26/05/2012
às 18:57ESCÂNDALO, ABSURDO E DEBOCHE: Lula sugere troca de favores a um ministro do STF e revela como tem pressionado outros membros da corte. Ex-presidente degrada as instituições
Caras
e caros, o que vai abaixo é muito grave. Espalhem a informação na rede,
debatam, organizem-se em defesa da democracia. O que se vai ler revela
uma das mais graves agressões ao estado de direito desde a
redemocratização do país.
Luiz Inácio
Lula da Silva perdeu completamente a noção de limite, quesito em que
nunca foi muito bom. VEJA publica hoje uma reportagem estarrecedora. O
ex-presidente iniciou um trabalho direto de pressão contra os ministros
do Supremo para livrar a cara dos mensaleiros. Ele nomeou seis dos
atuais membros da corte — outros dois foram indicados por Dilma
Rousseff. Sendo quem é, parece achar que os integrantes da corte suprema
do país lhe devem obediência. Àqueles que estariam fora de sua alçada,
tenta constranger com expedientes ainda menos republicanos. E foi o que
fez com Gilmar Mendes. A reportagem de Rodrigo Rangel e Otavio Cabral na
VEJA desta semana é espantosa!
Lula,
acreditem, supondo que Mendes tivesse algo a temer na CPI do Cachoeira,
fez algumas insinuações e ofereceu-lhe uma espécie de “proteção” desde
que o ministro se comportasse direitinho. Expôs ainda a forma como está
abordando os demais ministros. Leiam trecho. Volto em seguida.
Há um mês, o ministro Gilmar Mendes, do STF, foi convidado para uma conversa com Lula em Brasília. O encontro foi realizado no escritório de advocacia do ex-presidente do STF e ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, amigo comum dos dois. Depois de algumas amenidades, Lula foi ao ponto que lhe interessava: “É inconveniente julgar esse processo agora”. O argumento do ex-presidente foi que seria mais correto esperar passar as eleições municipais de outubro deste ano e só depois julgar a ação que tanto preocupa o PT, partido que tem o objetivo declarado de conquistar 1.000 prefeituras nas urnas.
Para
espíritos mais sensíveis, Lula já teria sido indecoroso simplesmente por
sugerir a um ministro do STF o adiamento de julgamento do interesse de
seu partido. Mas vá lá. Até aí, estaria tudo dentro do entendimento mais
amplo do que seja uma ação republicana. Mas o ex-presidente cruzaria a
fina linha que divide um encontro desse tipo entre uma conversa
aceitável e um evidente constrangimento. Depois de afirmar que detém o
controle político da CPI do Cachoeira, Lula magnanimamente, ofereceu
proteção ao ministro Gilmar Mendes, dizendo que ele não teria motivo
para preocupação com as investigações. O recado foi decodificado. Se
Gilmar aceitasse ajudar os mensaleiros, ele seria blindado na CPI.
(…) “Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula”, disse Gilmar Mendes a VEJA. O ministro defende a realização do julgamento neste semestre para evi¬tar a prescrição dos crimes.
(…) “Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula”, disse Gilmar Mendes a VEJA. O ministro defende a realização do julgamento neste semestre para evi¬tar a prescrição dos crimes.
(…)
Voltei
Interrompo para destacar uma informação importante. Na conversa, Lula insinuou que Mendes manteria relações não-repubicanas com o senador Demóstenes Torres. Quando ouviu do interlocutor um “vá em frente porque você não vai encontrar nada”, ficou surpreso. Segue a reportagem de VEJA. Retomo depois:
Interrompo para destacar uma informação importante. Na conversa, Lula insinuou que Mendes manteria relações não-repubicanas com o senador Demóstenes Torres. Quando ouviu do interlocutor um “vá em frente porque você não vai encontrar nada”, ficou surpreso. Segue a reportagem de VEJA. Retomo depois:
A certa
altura da conversa com Mendes. Lula perguntou: “E a viagem a Berlim?”.
