O IRÃ AMEAÇA BLOQUEAR A PASSAGEM DOS PETROLEIROS PELO ESTREITO DE HORMUZ CASO OS EUA IMPONHAM NOVAS SANÇÕES
:: DAVID E. SANGER e ANNIE LOWREY – TRADUÇÃO DE FRANCISCO VIANNA
Quarta feira, 28 de dezembro de 2011
Fonte: http://www.nytimes.com/
WASHINGTON — Uma autoridade veterana do Irã fez, ontem, uma sombria ameaça ao Ocidente em resposta às sanções econômicas que estão sendo preparadas pelos EUA, dizendo que seu país vai retaliar a qualquer repressão bloqueando a passagem de petroleiros ocidentais pelo estreito de Hormuz, uma artéria vital para o transporte de cerca de um quinto do suprimento petrolífero do mundo. E, caso, a ameaça seja cumprida, estará criada a condição básica para a guerra.
O Estreito de Hormuz é ponto nevrálgico no Golfo Pérsico
A declaração ameaçadora foi feira pelo Primeiro Vice-Presidente do Irã, Mohammad-Reza Rahimi, e foi ouvida pelo Presidente Obama, que se prepara para assinar legislação que, caso seja plenamente posta em prática, irá reduzir substancialmente a receita iraniana do petróleo numa aposta para deter a ditadura islamo-fascista de levar adiante seu programa de armas nucleares. Antes desta última providência, o governo americano tem preparado o terreno para tentar eliminar o Irã do mercado global de energia sem provocar um aumento no preço da mercadoria e dos combustíveis, bem como sem alienar alguns dos seus maiores aliados.
Aparentemente temeroso do possível impacto das sanções amplificadas sobre a já estressada economia iraniana, o terceiro maior exportador de petróleo, o Sr. Rahimi disse: “Caso o Ocidente imponha tais sanções sobre as exportações de petróleo, então nenhuma gota sequer de petróleo passará pelo Estreito de Hormuz”, segundo divulgou a agência oficial de notícias do Irã. O Irã acaba de iniciar um exercício militar naval de dez dias no Golfo Pérsico.
Em entrevistas recentes, autoridades do governo Obama têm dito que os EUA desenvolveram um plano para manter o estreito aberto no caso de uma crise. No Havaí, onde o Presidente Obama tira férias, um porta-voz da Casa Branca disse que não iria comentar a ameaça iraniana de fechar a passagem marítima. Tal atitude, Segundo ele, é tomada no sentido de baixar o nível de trocas de insultos e de demonstrações de animosidade de parte a parte e, também, para evitar dar ao Irã a satisfação de uma resposta, bem como para evitar maiores sustos nos mercados financeiros.
Todavia, as sanções energéticas carregam o risco de confrontação militar, assim como de ruptura econômica, dada a imprevisibilidade da resposta iraniana. Alguns funcionários do governo americano acreditam que uma conspiração para assassinar o embaixador saudita nos EUA — que Washington ter sido financiada pela Força Qud, um setor da Guarda Revolucionária do Irã — ocorreu em resposta às sanções americanas e outras sanções ocidentais.
O simples pronunciamento de tais ameaças parece fazer parte do esforço iraniano de demonstrar sua habilidade de provocar aumentos nos preços do petróleo e, pois, lentificar a economia dos EUA, servindo também para avisar os sócios comerciais dos EUA que ao se juntarem às novas sanções, que o Capitólio aprovou por um raro escore de 100 a zero, teria um alto preço.
Os preços do petróleo subiram acima de 100 dólares o barril no pregão que se seguiu à ameaça, embora não tenha ficado claro o quanto desse aumento possa ser atribuído às preocupações dos investidores com uma possível confrontação militar no Golfo Pérsico venham a causar uma interrupção no fornecimento do petróleo ao ocidente.
As novas medidas punitivas, parte de uma lista de financiamento dos militares, provocarão uma significante escalada nas sanções americanas contra o Irã. Tais sanções entram em vigor exatamente um mês e meio após a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica, da ONU) ter publicado um relatório que, pela primeira vez, demonstrou evidências insofismáveis de que o Irã está, de fato, trabalhando secretamente para conceber uma ogiva nuclear, apesar do país islâmico repetidamente negar o fato.
Na esteira do relatório da AIEA e de um ataque, em novembro último, da embaixada da Grã Bretanha em Teerã, a União Européia também impôs novas e estritas sanções, como um embargo ao petróleo iraniano.
Já por cinco anos, os EUA têm posto em prática sanções progressivamente mais severas numa tentativa de forçar os líderes iranianos a reconsiderar seu programa nuclear suspeito, e responder a uma crescente lista de perguntas e salvaguardas da AIEA. Mas é a deliberada diminuição das compras americanas do petróleo iraniano que tem feito com que o orçamento iraniano tenha caído pela metade.
Agora, com o poder que o Congresso lhe pôs nas mãos, Obama se prepara para o passo final de penalizar as corporações estrangeiras que fizerem negócios com o Banco Central do Irã, que recebe a renda proveniente da maior parte do petróleo exportado por Teerã.
