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sexta-feira, 11 de maio de 2012



POPULARIDADE E CLASSE C


“Se 50 milhões acreditam numa besteira,  
a besteira continua sendo uma besteira.”
Bertrand Russell

Waldo Luís Viana*
        
Vivemos os tempos áureos da estrepitosa popularidade da “presidenta” Dilma. Sua posição nas pesquisas é até proporcionalmente bem melhor que a de seu predecessor, o ex-presidente “nunca dantes nestepaiz”...
Infelizmente, tal patamar feérico talvez possa ser explicado pelos dois salários mínimos recebidos por até 61% da população ativa e a constatação de que 67% do povo brasileiro não passam além do curso primário, segundo dados do próprio IBGE (2010).  Talvez seja essa a massa crítica capaz de nos fazer entender a inacreditável aceitação da atual mandatária. Pobre país!
Parece, então, que navegamos em águas límpidas, com céu de brigadeiro, sem qualquer inimigo visível à disposição, mas tal não é verdade. Senão vejamos:
·        temos quase 30 partidos, o que não recomenda nenhuma reforma política séria, em virtude de ficarmos submersos no mais hipócrita regime de opinião e leilão de virtudes públicas;
·        o Estado aparelhado virou dogma, mas é contrário ao bom funcionamento de uma verdadeira sociedade de massas;
·        os pelegos não têm inteligência nem competência para gerir um Estado complexo, cujas demandas estão muito além da reprodutibilidade da corrupção e do compadrio;
·        o Estado é colonizado por interesses privados e isso não depende da ideologia do partido que desfruta do governo;
·        a pretensa descentralização do poder, via coalizão, com “porteira fechada para cargos nos ministérios” não funciona na prática nem fortalece os partidos;
·        o sindicalismo de resultados é mera fachada para uma cobrança eterna de pedágios e verbas governamentais, em troca do silêncio de cemitério nas praças públicas;
·        governar sob um modelo exaurido, com abundância de cargos de confiança (22 mil) e uma burocracia não profissional a serviço de interesses menores, é garantia de fracasso a longo prazo;
·        o Estado atrasado e patrimonialista é o paradigma de um país velho que precisamos superar;
·        o partido no governo só tem objetivos eleitorais, uma espécie de “partido burguês com dentadura”, agindo como um centrão aglutinador de oligarquias atrasadas;
·        o governo finge que deseja uma reforma tributária, mas não vai fazê-la, porque a classe sindical e a militância precisam continuar penduradas no Estado perdulário e agigantado;
·        os pelegos, ONGs, movimentos sociais, políticos e empreiteiras insistem em se manter domesticados, em troca de cargos, verbas e superfaturamentos, tencionando engordar, com os caixas dois, as caixinhas eleitorais;
·        os comensais do bolsa-família são conservadores, não querendo promoção social nem empregabilidade e preferindo  ver o governo sustentar eternamente os seus respectivos  segmentos;
·        o vale-tudo do socialismo de mercado locupleta-se da corrupção e do servilismo, tencionando desmoralizar  os mecanismos de controle, fiscalização e a própria ordem jurídica;
·        o governo não consegue se libertar da camisa-de-força da dívida interna e de suas consequências brutais, a partir do superávit primário;
·        e, finalmente, a desindustrialização é consequência do custo-Brasil, de impostos excessivos, da logística e infraestrutura sofríveis, pouco desenvolvidas e mal-assistidas.

Tal quadro, sumariamente composto, gera um governo particularista, em que a “presidenta” opera como figura apagada, medíocre e de mera transição. Seus projetos praticamente não saem do papel ou estão originalmente contaminados pela corrupção onipresente. Diríamos até que sua administração anda “empacada”...
Por outro lado, a grande invenção do governo, que contribuiu efetivamente para a sua sustentação popular e eleitoral, foi o surgimento e manutenção de uma classe C, formada a partir de padrões de consumo popular  e de um nível de renda em média de 1.500 dólares.
A classe C, completamente destituída de ideologia, só quer mesmo é consumir. Tal fato sociológico é de tão grande envergadura que a mídia, nos últimos anos, tem aberto francamente as portas para esse contingente, manobrando a programação das redes de televisão no sentido de agradar esses emergentes de ocasião.
Não é à toa que se investe em temáticas suburbanas, em duplas caipiras e cantores evangélicos nas novelas e nos intervalos comerciais, povoando o horário nobre de ícones que somente interessem àquela classe. A pretexto de inclusão social, aprofunda-se ainda mais o abismo entre um país preferido pela norma culta de outro, mitificado pela deseducação, pelos preconceitos às avessas, erros propositais de português, termos chulos e programas de ofertas aos carentes e necessitados.
Como esse contingente constitui-se, hoje, de cerca de 38% da população, tem impulsionado as modificações da economia e da cultura, sendo a alienação ideológica um traço distintivo de comportamento que o sujeita a toda espécie de manipulações.
Nesse contexto, contemplamos aí um ovo da serpente de futuros Hitlers e Mussolinis, cujos objetivos de ódio supõem sempre o cancelamento do regime democrático em nome do culto à personalidade. Quem não está habituado a pensar, quando o “calo econômico” aperta, está sujeito a aceitar quaisquer soluções fantasiosas e diabólicas, mesmo que firam de morte o Estado Democrático de Direito.
A classe C é, pois, fascistóide em suas origens, porque não tem rumo nem destino. Ela aplaude quem a faz sobreviver, comer e consumir. Enquanto for assim, tudo bem: o dirigente de ocasião terá assegurada a popularidade. No entanto, se o tempo fechar, com nuvens plúmbeas, logo a sustentação do regime demonstrar-se-á frágil e proporcional à saúde de nossos últimos mandatários.
Afinal, os truques de marketing esgotam-se e o que era considerado verdade passa a ser mentira, mesmo para os espíritos dorminhocos. E os espíritos despertos evidentemente desconfiam muito da calmaria podre em que estamos vivendo...
Afinal, popularidade é coisa invisível, pouco confiável e não enche barriga de ninguém, muito menos da classe C...
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*Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e adora enxergar contra a corrente...
Teresópolis, 7 de maio de 2012.

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