Mundo ainda vai ficar pior antes de melhorar, diz David Darst
Chefe de investimento estratégico do Morgan Stanley Smith Barney afirma que 2012 pode ser ainda pior que 2011 e diz que Europa e os EUA precisam de reformas para superar a crise
Olívia Alonso, iG São Paulo | 29/09/2011
David Darst, do Morgan Stanley Smith Barney: 'países desenvolvidos precisam de reformas estruturais'
A crise europeia poderá fazer de 2012 um ano ainda pior que 2011, quando os problemas dos países endividados na Europa e da economia norte-americana espalharam preocupações por todo o mundo. A opinião é de David Darst, diretor do Morgan Stanley Smith Barney e chefe global de investimentos estratégicos do banco.
“Mas pode ser diferente caso as autoridades façam as coisas certas. De qualquer forma, o mundo vai piorar antes que fique melhor,” afirma.
Na lista de “coisas certas” a serem feitas, Darst inclui reformas tributárias, pesados cortes de gastos e envolvimento de alguns países europeus com o problema de outros.
Atualmente, diz ele, existe uma batalha entre autoridades e mercados. “Os mercados estão pressionando os líderes globais, que estão sendo forçados a tomar atitudes econômicas “amigáveis”,” afirma. No entanto, apesar de as autoridades, primeiros-ministros, secretários do Tesouro, Bancos Centrais, tanto dos Estados Unidos e da Europa, estarem se esforçando para acalmar os ânimos dos mercados globais, Darst acredita que não estão indo no caminho correto.
“O tempo todo falam em mais estímulos e mais dinheiro, e não em uma reforma estrutural. A Europa, os Estados Unidos e o Japão ainda não fizeram grandes reformas, seus líderes acham que isso não é necessário.”
O diretor diz que são necessárias reformas tributárias, assunto polêmico nos Estados Unidos. De um lado, estão os defensores da mudança, assim como Darst. Eles defendem que os cortes e mudanças de impostos poderiam levar a uma situação ainda mais crítica no curto prazo, mas incentivariam o crescimento e, consequentemente, levariam à redução das dívidas.
Darst afirma que os países em desaceleração e em situação de alto endividamento precisam cortar impostos e simplificar taxas para que mais empregos sejam criados e as pessoas possam consumir mais. De outro lado, estão aqueles que argumentam que uma reforma tributária não levaria, necessariamente, à geração de empregos e à melhora da economia.
No caso europeu, ele acrescenta, a Alemanha também tem que ajudar a Grécia e que são necessários mais esforços conjunto para cuidar da situação da dívida grega.
“A situação europeia está complicada, mas não estamos no fim do mundo. O fim do mundo como conhecemos pode não ser o fim do mundo. Acho que estamos em um momento de transição,” afirma.
5 saídas para os EUA
Para os Estados Unidos, Darst defende que a solução econômica não está em planos de estímulo, mas em alguns aspectos cruciais: poupança e investimentos, educação, redução de dívidas e diminuição das disparidades.
Quando se fala em poupança e investimentos, a sugestão é a mesma para a Europa, a redução de tributor: “eu acho necessário que os Estados Unidos reduzam uma parte de tributos e impostos. Os altos custos dificultam que as companhias façam investimentos em novos equipamentos e que as pessoas consumam mais.”
Em educação, a primeira necessidade é de um programa nacional para que as pessoas ajudem no ensino da população. “Acho que precisamos de um serviço nacional, que pode ser voluntário ou mandatório, para que as pessoas que saem das escolas e também aposentados e avós passem a dar aulas e ajudar os professores.”
Dentro deste universo da educação também entra a formação familiar, diz Darst, que segundo ele vem ficando pior no país. Ele cita uma pesquisa do instituto norte-americano Pew Research Centre, que constatou que 40% dos bebês nascidos nos Estados Unidos em 2009 não tinham os pais casados.
Já a dívida do país precisa ser cortada, a começar pelos pagamentos dos salários de funcionários federais, que costumam ganhar de 30% a 40% acima da média. “Precisamos reduzir esse diferencial de alguma forma. Isso poderia levar a uma economia de centenas de milhões de dólares,” afirma.
As ideias para os cortes de gastos também poderiam vir do setor privado. “Homens como Steve Jobs, Warren Buffet, Jack Welch poderiam basicamente apresentar uma lista de 10 coisas que poderiam ser feitas para reduzir os gastos do governo,” diz Darst.
Outra questão que precisa ser tratada nos Estados Unidos, segundo o diretor do Morgan Stanley Smith Barney são as disparidades entre ricos e pobres, entre setor público e privado e entre novos e velhos. “O governo precisa permitir que a iniciativa privada o ajude neste quesito. Também acho que deveríamos aprender com experiências de fora, por exemplo, com o Bolsa Família do Brasil. Poderíamos achar o que o programa tem de melhor e usar isso,” diz.
Brasil
Para Darst, o Brasil pode ficar mais tranquilo em relação à crise global por ter grandes reservas, empresas muito competitivas e uma grande demanda da China.
“O Brasil não é mais um país médio, é um grande país.” Ele cita gigantes como Petrobras, Vale e Brazil Foods como exemplos do que considera a “força brasileira” e diz ainda que o Brasil pode usar lucros que obtiver em diversas áreas para desenvolver o consumo interno. “A chave é a classe média, que vai trazer um crescimento mais estável ao País,” diz.
“E agora vocês têm a Olimpíada e a Copa, que são oportunidades não para o Brasil se mostrar ao mundo, mas sim para mostrar a si mesmo e transmitir confiança aos seus próprios cidadãos.”
David Darst falou ao iG após o evento da associação global de profissionais de investimentos CFA Institute, que aconteceu em São Paulo.
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