Ele se referia a boatos de que o ministro e o senador Demóstenes Torres
teriam viajado para a Alemanha à custa de Carlos Cachoeira e usado um
avião cedido pelo contraventor. Em resposta, o ministro confirmou o
encontro com o senador em Berlim, mas disse que pagou de seu bolso todas
as suas despesas, tendo como comprovar a origem dos recursos. “Vou a
Berlim como você vai a São Bernardo. Minha filha mora lá”, disse Gilmar,
que, sentindo-se constrangido, desabafou com ex-presidente: “Vá fundo
na CPI”. O ministro Gilmar relatou o encontro a dois senadores, ao
procurador-geral da República e ao advogado-geral da União.
Retomando
Sabem o que é impressionante? A “bomba” que Lula supostamente
teria contra Mendes começou a circular nos blogs sujos logo depois. O
JEG — a jornalismo financiado pelas estatais — pôs para circular a
informação falsa de que Mendes teria viajado às expensas de Cachoeira.
Muitos jornalistas sabem que o ex-presidente está na origem de boatos
que procuravam associar o ministro ao esquema Cachoeira. Ou por
outra: Lula afirma ter o “controle político” da CPI e parece controlar,
também, todas as calúnias e difamações que publicadas na esgotosfera.
Sigamos.
Lula deixou
claro que está investindo em outros ministros da corte. Revelou já ter
conversado com Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão — só
depende dele o início do julgamento — sobre a conveniência de deixar o
processo para o ano que vem. Sobre José Antônio Dias Toffoli, foi
peremptório e senhorial: “Eu disse ao Toffoli que ele tem de participar
do julgamento”. Qual a dúvida? O agora ministro já foi advogado do PT e
assessor de José Dirceu; sua namorada advoga para um dos acusados. A
prudência e o bom senso indicam que se declare impedido. Lula pensa de
modo diferente — e o faz como quem tem certeza do voto. Luiz Marinho,
prefeito de São Bernardo e um dos porta-vozes informais do chefão do PT,
já disse algo mais sério: “Ele não tem o direito de não participar”.
A ministra
Carmen Lúcia, na imaginação de Lula, ficaria por conta de Sepúlveda
Pertence, ex-ministro do STF e atual presidente da Comissão de Ética
Pública da Presidência da República: “Vou falar com o Pertence para
cuidar dela”. Com Joaquim Barbosa, o relator, Lula está bravo. Rotula o
ministro de “complexado”. Ayres Britto, que vai presidir o julgamento se
ele for realizado até novembro, estaria na conta do jurista Celso
Antonio Bandeira de Mello, amigo de ambos, que ficaria encarregado de
marcar a conversa. Leia mais um trecho da reportagem
(…)
Ayres Britto contou que o relato de Gilmar ajudou-o a entender uma abordagem que Lula lhe fizera uma semana antes, durante um almoço no Palácio da Alvorada, onde estiveram a convite da presidente Dilma Rousseff. Diz o ministro Ayres Britto: “O ex-presidente Lula me perguntou se eu tinha notícias do Bandeirinha e completou dizendo que, “qualquer dia desses, a gente toma um vinho”. Confesso que, depois que conversei com o Gilmar, acendeu a luz amarela, mas eu mesmo tratei de apagá-la”. Ouvido por VEJA, Jobim confirmou o encontro de Lula e Gilmar em seu escritório em Brasília, mas, como bom político, disse que as partes da conversa que presenciou “foram em tom amigável”.
VEJA tentou entrevistar Lula a respeito do episódio. Sem sucesso, enviou a seguinte mensagem aos assessores: “Estamos fechando uma matéria sobre o julgamento do mensalão para a edição desta semana. Gostaríamos de saber a versão do ex-presidente Lula sobre o encontro ocorrido em 26 de abril, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, com a presença do anfitrião e do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, no qual Lula fez gestões com Mendes sobre o julgamento do mensalão”. Obteve a seguinte frase como resposta: “Quem fala sobre mensalão agora são apenas os ministros do Supremo Tribunal Fe¬deral”. Certo. Mas eles têm ouvido muito também sobre o mensalão”.
