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segunda-feira, 15 de março de 2010

LULA OFENDE GRAVEMENTE O POVO ISRAELENSE NO PRIMEIRO DIA. OU: ELE QUER SER O CHEFE DA “ONU DO B”

Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 15 de março de 2010 5:59

Critiquei aqui na sexta-feira uma reportagem incrivelmente idiota assinada por Adar Primor, publicada no jornal israelense Haaretz. Lula era saudado como um grande negociador, o homem que não tinha lido um único livro na vida, mas que seria dono de uma “sabedoria suprema” e de uma “mente criativa”… O Haaretz não tinha percebido que a estupidez dita por Lula sobre a ditadura cubana e suas vítimas já tinha calcinado a imagem do “grande líder” da América Latina. O jornal percebe agora com quem estava lidando.

O brasileiro chegou neste domingo a Israel e já provocou o primeiro incidente diplomático — na verdade, uma grosseria inaceitável: nega-se a depositar flores no túmulo de Theodor Herzl, fundador do Movimento Sionista e considerado pelos israelenses o idealizador do moderno estado judeu.

A cerimônia está prevista para terça-feira. Lula ainda tem como evitar a ofensa e a provocação. A simples menção de não participar da solenidade já foi agravo suficiente. Mas podemos e devemos esperar qualquer coisa do Itamaraty — especialmente o pior.

É claro que Lula não tem a menor idéia de quem foi Herzl. Sabe o que Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia lhe sopram aos ouvidos. E ambos devem ter dito cobras e lagartos do sionismo, equiparando- o ao racismo etc. Pintaram Herzl como o responsável original pelos atuais conflitos no Oriente Médio. E recomendaram: “Não vá à cerimônia”.

E Lula achou uma boa idéia. Não obstante, na terça, em Ramallah, na Cisjordânia, ele pretende depositar flores no túmulo de Yasser Arafat. Goste-se ou não das idéias de Herzl, era um jornalista e um intelectual. Não tinha as mãos sujas de sangue. Arafat explodiu muitas crianças em ônibus escolares.

O mais espantoso nessa decisão é que Lula chega a Israel dizendo-se o portador de uma nova mensagem: a da conciliação — como se outros não a tivessem tentado antes, mas vá lá… Que conciliador é este que já chega insultando aquele que é, na prática, o principal herói nacional moderno?

A coisa é séria, é grave: na condição auto-outorgada de juiz simbólico dos conflitos no Oriente Médio, o presidente brasileiro deslegitima uma causa e uma visão de mundo sem as quais Israel não existiria. Feita essa escolha, já não pode mais se apresentar como o homem do diálogo. A ser mantida a decisão, Lula se tornará uma espécie de ídolo do anti-semitismo mundial. Daqui a pouco, como sabemos, ele vai ao Irã emprestar seu apoio e sua solidariedade a Mahmoud Ahmadinejad. E seu perfil estará ainda mais definido diante do mundo. Aquela reportagem tonta do Haaretz dizia que Lula sabia como ser amigo do Irã e de Israel. As amizades de Lula estão começando a ficar bem claras.

Algo estranho aconteceAnotem aí: algo estranho está em curso. Tenho a impressão de que andaram soprando feitiçarias aos ouvidos de Lula. Há quem diga que ele poderia até ser um candidato a secretário-geral da ONU. Pré-Cuba e, a se manter a decisão, pré-Israel, era uma idéia um tanto megalômana, mas não absurda. Agora, Lula ficou do tamanho de suas escolhas. Quem, com um mínimo de responsabilidade, confiaria nele?

Não sei, não… Seus feiticeiros podem andar com idéias esquisitas. Na solenidade de fundação da tal comunidade de países da América Latina e do Caribe, Lula já desceu o sarrafo nas Nações Unidas. Uma “OEA do B”, sem EUA e Canadá, parece pouco para suas ambições. Talvez esteja sonhando é com uma “ONU do B”, um Foro de São Paulo de alcance planetário, fazendo-se porta-voz de países e movimentos que decidiram resistir aos EUA e à Europa Ocidental.

Só uma ambição destrambelhada como essa explica a sucessão de absurdos a que Lula se dedica.

Lembrem-se de que ele não compareceu à posse do “direitista” Sebastián Piñera no Chile. Lula justifica a sua posição pusilânime sobre Cuba afirmando que não quer se imiscuir nos assuntos internos do país. Sua recusa em participar da solenidade no túmulo de Herzl, se mantida, é muito mais do que uma “interferência no assunto interno de um país”. Trata-se de uma ofensa a um povo, não a um governo.

Agora o mundo já sabe. Esse é o “estadista global” de Davos.

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