ESCRITO POR EDITORIA MSM | 24 JUNHO 2005
por José
Carlos Graça Wagner
Os contatos entre o Foro de São Paulo e o Diálogo Interamericano ajudariam a entender
a enorme falta de ação da oposição aos desmandos do governo petista?
8 de setembro de 2001
Senhor congressista:
Trata-se aqui de
mensagem de cidadão. Por isso, este documento, pela via de E.Mail, está sendo
enviado, hoje, para todos os senadores e deputados, sem quaisquer restrições,
inclusive os do PT, que poderão se considerar atingidos pelas denúncias, mas
tem o dever de esclarecê-las, para o que coloco, à disposição, toda a
documentação que tenho em meu poder e o compromisso de indicar as testemunhas
que confirmarão o que abaixo está descrito. Pela matéria envolvida, desejo dar
ao presente documento o caráter de requerimento dirigido ã Mesa do Congresso,
para que, pela gravidade dos fatos, tome as providências que achar adequadas ou
assuma a responsabilidade de nada fazer, por motivos de conveniência.
Permita-me, assim,
tomar o seu tempo, se houver disposição de sua parte, mas, como tal, me sinto
na obrigação de transmitir o que me chegou ao conhecimento, por pesquisa e por
informação de terceiros que chegaram a viver os fatos, para que, cada um, em
sua consciência, faça o que julgar do seu dever.
Não pretendo fazer
nenhum tipo de carnaval político sobre a matéria, até porque vai longe o tempo
de minha militância política. Por outro lado, a minha avaliação sobre tais
documentos, ainda que impossível evitar algum tipo de conclusões mais pessoais,
não se baseiam em meras hipóteses.
Estou em Miami, por
razões de saúde, pelo menos por um período de 40 dias. Tive um problema,
bastante comum entre as pessoas, de qualquer idade, que, todavia, exige a
prudência de exames cardiológicos ou talvez uma intervenção, sem, antes disso,
assumir o risco de uma viagem de avião mais longa, segundo as opiniões médicas.
Por isso adoto a presente via de comunicação, sem qualquer anonimato.
Mas quero deixar
claro porque o faço e na base de que convicções, para que não se julgue que
estou procurando ser autor de novelas ou historietas. Deixo também claro que,
com 14 anos, me posicionei contra a ditadura do Estado Novo, tendo participado
da manifestação do Largo de São Francisco, contra a ditadura, embora
secundarista, quando houve a reação armada da chamada Polícia Especial ou
boinas vermelhas, com mortos e feridos, em 1943. Por isso, quando a ditadura
caiu, me filiei a UDN, só deixando a política em virtude do fechamento dos
partidos, pelo AI-2, quando foram criados os arremedos de partido da Arena e
MDB. Minha posição sempre foi de centro, de tal modo que, o que vem a seguir,
não é movido por nenhuma intenção de qualquer anti-isso ou anti-aquilo para
impressionar a gregos e troianos.
Meu anti-marxismo,
mais do que anti-comunismo, decorre de minha condição de católico, que procurou
conhecer a essência do pensamento de Marx, que não era, como se julga,
provocada pela questão social, mas religiosa.
Entendia que o homem,
ao colocar Deus como autor de sua existência, abria mão de sua natureza materialista,
que, para ele, era materialista, como tudo que existe no mundo. Ao atribuir o
seu ser, e o seu fim último, a Deus, estava renunciando a si mesmo. O marxismo,
antes de tudo, é uma negação radical de Deus e, portanto, dos valores da moral
natural inerente ao homem. O marxismo vai além do ateísmo, pois considera que
negar a Deus é insuficiente. Negar, para Marx, ainda é uma forma de afirmar,
porque exige a defesa da Sua não existência e, para isso, é necessário pensar
nela, para rebatê-la.
Para Marx, o homem
novo, concebido em sua filosofia, sequer cogitaria da existência ou não de
Deus. Simplesmente, nesse mundo de Marx, nem sequer existiria a idéia de Deus.
O Comunismo, como instrumento do marxismo, ainda teria, para construir o mundo
novo, de conseguir o desaparecimento da idéia de Deus.
Para mim, desde
jovem, formado pelos irmãos maristas de Santos, na mesma classe que Mário
Covas, o meu anti-comunismo não era para defesa de privilégios de natureza
econômica ou social, ainda que eles existam longe do conceito de justiça
inerente ao catolicismo, mas, pelo contrário, decorria da própria necessidade
de defender a doutrina católica, na qual Deus é o Criador e Redentor de todos
os homens, sem qualquer distinção, inclusive do terrorista que se arrepende sinceramente
e busca reparar o dano feito, e, portanto, sem quaisquer exclusões. Todos estão
salvos, pela espontânea crucificação de Jesus Cristo, mas o homem tem a triste
liberdade de se excluir da salvação. Tal como Judas, por aqueles que crêem na
Revelação contida nos Evangelhos.
Esta colocação,
apesar de parecer impertinente, é necessária para evitar a acusação costumeira
de que, quem pensa assim, é porque defende a exploração do homem pelo homem,
quando não há maior exploração dessa natureza do que pelos regimes
totalitários, que exploram a vontade humana, pela exclusão da liberdade de
pensar e de fazer. Para esses, os católicos deveriam também Fazer o Grito dos
Excluídos, como também de fazer o Grito dos Excluídos, da vida, pelo aborto.
Sempre imaginei, permita-me
dizê-lo, que o ser humano é como uma mesa de quatro pés, no sentido comum da
vida, sem levar em conta as distorções, queridas ou não ( por isso, entendo que
são quatro pés e não quatro patas). O primeiro pé se refere à família, que é
onde surge a pessoa que somos, desde o momento da concepção, na qual já
recebemos a alma que Deus nos dá, com a vocação que lhe é inerente. É, na
família, onde, com o nascimento, tomamos consciência, pouco a pouco, de nossa
existência e dos que foram responsáveis diretos por ela e pelos valores que ela
comporta, queiramos ou não aceitá-los.
