como se fosse o fundador do Brasil.
A CPI do Cachoeira
poderia ser — pode ser ainda, a depender do andamento, vamos ver — mais uma
dessas oportunidades em que práticas detestáveis dos subterrâneos da política
vêm à luz, permitindo punir aqueles que abusaram dos cofres públicos, das
instituições e da boa-fé dos brasileiros. Ocorre que há uma boa possibilidade de
que isso não aconteça. E por quê? Porque Lula está com ódio. Um ódio
injustificado. Um ódio de quem não sabe ser grato. Um ódio de quem não encontra
a paz senão exercendo o mando. É ele quem centraliza hoje os esforços para que a
CPI se transforme num tribunal de acusação da Procuradoria Geral da República,
do Supremo Tribunal Federal e da imprensa independente. E já não esconde isso de
seus interlocutores.
A presidente
Dilma Rousseff, cujo governo não é do meu gosto — e há centenas de textos
dizendo por que não — já deve ter percebido (e, se não o percebeu, então padece
de uma grave déficit de atenção política): o risco maior de desestabilização de
seu governo não vem da oposição ou do jornalismo que leva a sério o seu
trabalho. O nome do risco é Lula.
Ele quer se vingar. Mas
se vingar exatamente do quê? Não há explicação racional para o seu rancor, como
vou demonstrar abaixo. Já foi, sim, um elemento que ajudou a construir a
democracia brasileira — não mais do que isto, friso: uma personagem que
participou de sua construção. Nem sempre de modo decoroso. Em momentos cruciais,
para fortalecer seu partido, atuou como sabotador. Mas o sistema que se queria
edificar era mais forte do que a sua sabotagem. Negou-se a homologar a
Constituição; recusou-se a participar do Colégio Eleitoral; opôs-se ao Plano
Real; disse “não” às reformas que estão hoje da base da estabilidade que aí
está… A lista seria longa. Mesmo assim, ao participar do jogo institucional
(ainda que sem ter a devida clareza de sua importância), deu a sua cota.
Agora que o regime democrático está estabelecido, Lula se esforça para
arrastar na sua pantomima e na do seu partido alguns dos pilares do estado
democrático e de direito.
Por quê? Seria seu
senso de justiça tão mais atilado do que o da maioria? É a sua intolerância com
eventuais falcatruas que o leva hoje a armar setores do seu partido e da base
aliada para tentar esmagar a Procuradoria, o Supremo e a imprensa? Não! Lamento
ter de escrever que é justamente o contrário: o que move a ação de Lula,
infelizmente, é o esforço para proteger os quadrilheiros do mensalão.
Uma coisa é certa: outros líderes, antes dele, já deram guarida a bandidos. O PT
não fundou a corrupção no Brasil. Mas só Lula e seu partido a transformaram num
fundamento ético a depender de quem é o corrupto. Se aliado, é só um herói
injustiçado.
Ódio
imotivado
E Lula, por óbvio, deveria estar com o coração pacificado, lutando para fortalecer as instituições, não para enfraquecê-las. Um conjunto de circunstâncias — somadas a suas qualidades pessoais (e defeitos influentes) — fez dele o que é. Em poucas pessoas, o casamento da “virtù” com a “fortuna” foi tão bem-sucedido. O menino pobre, retirante, tornou-se presidente da República, eleito e reeleito, admirado país e mundo afora. Podemos divergir — e como divergimos! — dessa avaliação, mas nada disso muda o fato objetivo. Quantos andaram ou andarão trajetória tão longa do ponto de partida ao ponto de chegada?
Lula deveria ser grato
aos aliados e também aos adversários. Qualquer um que tenha um entendimento
mediano da história sabe como os oponentes ajudam a formar a têmpera do líder,
oferecendo-lhe oportunidades. Não há, do ponto de vista do Apedeuta, o que
corrigir no roteiro. O destino lhe foi extremamente generoso. Sua alma deveria
estar em festa. E, no entanto, ele sai proclamando por aí que chegou a hora de
ajustar as contas. Com quem? Com quê?
