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terça-feira, 3 de abril de 2012

OSCAR ELÍAS BISCET (*) – TRADUÇÃO DE FRANCISCO VIANNA

APÓS A VISITA DO PAPA ::

OSCAR ELÍAS BISCET (*) – TRADUÇÃO DE FRANCISCO VIANNA

Não me opus à visita do Papa Bento XVI ao meu país, muito embora convencido de que não esperava qualquer palavra de solidariedade daqueles com quem há muitos anos buscamos a liberdade para a nação cubana.

A dissidência em Cuba enfrenta um sistema totalitário estalinista, com todos os recursos a sua disposição para frear ou aniquilar qualquer ato de rebeldia na busca dos direitos humanos fundamentais dos cubanos. Aqueles que levantam sua voz contra a injustiça são vituperados e ultrajados em seus meios massivos de difusão.

O terrível sistema carcerário, as torturas e o paredão de fuzilamento são os destinos obrigatórios para esses valentes contestadores. Uma multidão se aglomerou para ver a comitiva papal em seu traslado do aeroporto à Havana Não me alongarei em citar os vergonhosos atos da hierarquia da Igreja Católica cubana e nem adiantaria, a julgar pelo fato de ela ter chamado a polícia e expulsado à força um grupo de pessoas que confiaram na sua caridade e se refugiaram, em seu seio, para reclamar suas devidas liberdades básicas para si e seus concidadãos. Tampouco pelo fato da igreja não ter aceitado rezar missa pelas almas dos mártires Orlando Zapata Tamayo, Juan Wilfredo Soto, Laura Pollán e Wilmar Villar.

A cumplicidade das igrejas cubanas com a ditadura castrista é tão evidente que, apenas com o seu silêncio cruel, ela tem assassinado durante anos a esperança de liberdade do povo cubano.
Bento XVI e seu staff de cardeais na “Plaza de La Revolucion” em Havana As palavras de Bento XVI durante sua estada em Cuba foram muito cautelosas para evitar desavenças com a cúpula castrista. Na missa de Santiago de Cuba, um cidadão sensível o fez lembrar em alta voz e foi
agredido cobardemente e preso pela polícia política do regime. Essa mostra de violência extrema perante sua eminência o Papa Bento XVI foi perpetrada à vista do povo, antes e durante a sua visita.

Nas diferentes homilias nesta visita papal não houve palavras de alento para estes valentes pacificadores e perseguidos. Foram convenientemente esquecidas as bemaventuranças de Jesus Cristo. Bemaventurados os que têm fome e sede de justiça, pois eles serão saciados. Bemaventurados os que padecem de perseguição por causa da justiça porque deles é o reino dos céus. Bemaventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus. Jesus Cristo foi um extremista da filosofia do amor. Dispôs-se a amar a todos, inclusive os inimigos, e orava pelos que o odiavam.

Existem pessoas com condutas aberrantes condenadas para sempre, como aqueles anjos que cumprem prisão perpétua até o juízo final. O evangelho nos recorda que não devemos misturar ou contemporizar o bem com o mal. Os maus devem se arrepender para que recebam o perdão cristão e a reconciliação.

No caso de Cuba deveriam sair do poder todas as pessoas relacionadas com ações sanguinárias, com crimes contra a humanidade e de genocídio, e se adotar medidas que garantam as liberdades básicas de todos os cubanos, sem exceções. E também se estabelecer um governo provisório comprometido com todas as forças democráticas do país. Então poderia ser iniciado um processo para a transição democrática. Em diversas ocasiões tenho indicado que a Igreja Católica cubana pode e deve atuar como mediador em todo o processo de libertação e de retorno à democracia para o povo cubano.

Hoje não nego, mas sugiro com bondade que primeiro se deve reestruturar a hierarquia da Igreja com pessoas que deem o exemplo da prédica cristã de Pérez Serantes, Pedro Meurice e outros bons sacerdotes católicos a quem podemos chamar de cardeais do povo. Assim se recuperaria a confiança na milenar instituição religiosa.

Entre os mediadores, não nos esqueçamos dos sacerdotes protestantes e evangélicos. Eles poderiam participar como instituição na formação de uma comissão de clérigos. Isto asseguraria um equilíbrio justo nas negociações ao longo do caminho rumo a um estado de direito democrático. Deus é a liberdade absoluta. Mesmo assim é poder, sabedoria, majestade, amor e glória. Para Ele, não há nada impossível. Por isto, esperamos e agimos, sob Sua inspiração para transformar nossa nação numa sociedade livre, na qual predomine, para o bem de todos, a sua tríade básica: cristianismo, economia de mercado e civilização.

(*) Presidente da Fundação Lawton de Direitos Humanos.

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