O BRASIL PRECISA CONHECER A "ANTA" QUE É CANDIDATA.
quarta-feira, 14 de abril de 2010 16:10 - Por REinaldo Azevedo
Lula deixou por algum tempo a sua criatura eleitoral à solta para ver o que ele poderia fazer por conta própria. E constatou: é uma notável produtora de desastres. Por isso ele decidiu hoje retomar as rédeas e se reapresentar como candidato a um terceiro mandato — de que Dilma seria só uma espécie de procuradora-em-chefe. Já chego ao chefe. Antes um pouco mais sobre a subordinada e suas trapalhadas.
Em Minas, ao tentar seqüestrar ou expropriar a memória de Tancredo Neves, atuou como um fator a mais de união dos tucanos, irritou o peemedebista Hélio Costa e levou um chega-pra-lá do governador e candidato Antonio Anastasia. A desmesura com que tentou fazer tabula rasa do passado conferiu ainda mais força ao discurso do ex-governador Aécio Neves na festa de pré-lançamento da candidatura de José Serra: o PT disse “não” a Tancredo e ao país muitas vezes, lembrou o tucano mineiro. Como negar?
Em São Bernardo, num ato ilegal — aí com a presença de Lula —, aderiu ao discurso da pistolagem petista na Internet. Ao acusar, de modo covarde, sub-reptício, o adversário Serra de ter “fugido” do país em 1964, acabou atingindo boa parte das lideranças que participaram do processo de redemocratização do país — alguns deles aliados do PT. Foi à caça de votos e apoio político no Ceará, obrigando-se a negar que estivesse fazendo o que estava fazendo: atropelando o “aliado” Ciro Gomes, que o governo, na prática, trata a tapas e pontapés.
Então Lula volta à cena com uma espécie de “Cala a boca, Magda!”, para lembrar bordão de um antigo programa de humor.
O presidente voltou a fazer hoje aquilo de que mais gosta: discurso. Fez um longuíssimo aos funcionários do Sebrae. Depois de o PT ter batido a carteira de tucanos e pefelistas, que lhe deixaram a herança bendita da estabilidade, Lula agora tenta tirar do bolso de Serra o slogan “O Brasil pode mais”. Dois dias depois do discurso do pré-candidato tucano, o líder do governo na Câmara, Candidato Vaccarezza (SP), tentava demonstrar que é Lula o grande fator de unidade nacional. Aí se esforçava para roubar o outro lema: “O país é um só”. É mais uma manifestação da alma totalitária dessa gente: não pode haver vida fora do petismo.
Segundo Lula, o Brasil vive um “momento mágico”. E emendou: “Temos de aproveitar esse momento de ouro que o Brasil está vivendo. Todo mundo está acreditando que pode um pouco mais”. E foi adiante: “Hoje, o prato está feito, e ninguém quer saber quem fez”, completou. Tratando, mais uma vez, os brasileiros como seus dependentes, afirmou que, muitas vezes, os filhos não costumam dar valor à comida feita pela mãe. Sei. Depois de se apresentar como nosso pai, Lula agora também quer ser a nossa mãe — nem isso, pelo visto, ele vai deixar para Dilma.
E seguiu cantando as próprias glórias, sempre sugerindo a vocação inaugural do seu governo, como se não houvesse país antes de 2003; como se ele tivesse encontrado o país num estado de terra arrasada. E esboçou uma nova revolução caso Dilma vença as eleições: a criação de um novo ministério: o da Micro e Pequena Empresa!!! Não tente lembrar de cabeça todos os ministérios do governo Lula, amigo leitor. É mais fácil decorar os afluentes das margens direita e esquerda do Rio Amazonas…
Essa tática de Lula vai funcionar? Não sei. O fato é que a linha estratégica esboçada por Serra deixou os petistas um tanto perturbados. Lula se fez negando sistematicamente as conquistas de seus adversários, assacando contra a sua biografia, dizendo um “não” peremptório a todas as iniciativas para “mudar” o Brasil. No governo, procedeu a uma desconstrução boçal do governo que o antecedeu, discurso a que certa imprensa cedeu e aderiu de bom grado.
Os tucanos, goste-se ou não deles, civilizam o processo político quando se negam a fazer tabula rasa do passado. E, justiça se faça, não é um procedimento novo. FHC sucedeu Itamar Franco, de quem tinha sido ministro — e o então vice de Fernando Collor chegou ao poder depois de uma mobilização que tomou conta do país.
Conhecemos o passado que FHC herdou: as conseqüências da hiperinflação e da estagnação econômica. E, daquele cenário de devastação, fez-se, aí sim, o quase milagre do Real. Digo “quase” porque não há milagres em economia, mas matemática apenas.
Alguém viu, alguma vez, FHC a mangar do passado? A pedir salvo-conduto para a bandalheira porque, afinal, ele efetivamente nos tirou do buraco? Nunca! Sempre que se refere ao Real, o ex-presidente trata da importância que ele teve para o futuro do país. Jamais se dedicou à satanização do passado. E os tucanos seguem nesta linha: governos têm suas obrigações, acertam e erram; cumpre fazer o melhor futuro do presente que se tem. Sim, isso é civilização política.
O fato é que Lula volta a assumir a sua “candidatura”. E com o único discurso que tem: “Eu sou o caminho, a verdade, a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”. Não sem acrescentar: “E o pai sou eu mesmo!!!”
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