Não farei aqui a
linha ingênuo-propositiva, sugerindo que o ex-presidente deixe a CPI trabalhar
sem orientação partidária, investigando quem tem de ser investigado, ignorando
que há forças políticas em ação e que é parte do jogo a sua articulação para se
defender e atacar. Isso é normal no jogo democrático. O que não é
aceitável é esse esforço para eliminar todas as outras — à falta de melhor
designação, ficarei com esta — “instâncias de verdade” da sociedade. Instâncias
que são, reitero, instituições basilares da democracia.
Lula e seus
sectários chegaram ao ponto em que acreditam que o PT não pode conviver com uma
Procuradoria-Geral da República que não seja um braço do partido; com um Supremo
Tribunal Federal que não seja uma seção do partido; com uma imprensa que não
seja uma das extensões do partido. Todos eles têm de ser desmoralizados
para que, então, o PT surja no horizonte realizando a sua vocação: SER A ÚNICA
INSTÂNCIA DE VERDADE. Na conversa que manteve anteontem com petistas,
em que anunciou — POR CONTA PRÓPRIA — que o governo vai avançar sobre a mídia,
Rui Falcão, presidente do PT, foi claríssimo:
“(a mídia) é um poder que contrasta com o nosso governo desde a subida do (ex-presidente) Lula, e não contrasta só com o projeto político e econômico. Contrasta com o atual preconceito, ao fazer uma campanha fundamentalista como foi a campanha contra a companheira Dilma (nas eleições presidenciais de 2010).”
“(a mídia) é um poder que contrasta com o nosso governo desde a subida do (ex-presidente) Lula, e não contrasta só com o projeto político e econômico. Contrasta com o atual preconceito, ao fazer uma campanha fundamentalista como foi a campanha contra a companheira Dilma (nas eleições presidenciais de 2010).”
Ou por outra: o
bando heavy metal do PT considera que as instituições da democracia
ocupam o seu espaço vital, sufocam-no. Se o partido foi vitorioso e chegou ao
poder segundo os instrumentos democráticos, uma vez no topo, é preciso começar a
eliminá-los. Esses petistas entendem a política segundo uma linha supostamente
evolutiva de que eles seriam os mais aptos. Qualquer outra possibilidade
significa um retrocesso. É um mito da velha esquerda, herdado, sim, lá do
marxismo — ainda que o partido não seja mais marxista nos fundamentos
econômicos. Da velha teoria, herdou a paixão pelo totalitarismo.
Já vimos isso antes e alhures
Já vimos isso antes na história. Na América Latina, a Argentina assiste a um processo ainda mais agressivo, conforme revela matéria da VEJA na edição desta semana (falo a respeito em outro post). Os regimes autoritários ou a depredação da democracia não surgem sem justificativas verossímeis e sem o apoio de muitos inocentes úteis e inúteis. Procedimentos corriqueiros do jogo democrático e do confronto de ideias começam a ser ideologicamente demonizados para que venham a ser considerados crimes. Voltem à fala de Rui Falcão. A simples disputa eleitoral, para ele, é chamada de “manifestação de preconceito” das oposições. A vigilância que toda imprensa deve exercer numa democracia é tratada como ato de sabotagem do governo. E ninguém estranha, é evidente, que VEJA esteja entre os alvos preferenciais dos autoritários.
Aqui e ali alguns
tontos se divertem um tatinho achando que a pinima de Lula e de seus extremistas
é com a revista em particular. Não é, não! É com a imprensa livre. Se VEJA está
entre seus alvos preferenciais, deve ser porque foi o veículo que mais o
incomodou. Então se tira da algibeira a acusação obviamente falsa,
comprovadamente falsa, de que a publicação participou de conspirações contra
esse ou aquele. Ora, digam aí os nomes dos patriotas, com carreiras impolutas,
que foram vítimas desse ente tão terrível (leiam post abaixo).