Ayres Britto contou que o relato de Gilmar ajudou-o a entender uma abordagem que Lula lhe fizera uma semana antes, durante um almoço no Palácio da Alvorada, onde estiveram a convite da presidente Dilma Rousseff. Diz o ministro Ayres Britto: “O ex-presidente Lula me perguntou se eu tinha notícias do Bandeirinha e completou dizendo que, “qualquer dia desses, a gente toma um vinho”. Confesso que, depois que conversei com o Gilmar, acendeu a luz amarela, mas eu mesmo tratei de apagá-la”. Ouvido por VEJA, Jobim confirmou o encontro de Lula e Gilmar em seu escritório em Brasília, mas, como bom político, disse que as partes da conversa que presenciou “foram em tom amigável”.
VEJA tentou entrevistar Lula a respeito do episódio. Sem sucesso, enviou a seguinte mensagem aos assessores: “Estamos fechando uma matéria sobre o julgamento do mensalão para a edição desta semana. Gostaríamos de saber a versão do ex-presidente Lula sobre o encontro ocorrido em 26 de abril, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, com a presença do anfitrião e do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, no qual Lula fez gestões com Mendes sobre o julgamento do mensalão”. Obteve a seguinte frase como resposta: “Quem fala sobre mensalão agora são apenas os ministros do Supremo Tribunal Fe¬deral”. Certo. Mas eles têm ouvido muito também sobre o mensalão”.
Encerro
É isso aí. Não há um só jornalista de política que ignore essas gestões de Lula, sempre contadas em off. Ele mesmo não tem pejo de passar adiante supostas informações sobre comprometimentos deste ou daquele. Desde o início, estava claro que pretendia usar a CPI como instrumento de vingança contra desafetos — inclusive a imprensa — e como arma para inocentar os mensaleiros.
É isso aí. Não há um só jornalista de política que ignore essas gestões de Lula, sempre contadas em off. Ele mesmo não tem pejo de passar adiante supostas informações sobre comprometimentos deste ou daquele. Desde o início, estava claro que pretendia usar a CPI como instrumento de vingança contra desafetos — inclusive a imprensa — e como arma para inocentar os mensaleiros.
As
informações estarrecedoras da reportagem da VEJA dão conta da degradação
institucional a que Lula tenta submeter a República.
Como já afirmei aqui, ele exerce, como ex-presidente, um papel muito mais nefasto do que exerceu como presidente. O cargo lhe impunha, por força dos limites legais, certos impedimentos. Livre para agir, certo de que é o senhor de ao menos seis vassalos do Supremo (que estes lhe dêem a resposta com a altivez necessária, pouco impota seu voto), tenta fazer valer a sua vontade junto àqueles que, segundo pensa, lhe devem obrigações. Aos que estariam fora do que supõe ser sua área de mando, tenta aplicar o que pode ser caracterizado como uma variante da chantagem.
Como já afirmei aqui, ele exerce, como ex-presidente, um papel muito mais nefasto do que exerceu como presidente. O cargo lhe impunha, por força dos limites legais, certos impedimentos. Livre para agir, certo de que é o senhor de ao menos seis vassalos do Supremo (que estes lhe dêem a resposta com a altivez necessária, pouco impota seu voto), tenta fazer valer a sua vontade junto àqueles que, segundo pensa, lhe devem obrigações. Aos que estariam fora do que supõe ser sua área de mando, tenta aplicar o que pode ser caracterizado como uma variante da chantagem.
Tudo isso
para reescrever a história e livrar a cara de larápios. Mas também essa
operação foi desmascarada. Por VEJA! Por que não seria assim?
Nem a
ditadura militar conseguiu do Supremo Tribunal Federal o que Lula
anseia: transformar o tribunal num quintal de recreação de um partido
político.
Nenhum comentário:
Postar um comentário