sexta-feira, 11 de maio de 2012
A GRANDE COMISSÃO DA HIPOCRISIA
Não julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.
E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?
Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.
Mateus 7:1-5
OS VIRA-LATAS DO BUMBA
(crônica de Maria Rita Kehl)
A chuva no Rio deu uma folga, mas espero que o assunto não saia dos noticiários. Não é hora de esquecer a catástrofe causada não pela intempérie, mas pelo descaso habitual do poder público em relação à vida dos pobres. No momento em que escrevo, a contagem das vítimas está em 412 feridos resgatados dos escombros em todo o Estado. E 251 mortos. Por enquanto.
É injusto que o sofrimento de um
animal nos comova tanto assim. Talvez isso ocorra por conta de seu estatuto de
vítima radical, 100%inocente e ignorante a respeito da tragédia humana, sempre
humana, que o abateu.
Penso na matança dos cavalos pelos capangas do
Hermógenes, em Grande sertão:veredas. Muitos amigos de Riobaldo morrem na
batalha da fazenda dos Tucanos, mas Guimarães Rosa capricha na emoção ao
descrever a execução covarde dos cavalos presos, que não podem fugir. Não me
espanta que o vira-lata salvo da lama e do lixo nos faça chorar. Mas porque não
sentimos comoção muito maior diante de tanta gente desesperada, sem casa, no fim
de suas forças, a procurar ainda pelos filhos, pais, esposos/as, amigos? Por que
não nos desesperamos diante desse e de outros, entre os milhões de brasileiros
que ainda vivem vulneráveis não apenas às chuvas, mas a tudo, tudo?Ou, então,a comoção que sentimos nesse caso talvez seja de natureza diversa da que produz lágrimas fáceis. Talvez esteja mais perto do desespero e da resignação humilhada do que da piedade.
No ensaio "Da tristeza", Montaigne se indaga sobre o episódio narrado por Heródoto no qual o rei egípcio Psammenit, derrotado pelo persa Cambises, vê desfialarem diante de si a filha vestida como escrava e o filho a caminho da forca. Psammenit suporta, cabisbaixo, a tragédia que abate seus filhos; mas explode em lágrimas diante da visão de um velho amigo da família (a tradução é controversa: amigo ou criado?) que pede esmolas aos soldados, como um mendigo faminto.
Montaigne considera a possibilidade de que na visão do velho amigo teria sido a gota d'água que fez transbordar o ''pote até aqui de mágoa" do rei vencido.
mas considera também o relato de Heródoto, para quem a dor ante o destino dos familiares do rei era grande demais para ser chorada. As grandes dores estariam além de qualquer possibilidade de expressão.
É mais suportável sofrer pelo cachorrinho do que pelos moradores do Bumba, assim como parece mais imediata nossa identificação com a impotência dele.
Conhecemos a ladainha do fatalismo brasileiro: primeiro se tenta o jeitinho, a viração. Vamos que vamos; se não piorar, já está bom. Depois vem a calamidade (chuva? Seca? Expulsão da terra? Bang bang) e a tragédia; depois a renovada esperança de tudo se ajeitar e a velha, santa paciência.
Do outro lado, os governos federal, estadual e municipal, que só agora liberam verbas, removem famílias de outras regiões de risco, determinam terrenos para construções de moradias de emergência.
A Caixa Econônica vai liberar empréstimos para as famílias reconstruírem suas casa.
Empréstimos? Não seria mais exato falar em indenizações?
Agora, só agora, as providências - se é que o dinheiro do Rio não vai parar outra vez na Bahia. Ah, o velho PMDB, nossa mais vergonhosa resignação! Qual a diferença, hoje, em relação ao ex-PFL?
No morro do Borel,
150 pessoas - somente desabrigados e seus familiares - fazem protesto contra a
precariedade de sua condição e exigem a presença do poder público. Manifesto do
Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói critica a
especulação imobiliária que expulsa famílias pobres dos bairros para suas
encostas e contribui para a deteriorização do meio ambiente. E exige
"...compromisso com os problemas públicos, que nos respeitem como cidadãos e
seres humanos."
(CRÔNICA DA PROFESSORA E ESCRITORA MARIA RITA KEHL, EXTRAÍDA DO SEU LIVRO - 18 CRÔNICAS E MAIS ALGUMAS - Editora BOITEMPO EDITORIAL) Uma belíssima e verdadeira crônica, sem a menos dúvida. Maria Rita Kehl é uma das pessoas escolhidas por Dilma Rousseff para fazer parte da "COMISSÃO DA VERDADE". Nome errado, completamente errado como provam a imoralidade, a corrupção e as imundices pelas quais este país passou nos últimos quase doze anos. Doze anos de governo PT, partido justamente daqueles que se disseram perseguidos e torturados pelos militares, que agora, com esta indecente comissão, querem julgar. A comissão deveria sim se chamar de " COMISSÃO DA HIPOCRISIA" a maior que este país já viu.
SIM, EU ME SINTO COMO O
CACHORRINHO VIRA-LATAS DO MORRO BUMBA, SEM ENTENDER O QUE TENHO A VER COM TODA
ESTA BAGUNÇA.
CRESCI NA ÉPOCA DA DITADURA, TORCI POR UM PAÍS MELHOR, MAIS
LIVRE, MAIS JUSTO, MAIS DECENTE, SEM MEDOS E SEM CENSURA. TORCI PARA QUE OS PERSEGUIDOS DAQUELA ÉPOCA, UM DIA PUDESSEM CHEGAR AO PODER E MOSTRAR CARÁTER E DIGNIDADE.
MAS O QUE ACONTECEU? JUSTAMENTE ESTES ME PROVARAM QUE PODE EXISTIR ALGO AINDA PIOR QUE A VELHA DITADURA. ALGO BEM MAIS SUJO, PODE EXISTIR A HIPOCRISIA, A INSEGURANÇA, A CORRUPÇÃO, MENSALÕES, IMUNDICES NUNCA ANTES VISTAS NESTE PAÍS E ACIMA DE TUDO, PODE EXISTIR A TOTAL IMPUNIDADE CONTRA TODOS ESTES SALAFRÁRIOS E BANDIDOS QUE UM DIA CLAMARAM POR JUSTIÇA E LIBERDADE.
ERA ESTA A LIBERDADE QUE QUERIAM? ROUBAR OS COFRES PÚBLICOS E SE DEFENDEREM ENTRE SÍ?
AGORA CRIAM UMA COMISSÃO, QUE OUSAM CHAMAR DE "COMISSÃO DA VERDADE"?
NÃO, TIREM PRIMEIRO O ARGUEIRO DOS SEUS OLHOS, DEPOIS, TALVEZ....
(SIEGMAR)
P/S - Abra seus olhos e sua mente sra. Maria Rita Kehl, a senhora esta do lado errado, esta do lado dos bandidos.
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