Tal penalização efetivamente tornará muito difícil, para as empresas que continuarem a negociar com o Irã, de fazer negócios com e dentro dos EUA e seus aliados. Tal passo foi tão severo, que um dos principais assessores do Presidente Obama disse, há dois meses, que ele era “uma última chance para o Irã”. O governo Obama se apressou a colocar algumas brechas na legislação final para que elas pudessem reduzir o impacto sobre os principais aliados que corroboraram com sua assinatura a imposição das medidas punitivas. A legislação permite que o Presidente Obama acene com sanções caso os iranianos causem aumentos artificiais nos preços do petróleo ou ameacem a segurança nacional dos EUA.
Além do mais, as novas sanções fazem surgir questões cruciais de ordem econômica, diplomática, e de segurança. A assessoria de Obama lhe fez ver que não há interesse em ver os preços dos combustíveis subirem significantemente num momento de fraqueza econômica nacional ou na medida em que o mandatário intensifica sua candidatura à reeleição — uma vulnerabilidade que os iranianos identificam plenamente. Destarte, o governo Obama tem que desafiar, ou pelo menos calibrar com muito cuidado as leis de oferta e de procura de novas fontes (Iraque, Afeganistão, Paquistão, Líbia, etc.) dentro do mercado do petróleo para assegurar que os preços globais não subirão de forma aguda.
“Não acho que alguém pensa que possamos contrariar as leis de oferte e de procura mais do que podemos contrariar a lei da gravidade”, disse David S. Cohen, que, como Subsecretário do Tesouro para o Terrorismo e Inteligência Financeira, supervisiona a aplicação das sanções. Ora, disse ele, “temos alguma flexibilidade quanto a isso, e acho que temos uma boa oportunidade de sintonizar o assunto da maneira mais correta, ao mesmo tempo elevando de forma considerável a pressão contra o Irã e sem causar grandes impactos no mercado global do petróleo”.
O esforço americano, como descreveram o Sr. Cohen e outros, é mais sutil do que simplesmente eliminar a capacidade iraniana de exportar petróleo, uma medida que imediatamente enviaria os preços da gasolina, do óleo para aquecimento, e outros derivados do petróleo para a estratosfera. Isto “significaria que o Irã, na verdade, teria mais dinheiro para financiar suas ambições nucleares, e não menos”, advertiu Wendy R. Sherman, o recém empossado subsecretário de estado para assuntos políticos, perante a Comissão de Relações Exteriores do Senado no início deste mês.
Ao invés disso, o objetivo do governo é o de reduzir a renda iraniana com o petróleo diminuindo o volume de vendas ao Ocidente (e em parte ao Oriente) e forçar o Irã a dar aos seus clientes um desconto nos preços do petróleo bruto.
Alguns economistas questionam se reduzir as exportações petrolíferas do Irã sem mexer nos preços é algo factível, mesmo que ao mercado sejam dados sinais de fontes alternativas de suprimento. Já, analistas de bancos de investimento estão advertindo sobre a possibilidade de aumento no preço da gasolina em 2012, devido às novas sanções impostas pelos EUA bem como sanções complementares que estão sendo consideradas pela União Européia.
Desde que o Presidente Obama assumiu o cargo, seus assessores mantêm conversações com a Arábia Saudita e outros exportadores de petróleo instando-os em aumentar a sua produção, e negociando garantias de vendas a países como a China, que está entre os maiores clientes do Irã. Mas não está claro que os sauditas possam preencher a falha deixada pelo Irã, mesmo com a ajuda o petróleo líbio, que está voltando ao mercado. Os EUA também examinam incluir países como Angola em sua lista de fornecedores. Também reavaliam a construção de um imenso oleoduto proveniente do Canadá.
“A única estratégia que funciona aqui é aonde se conseguirá a cooperação dos compradores”, disse Michael Singh, Diretor Gerente do Instituto Washington para Políticas do Oriente Próximo. “Pode-se imaginar os europeus, os japoneses, e os sul-coreanos a cooperar, e então a China viria e compraria todo o petróleo que inicialmente costumava ir para outros lugares”...
Uma questão mais ampla é se as sanções — mesmo que consigam limitar as rendas iranianas com petróleo — forçaria o governo de Teerã a desistir de suas ambições nucleares. Uma medida dos efeitos, no entanto, é a preocupação clara dos da liderança iraniana. Já a moeda persa está em queda livre frente ao dólar, e há rumores de uma corrida aos bancos.
“Os problemas econômicos do Irã parecem estar se acumulando e a economia como um todo está num estado de expectativa suspensa”, disse Abbas Milani, diretor de estudos iranianos da Universidade de Stanford.
O bloqueio militar ao petróleo no Estreito de Hormuz, afinal, poderá ser o motivo para a tão propalada guerra do Ocidente contra o Irã e, caso se confirme, haverá de certo algum impacto sobre os preços dos combustíveis. Mas, aí, como se diz, ‘guerra é guerra e salvem-se quem puder’!
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