Maria Lucia Victor Barbosa
O presidente da República é um homem de sorte incomensurável. Deixou a vida o levar e o destino lhe foi radiosamente propício. Somente um pequeno azar obscureceu mês passado, de modo fugaz, seu prestígio internacional, nada que os terremotos que abalaram o Chile não pudessem providencialmente distrair as atenções da rápida urucubaca ocorrida em Cuba quando foi ofertar generosos US$ 300 milhões de dólares ao seu ídolo Fidel Castro, contribuição que será paga por nós, contribuintes brasileiros.
Justamente em 23 de fevereiro, dia em que Luiz Inácio aportava eufórico nos braços dos queridíssimos irmãos Castro, um cubano negro, operário, “preso de consciência”, de nome Orlando Zapata Tamayo, teve o mau gosto de morrer depois de ter sido torturado nas masmorras cubanas e enfrentado uma greve de fome como meio de pedir condições humanas para os demais encarcerados e liberdade para seu país.
O martírio de mais um cubano nem de longe poderia incomodar os irmãosCastros acostumados a esse tipo de morte para eles insignificante erotineira. Entretanto, um grupo de dissidentes cubanos que esperavam queLuiz Inácio intercedesse por eles, tendo enviado uma carta nesse sentido ao governo brasileiro, devem ter se desiludido com a indiferença do “cara”, suas esquivas, suas palavras sem nexo. E mais decepcionados ainda devem ter ficado se puderam ver a foto de Luiz Inácio junto aos Castro.
Na fotografia estampou-se a imagem de um Luiz Inácio esbanjando largosorriso eufórico, rosto delirante de júbilo, face mais arredondada porirradiante felicidade, um deslumbramento abjeto diante do grandecompanheiro Fidel enquanto o corpo martirizado de Orlando Zapara Tamayoesfriava no caixão e outros dissidentes eram presos.
A cena, para quem tem um mínimo de sensibilidade e capacidade deindignação, era algo vil, torpe, nauseante. Um show explícito de cinismo do déspota de Cuba irmanado ao salvador da pátria brasileiro. Aviso sinistro para os ingênuos que acreditarem no seletivo Programa de Direitos Humanos elaborado pelo PT, a ser posto em prática pela comissária de Luiz Inácio.
Luiz Inácio culpou Tamayo por sua morte. Marco Aurélio Garcia comentou com ares de enfado que violações de direitos humanos têm em toda parte. E Raúl Castro, depois de por a culpa nos Estados Unidos, afirmou: “Em meio século não assassinamos ninguém, aqui ninguém foi torturado”.
Nesse momento em que escrevo outro dissidente, o jornalista GuilhermoFariñas, está em greve de fome e se dizendo disposto a morrer para honrarOrlando Zapata Tamayo. Recorde-se, então, de maneira sumária,dado opequeno espaço de um artigo, como funcionam os direitos humanos em Cuba.
Os dados foram pesquisados na obra “O Livro Negro do Comunismo”:Desde 1959, mais de cem mil cubanos foram presos. Entre 15.000 e 17.000pessoas foram fuziladas.
A Unidade Militar de Apoio à Produção (UMAP) funcionou entre 1964 e 1967.Produziu verdadeiros campos de concentração para onde eram levadosreligiosos católicos (como o arcebispo de Havana, Monsenhor Jaime Ortega), protestantes, homossexuais e quaisquer indivíduos considerados“potencialmente perigosos para a sociedade”. Maus tratos, isolamento,subalimentação era o regime dos campos da UMAP.
No violentíssimo regime penitenciário cubano, inclusive, são exploradas as fobias dos detidos. À tortura física se junta à tortura psíquica. As celas não costumam ter água nem eletricidade e o preso que se pretendedespersonalizar é mantido em completo isolamento.
Entre as mais tenebrosas prisões cubanas pode ser citada a de Cabana. Em1982 cerca de cem prisioneiros foram ali fuzilados. A “especialidade” deCabana eram as masmorras de dimensões reduzidas chamadas de ratoneras(buracos de ratos). Cabana foi desativada em 1985, mas as torturas eexecuções prosseguiram em Boniato, prisão de alta segurança onde reinaviolência sem limites.
No universo carcerário de Cuba a situação das mulheres não é menosdramática. Mais de 1.100 mulheres foram condenadas por motivos políticosdesde 1959. As presas, entregues ao sadismo dos guardas passam por sessões de espancamento e humilhações de todos os tipos.
Muito mais se poderia apresentar sobre “direitos humanos” em Cuba.Encerremos, porém, com a nova piada do presidente Luiz Inácio. Entrevistado pela Associated Press sobre a existência de mais dissidentes cubanos em greve de fome Sua Excelência saiu-se com essa: “imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo fizessem greve de fome e pedissem a liberdade”?
Como se nota primeiramente, Luiz Inácio concorda com os irmãos Castro nosentido de que presos políticos cubanos são bandidos de alta periculosidade para a sociedade e não defensores da liberdade. Segundo, ele não larga a campanha, pois bandido só em São Paulo. Culpa do Serra, naturalmente.
Luiz Inácio disse ainda, num chiste bastante cínico, que “temos derespeitar a determinação da Justiça do governo cubano de deter as pessoasem função da legislação de Cuba”. Lamentavelmente o presidente do Brasilnão se dá ao respeito.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
enviado pelo GRUPO GUARARAPES
NÃO VOTAR EM CORRUPTO É UM DEVER CÍVICO.
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