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terça-feira, 13 de março de 2012

Carta do General para Mirian Leitão

Prezada Senhora Miriam Leitão:

Tendo lido seu artigo “Círculo Militar” e, dada a elevada conta em que tenho sua inteligência, me sinto obrigado a entrar em contato com a Senhora para lhe oferecer, com profundo respeito às suas opiniões pessoais e ao seu direito de expressá-las, uma interpretação, também pessoal, do problema da chamada comissão da verdade, uma vez que nele a Senhora acusa os militares brasileiros, entre outras coisas, de se oporem radicalmente a sua criação.

O problema fundamental é que vivemos em uma época em que o partido de plantão no poder não merece qualquer confiança nos quesitos ética, moral, justiça, respeito e, em consequência, verdade. Não há como acreditar que esse grupo queira, de fato, buscá-la. O Cristo é claro quando afirma que “...a árvore ruim não pode dar bons frutos.”

Com efeito, as esquerdas brasileiras, derrotadas no campo de luta pela contrarrevolução de 1964, se esmeraram desde então em uma campanha de propaganda bem ao tipo Gramsci, visando reescrever a história, distorcendo fatos, negando suas verdadeiras intenções e demonizando aqueles que os enfrentaram e venceram naquela oportunidade.

A verdade é que os grupos que foram combatidos não desejavam, de maneira nenhuma, “restabelecer a democracia no Brasil”, como dizem, mas sim fazer exatamente o contrário, estabelecendo no país uma ditadura comunista. Esse desiderato é hoje confirmado por inúmeros então participantes daquelas manobras, hoje desiludidos e trazidos à luz da razão pelo amadurecimento político e pelo convencimento da absoluta falta de competência daquele regime para trazer o bem estar ao povo, embora excepcionalmente efetivo para promover o enriquecimento pessoal ilimitado dos membros da “intelligentsia” do partido.

Os militares em particular constituem o alvo preferencial de suas manobras escusas, primeiro porque nunca deixarão de agir, por todos os meios de que disponham, até mesmo com o sacrifício da própria vida, para impedir que o Brasil seja arrastado a aventuras inconsequentes, e segundo porque a devoção à honra, à ética, à moral e à Pátria faz com que as FFAA sejam a instituição de maior prestígio junto ao povo brasileiro. É essencial para aqueles grupos que a imagem de seus integrantes seja denegrida perante a população.

Eles são pintados como seres sádicos, sedentos de sangue, torturadores cruéis, que escolhiam suas vítimas entre pessoas inocentes e ingênuas, sem qualquer vínculo com as monstruosidades que o terrorismo vinha praticando, que eram aprisionadas, torturadas e eventualmente até mortas sem ter a mínima ideia do porque daquelas atitudes contra elas.

É possível que tenha havido violações por parte dos agentes da lei no combate ao terrorismo. Mas suas vítimas nunca foram inocentes e, menos ainda, ingênuas. Os excessos, se os houve, foram cometidos no ardor do empenho em prever e neutralizar atentados terroristas, estes sim, que matavam e feriam, a torto e a direito, civis absolutamente inocentes e espalhavam a insegurança e o medo entre a população ordeira e pacífica. É preciso ter vivido naquela época, ou ter a humildade de procurar se esclarecer a respeito, para entender a excepcionalidade do momento que se vivia.

Se houve ilícitos, os houve de ambos os lados, em uma situação de guerra revolucionária. A Lei da Anistia, ampla, geral e irrestrita, tão enfaticamente exigida pelo povo brasileiro, veio para pacificar a Nação e apagar as nódoas do passado sepultando definitivamente as violações por parte de todos os envolvidos. Se for verdade que as forças do Estado agiram mal contra terroristas, isso só ocorreu tentando evitar que aqueles indivíduos continuassem semeando a morte e a destruição no seio do povo. Se uns forem passíveis de execração pública, outros o serão ainda mais, pela aleatoriedade de seus alvos.

A Senhora parece espantar-se com o fato de o Gen. Rocha Paiva lançar dúvida sobre a ocorrência ou não de tais crimes e de tortura nas instalações militares da época. Essa dúvida existe sim, pois a orientação da esquerda, muito bem explicitada pelo ator comunista Mario Lago, era para que qualquer um que tivesse sido detido, qualquer que fosse o motivo ou a duração de sua detenção, declarasse peremptoriamente ter sido barbaramente torturado. Logo, cabe perfeitamente dúvida sobre se a Exma. Senhora presidente da República tenha realmente sofrido qualquer mau trato que seja.

Por isso tudo, uma comissão de tal ordem é impossível dentro do ambiente de mentiras e malfeitos em que está mergulhado nosso país, ambiente esse previamente criado por aqueles que agora se transvestem em paladinos da verdade. Os militares não seriam contra comissão nenhuma se houvesse a garantia absoluta de que, sob o manto da Lei da Anistia, a verdade, toda a verdade e somente a verdade fosse seu objetivo. Se se buscasse mostrar o que aconteceu, porque aconteceu, quem fez o que e porque o fez. Aí sim, se teria uma Comissão da Verdade com letras maiúsculas. Mas o que se deseja é dar aos terroristas de ontem a auréola de libertadores democratas e aos militares de sempre a pecha de criminosos cruéis.

Militares de ontem, de hoje e de sempre jamais se envergonharão de seu papel naqueles tempos de exceção. Patrícios nossos, mas agindo em nome de Cuba, da China e da Rússia, pegaram em armas para implantar o comunismo em nossa Pátria. Foram derrotados. Vieram, mas não passaram. E assim será sempre, porque assim os soldados da Pátria juraram que tem que ser.

Os militares brasileiros não se pejam de serem submetidos ao poder civil, pois que isso é uma característica republicana e eles são guardiões da República. O poder político não faz parte de seus objetivos, nem remotamente. As FFAA são instituições de Estado, fieis servidoras da Pátria, respeitando a autoridade de todo e qualquer governo democraticamente eleito e respeitador da Constituição ele também. Excepcionalmente, esses votos foram rompidos em 1964, em uma operação extrema de garantia da lei e da ordem, por exigência direta do povo nas ruas.

Agradecendo profundamente por seu tempo e desejando que minhas palavras tenham despertado na Senhora o desejo de aprofundar seu conhecimento sobre aquela época, aproveito esta rara oportunidade para apresentar-lhe meus protestos de respeitosa consideração.

Cordialmente,

José Gobbo Ferreira

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