Dilma e o fantasma da Delta
Por Guilherme Fiuza - Revista
Época
Dilma
Rousseff pediu à sua assessoria um “pente fino” nos contratos da construtora
Delta com o governo federal. A presidente da República quer saber se há
irregularidade em alguma dessas obras. O Brasil assiste embevecido a mais uma
cartada moralizadora da gerente. Mas o ideal seria ela pedir à sua
assessoria, antes do pente fino, uns óculos de grau. Se Dilma não
enxergou o que a Delta andou fazendo com seu governo, está correndo perigo: pode
tropeçar a qualquer momento num desses sacos de dinheiro que atravessam o seu
caminho, rumo às obras superfaturadas do PAC.
Como todos
sabem, até porque Lula cansou de avisar, Dilma é a mãe do PAC. Por uma dessas
coincidências da vida, a Delta é a empreiteira campeã do PAC. Segundo a
Controladoria-Geral da União (CGU), as irregularidades nas obras tocadas pela
Delta vêm desde 2007. A mãe do PAC teve pelo menos cinco anos para enxergar com
quem o seu filho estava se metendo. E a Delta era a principal companhia do
menino, andando com ele pelo Brasil afora num variado roteiro de traquinagens.
Mas as mães de hoje em dia são muito ocupadas, não têm tempo para as
crianças.
Felizmente, sempre tem uma babá, uma
vizinha, uma amiga atenta para abrir os olhos dessas mães distraídas. Dilma
teve essa sorte, em setembro de 2010. A CGU, que vive controlando a vida alheia
– uma espécie de bisbilhoteira do bem –, deu o serviço completo: contou a Dilma
e Lula (a mãe e o padrasto) que o PAC vinha sendo desencaminhado pela Delta.
Superfaturamento, fraudes em licitações, pagamento de propinas e variadas
modalidades de desvio de dinheiro público – inclusive com criminosa adulteração
de materiais em obras de infra-estrutura – estavam entre as molecagens da
empreiteira com o filho prodígio da então candidata a presidente.
De posse do relatório da CGU, expondo a farra
da Delta nas obras do PAC, o que fez Dilma Rousseff? Eleita presidente, assinou
mais 31 contratos com a Delta.
Talvez seja bom explicar de novo, para os
leitores distraídos como a mãe do PAC: depois da comunicação à administração
federal sobre as irregularidades da Delta, a empreiteira recebeu quase R$ 1
bilhão do governo Dilma. Agora a presidente anuncia publicamente que passará um
pente fino nesses contratos, e a platéia aplaude a faxina. Não só aplaude, como
dá novo recorde de aprovação a esse mesmo governo Dilma (64% no Datafolha),
destacando o quesito moralização. Infelizmente, pente fino não pega
conto-do-vigário.
Mas o show tem que continuar. E já que o
público está gostando, a presidente se espalha no picadeiro. Depois da farra da
Delta, que teve seu filé mignon no famigerado Dnit (Departamento Nacional de
Infra-estrutura de Transportes), Dilma diz que quer saber se a faxina no órgão
favoreceu Carlinhos Cachoeira. Tradução: depois de ter que demitir
apadrinhados de seus aliados porque a imprensa revelou suas negociatas, Dilma
quer ver se ainda dá para convencer a platéia de que o escândalo foi plantado
pelo bicheiro. É claro que dá: se Lula repete por aí que o mensalão não existiu
(e não foi internado por causa disso), por que não buzinar a versão de que o
caso Dnit foi uma criação de Cachoeira?
Pelo que indicam as escutas telefônicas da
Polícia Federal, o bicheiro operava com a Delta na corrupção de agentes
públicos. Dilma e o PT são candidatos a vítimas desse esquema – daí Lula ter
forçado a CPI do Cachoeira. O problema na montagem dessa literatura é que a
Delta, mesmo depois da revelação do esquema e da prisão do bicheiro, continua
recebendo dinheiro do governo Dilma – R$ 133 milhões só em 2012, e através do
Dnit…
A atribulada mãe do PAC não notou a Delta, não
percebeu Cachoeira, engordou o milionário esquema deles no Dnit durante anos por
pura distração, e agora vai moralizar tudo isso com o seu pente fino mágico. Na
próxima rodada das pesquisas de opinião, o vigilante povo brasileiro saberá
reconhecer mais essa faxina da mulher destemida, dando-lhe novo recorde de
aprovação.
Nesse ritmo, a CPI do Cachoeira vai acabar
concluindo que até o escândalo do mensalão foi provocado pelo bicheiro (essa
tese já existe). E Dilma conquistará para o PT o monopólio da
inocência.
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