Esse comportamento autofágico pode comprometer seu futuro político dentro da legenda
Pedro Marcondes de Moura
JOGANDO CONTRA
Atitude de Marta Suplicy contribuiu para atrapalhar a celebração de alianças pela candidatura do PT Revista IstoÉ
É comum ao político que perde a capacidade de influir nos destinos de seu próprio partido, coleciona derrotas e acumula mágoas reagir se contrapondo aos líderes ascendentes simplesmente para marcar posição.
Assim vem agindo a senadora Marta Suplicy (PT-SP) desde que foi alijada da disputa pelo governo paulista em 2010. No sábado 2, porém, a senadora passou da fronteira que delimita as brigas internas para adotar um comportamento autofágico.
Sob o comando do marqueteiro João Santana, o PT havia preparado uma superprodução para formalizar a candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, principal aposta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2012.
Foram fechados dois andares do Expo Center Norte, um dos maiores centros de convenções da capital paulista. Cerca de 1,2 mil militantes e aproximadamente mil delegados do partido assistiam aos discursos inflamados de ministros e parlamentares transmitidos em tempo real em enormes telões e aguardavam a presença da senadora e ex-prefeita de São Paulo.
Apesar de, nos últimos anos, Marta Suplicy ter presenciado o declínio de seu poder dentro da legenda, o presidente Lula faz questão de tratá-la como uma das maiores estrelas da campanha, ao lado dele próprio e do pré-candidato Haddad.
A ex-prefeita havia confirmado presença. No entanto, não deu o ar da graça. Para os líderes petistas, o recado foi claro: Marta não pretende gastar seu salto em uma campanha em que foi preterida.
Durante o encontro, correligionários ligavam sem sucesso para o celular de Marta.
A resposta para a ausência só veio na segunda-feira 4: “Um impedimento de caráter privado impossibilitou a senadora Marta Suplicy de comparecer ao evento”, tentou esclarecer a ex-prefeita por intermédio de sua assessoria.
Coube ao presidente do PT paulista, Edinho Silva, cobrá-la publicamente: “A Marta está errando politicamente”, declarou. “Sua ausência materializa algo muito grave. Ela renuncia a sua liderança política no momento em que o PT mais precisa dela.”
De fato, o comportamento de Marta só contribui para tumultuar a eleição e dificultar a celebração de alianças pela candidatura do PT à Prefeitura de São Paulo. Sem querer falar com a imprensa, a senadora reapareceu publicamente, na terça-feira 5, no Congresso, distribuindo beijinhos. Pegou mal.
“Se nem a Marta acredita na viabilidade de Haddad, por que os partidos aliados iriam entrar nessa canoa?”, perguntam-se companheiros de primeira hora ligados ao PCdoB.
Na quarta-feira 6, Marta voltou a criticar a candidatura de Haddad.
Disse que sua ausência no evento do sábado transmitia a indignação.
A senadora complementou ainda que só entraria na campanha após o começo do horário eleitoral.
DE CIMA PARA BAIXO
O PT está cada vez mais refém das decisões do ex-presidente Lula
Outras agremiações como o PR e o PP, integrantes da base de sustentação ao governo federal, já anunciaram apoio ao principal adversário, o candidato José Serra.
A expectativa é de que o PSB declare apoio formal nos próximos dias. Mas para atrair os socialistas ao palanque de Haddad foi preciso uma intervenção pesada no diretório do Recife.
Na capital de Pernambuco, o atual prefeito, João da Costa, havia vencido o secretário estadual Maurício Rands nos votos dos militantes.
A prévia, porém, foi anulada. Pouco palatável para o governador Eduardo Campos (PSB) e lideranças petistas, como Lula, João da Costa sofreu pressão para desistir de sua candidatura em favor do senador Humberto Costa. Como ele não aceitou, a Executiva Nacional do PT marcou uma reunião na terça-feira 5 para discutir uma saída.
Em defesa da manutenção da candidatura, militantes fizeram vigília até a divulgação da decisão da cúpula petista. Prevaleceu, no entanto, a posição da direção do partido: o senador Humberto Costa será o nome nas urnas.
Em troca, o PSB promete apoiar Haddad à Prefeitura de São Paulo, o que, se confirmado, será menos um desfalque na complicada tarefa do PT de sacramentar alianças, que as atitudes de Marta Suplicy, até agora, só têm atrapalhado.
INTERVENÇÃO
Embora tenha vencido as prévias, o prefeito do Recife, João da Costa (abaixo), viu a Executiva Nacional do PT impor o nome do senador Humberto Costa
A avaliação no PT é de que Marta Suplicy parece não reconhecer a sua atual posição política. Ainda se comporta como em 2001, quando comandava a maior máquina administrativa do PT, a cidade de São Paulo. De lá para cá, a senadora foi derrotada duas vezes nas eleições para o Executivo paulistano, assistiu à escalada da legenda ao governo federal e acompanhou o esfacelamento do seu grupo político, que chegou a ser um dos mais fortes dentro do Partido dos Trabalhadores. Hoje, já não exibe as mesmas credencias que forçavam correligionários a se submeter às suas vaidades.
Marta age como se estivesse no antigo PT, sobre o qual exercia influência e cuja militância tinha voz ativa no partido. Atualmente, o ex-presidente Lula e a cúpula partidária imprimem de maneira cada vez mais forte suas digitais nas decisões da legenda, sobrepondo-se em muitos casos à histórica militância.
Para o analista político e professor da USP Gaudêncio Torquato, no cenário atual não há espaço para confrontar Lula ou a direção do PT. Mais cedo ou mais tarde, Marta terá de aderir à campanha de Haddad. “Se ela não entrar, será alijada do partido”, explica.
Ou seja, ao fim, um apoio constrangido de Marta a Haddad pode jogar politicamente contra ela; e uma derrota na capital paulista, ao contrário do que ela imaginava, seria debitada na sua conta.
Outro retrato desse novo PT ao qual Marta ainda não conseguiu se adaptar é Belo Horizonte.
Lá, o vice-prefeito e presidente do diretório municipal do PT, Roberto Carvalho, critica o apoio à reeleição de Márcio Lacerda (PSB) sacramentado em uma decisão acirrada num enlace político com a presença do PSDB.
O acordo foi outra exigência feita pelo presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, para entrar na coligação de Haddad. Defensor da candidatura própria, o vice-prefeito diz que a tese não prosperou graças à pressão do comando petista. “O Rui Falcão (presidente nacional da sigla) veio aqui dois dias antes da decisão e se declarou favorável à aliança”, explica.
“É, no mínimo, um desrespeito com a militância.” Segundo Roberto Carvalho, o presidente Lula também mobilizou o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o ex-ministro Patrus Ananias para pressionar os delegados partidários. Como resposta, parte da militância criou um movimento intitulado “resposta petista”.
“O que está acontecendo é a velha política de caciques. Não o PT que fundamos”, sintetiza. “Queremos aquele partido de participação popular”, complementa o vice-prefeito, com a experiência de quem diz ter passado por uma autocrítica após ter defendido a aliança com os socialistas em 2008.
Só que aquele partido, que povoa a lembrança dos militantes e do vice-prefeito de Belo Horizonte, não existe mais.
Marta Suplicy também precisa entender a nova circunstância.
09.Jun.12
Um comentário:
"Vote 3, o resto é burguês?"
São os burgueses que, forçosamente, sustenta essa CORJA MALDITA.
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