VEJA não convidou os malandros do mensalão a fazer malandragens. Também não
patrocinou as sem-vergonhices no Dnit. Também não responde pela montanha de
dinheiro liberado que não se transformou nem em estradas nem em obras de reparo.
A revista relatou essas safadezas. Com quem falou para obter informações que
eram do interesse de quem me lê de outros milhões de brasileiros? Isso não é da
conta de Lula! Ele, como sabemos, só dialoga com a fina flor do pensamento… Só
que há uma diferença importante: um jornalista que se respeita não fala com
vigaristas para ser ou manter o poder. Se o faz, é para denunciar o poder! E
assim foi, o que rendeu a demissão de corruptos e a preservação do patrimônio
público.
É claro que isso
excita a fúria dos totalitários. Na Argentina, a tropa de Cristina Kirchner
costuma ser ainda mais criativa — e, em certa medida, grosseira — do que seus
pares brasileiros. Por lá, a agressão à imprensa chegou mais longe. Começou com
uma rusga com o Clarín, que apoiava o casal Kirchner. Agora, trata-se de um
confronto com o jornalismo livre. A exemplo do que ocorre no Brasil, uma
verdadeira horda está mobilizada pelo oficialismo para destruir a democracia.
Também lá, a subimprensa alugada pelo poder, conduzida por anões morais, ajuda a
fazer o serviço sujo.
Voltando e
caminhando para a conclusão
Lula e seus extremistas estão indo longe demais! Quando um secretário-geral da Presidência reúne deputados e senadores do seu partido, como fez Gilberto Carvalho, para determinar que o centro das preocupações da CPI deve ser o mensalão, esse ministro já não se ocupa mais do governo, mas de um projeto de esmagamento da boa ordem democrática; esse ministro não demonstra interesse em identificar e pedir que a Justiça puna os corruptos, mas em impedir que outros corruptos sejam punidos. E por quê?
Porque Lula está com
ódio? De várias maneiras, o seu conhecido projeto continuísta se mostra, hoje,
impossível. Não é surpresa para ninguém que mais apostavam no naufrágio de Dilma
algumas alas do PT que nunca a consideraram petista o suficiente do que
propriamente a oposição. Estaria eu flertando com o governo, como disseram
alguns tontos? Ah, tenham paciência! Não mudei um milímetro a minha avaliação
sobre a gestão Dilma Rousseff e sempre escrevi aqui — vejam lá! — que as
denúncias de lambanças feitas pela imprensa livre, seguidas das demissões,
fariam bem à sua imagem e à sua reputação. Está em arquivo. Sei o que escrevo e
tenho, alguns podem lamentar, uma memória impecável. Assim, a presidente não me
decepciona porque eu não esperava mais do que isso. Também não me surpreende
porque eu não esperava menos do que isso. Contrariados estão alguns fanáticos do
petismo que acreditam que há certos “trancos” na democracia que só podem ser
dados por Lula. Sim, eles têm razão. Infeliz E felizmente, só
Lula poderia fazer certas coisas. E não vai fazê-las. Não se enganem, não! A
avaliação de Dilma lá nas alturas surpreende e decepciona os que apostavam no
retorno de Lula. Eu não tenho nada com isso porque nunca fui dessa religião… Ou
melhor: até fui, quando era menino e pensava como menino, como diria o apóstolo
Paulo… Depois eu cresci.
Lula tenta
instrumentalizar essa CPI para realizar a obra que não conseguiu realizar quando
era presidente: destruir de vez a oposição, botar uma canga na imprensa e
“passar a história a limpo”, segundo o padrão do revisionismo petista. Mas a
democracia — e ele tantas vezes foi personagem minúscula de sua construção,
quando poderia ter sido maiúscula — não vai deixar. Não conseguirá arrastar as
instituições em seu delírio totalitário. Tenham a certeza, leitores: por mais
que o cerco pareça sugerir o contrário, esse coro do ódio é expressão de uma
luta perdida. E a luta foi perdida por eles, não pelos amantes da
democracia.
Texto publicado originalmente às
4h49
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