Ternuma Regional Brasília
General-de-Divisão Murillo Neves Tavares da Silva
Não se trata de crítica ou comentário de filme que teve título semelhante e fez bastante sucesso. Trata-se do Sr José Roberto Arruda, engenheiro de uma companhia estatal do Distrito Federal. Há muito tempo na política, teve passagens pelo Congresso Nacional, por secretarias de governo do DF e, com enorme votação, foi eleito governador da Capital da República.
Eis que, de repente e não mais que de repente, no dia 27 de novembro de 2009, aparece o engenheiro (governador com três anos no cargo) em gravação de video, recebendo dinheiro de um senhor que - segundo o divulgado em órgãos de imprensa - exercia cargo de relevo no governo de Joaquim Roriz e responde a mais de trinta processos por improbidade administrativa ou coisas do gênero.
Ainda conforme a exaustiva divulgação do fato, tratava-se de uma contribuição para a campanha do engenheiro ao governo (que se desenvolveu em 2006) e destinava-se à compra de panetones para eleitores menos favorecidos. Apesar dos pesares, esse senhor que manipulava o gravador foi mantido em cargo importante no governo local, quando Arruda tomou posse. Armado o escândalo, seguiram-se outras exibições - realmente constrangedoras - de videos gravados pelo mesmo senhor e que envolviam parlamentares, empresários, meias, bolsas, cuecas e até uma cena grotesca que ficou conhecida como a "oração da propina".
Escandalizadas, a opinião pública e a publicada ( alguém já disse que entre uma e outra reside grande diferença) passaram a exigir providências. E aí começa a minha alegria. As tais providências vieram com velocidade assustadora: caras pintadas - absolutamente omissas quando dos escândalos de 2005 no " mensalão" do Congresso Nacional - voltaram às ruas, com os sempre esperados e, às vezes, até desejados confrontos com a polícia militar; os líderes políticos da oposição - muitos deles de partidos metidos até o pescoço no acima citado "mensalão" - exigiram moralidade no manejo de dinheiros públicos em âmbito local, porque no federal a coisa muda de figura para eles; procuradores, juízes, OAB e outras instituições foram ágeis em adotar posições e determinar prisões preventivas ou que outro nome tenham e impiedosos na apreciação de habeas corpus e outras medidas a que recorrem os defensores de acusados. O engenheiro governador, recolhido preso a dependências da Polícia Federal, e seus advogados estranham que ele nunca tenha sido ouvido. De 27 de novembro a esta parte, como diria um erudito, já se passaram mais de noventa dias, o que me parece ser tempo suficiente para uma oitiva.
Tampouco se ouviu falar em quem teria ou tem interesse no episódio que demoliu um governador, um vice-governador, deputados distritais, secretários de estado e um membro do Tribunal de Contas do DF. Não se sabe ainda em que pé estão as investigações sobre os corruptores (não sendo do ramo, sei apenas que quando se trata de corrupção há ativos e passivos) e se os dinheiros de propinas desviados de pagamentos superfaturados foram localizados em patrimônios pessoais não declarados e se voltarão aos cofres governamentais. Colocado o governador no liquidificador, resta saber se a tomada foi ligada por partidos de oposição a ele; por gente insatisfeita de sua chamada base de apoio; por candidatos ou candidato ao cargo na eleição de 2010; pelo senhor que fez as gravações em seu interesse numa tal de delação premiada.
Disse que, quando começaram as enérgicas e rápidas providências, começou também a minha alegria. Não por querer ver o engenheiro virar suco e seus colegas de (des)governo virarem bagaço. Não votei no agora ex-governador e não conheço nenhum de seus colaboradores envolvidos, Minhas sólidas convicções e prática religiosas não me fazem um santo, mas não me permitem desejar mal a ninguém. Qual o motivo, então, da alegria ???
Meu coração abriga uma sincera convicção de que, daqui para a frente, a energia de toda essa gente vai permitir que:
- possamos ver presos os envolvidos no escândalo do "mensalão" do Congresso Nacional;
- possamos ver presos os envolvidos no escândalo do dossier contra o Serra (nunca votei nem vou votar nele e tampouco na Dilma);
- possamos ver presos os envolvidos na morte do Celso Daniel, no ABC Paulista;
- possamos ver presos os envolvidos no mais recente escândalo de uma cooperativa habitacional em São Paulo;
- possamos ver presos os envolvidos em operações de nomes significativos da PF que, quase sempre, são beneficiados por soltura ou medidas similares.
Enfim, DURA LEX SED LEX. Mas que, provada a culpa, seja dura para todos.
Brasília/DF, 23 de março de 2010.
quarta-feira, 24 de março de 2010
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