HIPOCRISIA MILITAR
Por Claudio
Buchholz Ferreira
Uma mania humana é analisar as
situações por uma ótica simplista, por um viés parcial, sem considerar os
méritos que conduziram a determinada situação. Ante o caso do Coronel
Ustra, temos ouvido de muitos militares, principalmente da Ativa,um ar de
condenação, de desdém,não se atrevem a emitir juízo de valor, mas agem com
ar de superioridade, tratando-o como uma espécie de ralé da classe, uma
aberração. Vide recente proibição ao Coronel Ustra de proferir palestra no
CPOR do Rio, julgando-o inadequado.
Peço licença aos que pensam
assim pra seguir o seguinte raciocínio. A história de 1964 já é por todos
conhecida, mas só para relembrar, estávamos em plena Escalada
Revolucionária, e, após sucessivas demonstrações de anarquia, baderna,
desordem, precipitou-se a Contra-revolução. Daí em diante aumentou a
escalada do conflito interno, até que, em 1966, o atentado a bomba no
aeroporto de Guararapes detonou o início da luta
armada.
Pergunto aos que se julgam
superiores, como deveria ter sido a reação? Tíbia, vacilante, respeitadora
dos direitos individuais, o batido Direitos Humanos. Vivemos uma era
interessante sobre a égide do terrorismo mundial. Como os americanos
deveriam ter confrontado o terrorismo que numa só tacada matou quase 3.000
pessoas? Usando das estratégias tradicionais, pressão diplomática,
negociações? Estes que se arrogam superiores por não terem tido que lutar
contra o terrorismo, você como militar que solução
proporia?
Agora, fora do contexto é muito
fácil qualquer um falar sobre como se abusou na luta contra subversão.
Como deveriam ter agido, como na Colômbia, onde "coincidentemente" a
guerra subversiva se iniciou em conjunto com a que aqui eclodiu. Para quem
não conhece o que aconteceu e acontece na Colômbia, basta seguir a
lógica.
Quando do surgimento dos
primeiros focos de guerrilha, o estado Colombiano vacilou em tomar
decisões duras. Sabem o resultado, milhares de viúvas de civis e de
militares de todas as armas, quase 50000 mortos, mais de 100 vezes mais
mortos do que aqui. Aos que querem ignorar os fatos, basta ler qualquer
jornal da Colômbia, veja quantos militares mortos. Isso há mais de 40
anos.
Portanto aos que condenam,
saibam que sua paz teve um preço, o fato de poderem viver relativamente em
paz, terem um lar para voltar, seus filhos e netos com integridade física,
seu próprio bem-estar,é um legado daqueles que cumpriram sua missão, não
fugiram ao seu dever, nem a luta.
Soldados da paz jamais devem
condenar os soldados da guerra, eles que foram às trincheiras, fizeram o
que tinham que fazer.
Na escala da honra isso vale
muito mais do que alguém que passou 30, 40 anos em serviço sem sofrer um
único arranhão pelo simples fato de ser
militar.
Pois foi isso que aconteceu
aqui, onde muitos jazem mortos, tendo como único crime ter seguido a
carreira militar.
Desçam do seu salto alto, vocês
não têm envergadura moral de julgar, muito menos condenar
ninguém.Recolham-se aos seus lares, ao seu sono tranqüilo, porque os que
cumpriram seu dever, pela ordem e paz da nação estão sendo covardemente
linchados.
Claudio Buchholz
Ferreira é Capitão-de-Mar-e-Guerra da
reserva.
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