PIOR DO QUE ESTÁ FICA
Maria Lucia Victor Barbosa
09/10/2011
Desculpe-me, Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca, palhaço e deputado federal, mas pior do que está fica. Acabo de ler na Folha de S. Paulo que seu filho, Everson Silva, o Tirulipa, também palhaço, vai concorrer pelo PSB a uma cadeira de vereador em Fortaleza (CE) nas eleições do próximo ano. Pai e filho dão o que pensar sobre partidos políticos e outros temas como democracia, liberdade, cidadania.
Tiririca foi o deputado mais votado na eleição de 2010, com 1.353.820 votos. Disputou no Estado de São Paulo pelo PR, partido do Waldemar da Costa Neto. Dizia que não sabia o que fazia um deputado, mas que chegando lá prometia contar como era o “coiso”. Até hoje não contou e nunca discursou. Talvez, por se sentir inadaptado ao novo “picadeiro”, bem diferente daquele circense e ingênuo onde a função do palhaço é a de fazer rir principalmente as crianças. Talvez, por não conseguir decifrar o “coiso”, cujos embates por mais poder pessoal, a corrupção deslavada, os estonteantes privilégios e facilidades demandam certo tempo para serem assimilados e incorporados a partir da deterioração moral do indivíduo. Na campanha, enviando um raio de esperança aos seus eleitores, disse Tiririca: “pior do que está não fica”. Pois está ficando.
Com relação aos partidos políticos, se no período anterior às eleições de 1986 já se achavam descaracterizados como representantes da opinião pública ou de segmentos sociais, agora o processo de degradação se acentuou. Aumentam a criação e troca de siglas que sugerem o oportunismo da caça às vagas nas convenções e o acerto de interesses eminentemente pessoais de poder pelo poder. Exacerba-se o fisiologismo partidário. Evidencia-se a ausência de qualquer ideologia, princípio ou disciplina.
Pior, minguam as oposições na medida em que o PSDB enfraqueceu depois ter servido de linha auxiliar do PT durante os oito anos do governo Lula da Silva e o DEM encolhe com a migração de muitos de seus próceres para o partido de Gilberto Kassab, o PSD, um partido oportunista que bem ilustra a vulgarização e o comércio da política brasileira.
Nascido para servir ao governo petista, o PSD poderá garantir a sonhada hegemonia do PT a vigorar, como disse certa vez José Dirceu, por vinte anos. Ou mais, visto que Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Ahmadinejad e muitos outros ditadores mundo afora são companheiros diletos e exemplos para Lula da Silva e a classe dominante petista que comanda o espetáculo do poder.
Portanto, com exceção de uma voz ou outra que ainda se levanta no Congresso, seja do PSDB, seja do DEM, para denunciar as falcatruas e os desmandos do Executivo, a ausência de oposições partidárias e também institucionais reforça o domínio petista que em sua tática de perder, recuar, atacar, vai ganhando cada vez mais espaços, interferindo cada vez mais na vida da população.
Não será, pois, absurdo dizer, que o governo bifronte de Lula da Silva e Dilma Rousseff acabe por atingir, por exemplo, uma das metas já propostas pelo PT, que é a de acabar com a liberdade de imprensa, aspiração antiga que vem disfarçada em belo palavrório, mas que na verdade traduz o vezo autoritário de um partido que no fundo sonha como o modelo chinês para o Brasil: capitalista na economia, comunista na política.
A situação político partidária no Brasil não é, como se nota, de pouca monta. Coloca em jogo a democracia e inerentes liberdades civis. Demonstra como é rasa nossa cultura cívica. Afinal, quando não existe oposição resta a ditadura.
Ao mesmo tempo, a deterioração partidária conduz à banalização da política, ao nivelamento por baixo. Tirulipa que ser vereador em Fortaleza e certamente o será, confirmando assim a dinastia Tiririca. Nada demais depois que o Brasil elegeu e reelegeu Lula da Silva para a presidência da República. A partir daí tudo se transformou na ilusão da propaganda, tudo foi permitido, tudo foi corrompido, tudo foi vulgarizado, tudo foi comprado de modo nunca antes havido nesse país.
Lula da Silva, sem dúvida, fez escola, mas, o exemplo mais cabal de lulite crônica em forma aguda se apresenta na sucessora Dilma Rousseff. Recentemente na ONU Rousseff destilou a mesma arrogância lulista, o mesmo discurso pretencioso de quem quer ser professor do mundo e, quem sabe, de Deus. Na Europa, a fala entrecortada da presidente traiu sua dificuldade em se expressar, sua inaptidão para o cargo. A mesma lulite crônica acomete também ministros, como o do Esporte que integrava a comitiva, Ele não consegue dizer coisa com coisa.
É verdade que o povo vota no candidato e não no partido, mesmo porque, não temos partidos na concepção clássica, mas clubes de interesses. Isto denota nossa indigência política, porque sem partidos bem estruturados que sejam elos entre povo e governo resta o domínio do partido único e a bandalheira generalizada.
Ainda teremos muito a caminhar no Brasil rumo a uma autêntica democracia. Na atualidade, pior do que está fica.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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