O segundo pé,
diretamente vinculado ao dom da liberdade, que é a razão de ser da dignidade e
da responsabilidade de cada ser humano, e que vem logo a seguir ao dom da vida,
que podem ou não, ser bem ou mau usados, com as naturais conseqüências do
caminho que se segue, com eventual desequilíbrio da vida e de seu fim último. É
a religião. No meu caso, sou católico, apostólico, romano e papista. Para mim,
a atual atuação de certos círculos que se denominam católicos, advindos da
Teologia da Libertação, que nada mais é do que a tentativa de levar o marxismo
para dentro da doutrina de sempre da Igreja, com maior ou menor consciência
disso, tende a configurar tais grupos, independente das funções que exercem na
hierarquia, mais como um partido político ou um apê ;ndice de um determinado
movimento.
É um direito de
qualquer um, atuar politicamente, mas, em certos casos, deve, para fazê-lo,
deixar atividades que lhe são incompatíveis, como a de ministro da doutrina
cristã, quando, como agora, passa a ter um caráter partidarista, sob a capa do
social, ainda que o problema social exista, decorrente do pecado original, que
gera o egoísmo, além da inveja e ódio.
Como de hábito, em
qualquer setor da vida brasileira, os audaciosos fazem o que querem e os outros,
sob a alegação de evitar conflitos, acostumados ao jogo das influências no
poder de qualquer natureza, optam pela omissão.
O terceiro pé, é a
tomada de consciência de que não somos isolados dentro de uma família, mas
vivemos junto com muitos outros seres humanos, ou seja, com a sociedade, e, por
isso, somos, também, cidadãos. Nessa sociedade, devemos encontrar o ambiente
destinado, ainda que não consumado, em que devemos encontrar os momentos e as
circunstâncias para realizar os talentos recebidos e ser útil ao Bem Comum. É
também elemento fundamental da liberdade humana.
O quarto pé é a
profissão, ou seja, o trabalho humano, que é necessário para formar e sustentar
uma família e ser útil a si, à família e à sociedade. Ser, afinal, útil
`concretização do Plano de Deus a respeito a cada um de nós, sem exceção de
ninguém, nem dos que tem a enorme tarefa de conduzir o povo de Deus para o seu
fim último.
Permita-me dizer,
senhor Congressista, sobre os comentários acima, que, desde cedo, com cerca de
oito anos, com a guerra mundial e com a ditadura do Estado Novo, senti-me
engajado, por dentro e por fora, na importância de cada ser humano, a assumir a
responsabilidade de pré-cidadão, de quem vê, na sociedade, o ambiente natural
da busca da Justiça. Talvez por isso vim a ser advogado. Por isso, este foi o
quarto pé para mim, ou seja, a minha profissão, onde somos, qualquer que ela
seja, úteis a nós, à família e à sociedade, conforme a encararmos com pleno
sentido de responsabilidade, e sem a qual somos marginalizados, por nossa
culpa, ou pela má estruturação da sociedade, da própria razão humana de viver,
pois o homem foi feito para trabalhar como a ave para voar.
Como desejo, como
cidadão que se preza, antes de tudo, a verdade, porque ela é o caminho e a
vida, não posso deixar de registrar que, depois de 50 anos de profissão, o
quarto pé da vida humana, por razões que serão expostas num capítulo próprio
(sei que lhe estou sugerindo muito trabalho de leitura, mas um parlamentar, que
tem a noção claro do momento que vive o país e o mundo, às vésperas de uma
terceira guerra mundial, com a característica de terrorismo infiltrado em todas
as nações), sofri e venho sofrendo de empresas estrangeiras, uma delas ligada a
um laboratório nacional que vem sendo apontado como fraudador, inclusive do
período de validade de seus produtos, revelando um precário quadro da advocacia
e da Justiça, mesmo depois de CPIs, que não chegaram ao fundo da questão.
Mas não quero esconder
nada que sirva para que os que participam desses movimentos estratégicos, a que
me refiro no título do presente trabalho, à revelia do conhecimento do povo,
reservados os fatos apenas a alguns dirigentes da oposição e do governo, pois
ambos fazem parte dos referidos movimentos, de tal modo serão detalhados em
capítulo próprio, tornando-se claro que não são poucos os advogados que estão
sendo submetidos a esse tratamento desmoralizante de um grupo de empresas, sem
maior vínculo com a vida e o futuro do país, senão na busca do lucro que pretendem,
sem que a OAB defenda os advogados, mais preocupada em ser uma OAB de passeatas...e
de ocupação de posições em clubes esportivos...
Desde bem cedo,
desculpe-me a afirmativa, vivo essas quatro realidades, e as considero, todas,
essenciais, ao equilíbrio da vida e da sociedade onde se vive, com ou sem
globalização, que não é necessariamente econômica, mas que decorre do fato de
sermos, no conjunto de todos os homens, a humanidade. De um modo ou de outro,
sempre somos globalizados, porque não há nada que alguém faça que não se
transmita, como uma pedra no lago, até o final das suas margens, delimitada
pela humanidade.
Daí, entender que
devo tecer as considerações abaixo, às quais se seguirão os capítulos concernentes
a cada episódio, para que cada um avalie como queira e faça o que queira.
O COMEÇO
O passado tem a
natureza de ensinamento; o presente, serve de base de lançamento do futuro e,
este, ainda que desconhecido em cada momento da vida, se destina a construir a vida
e a sociedade, a partir das circunstâncias que encontramos e dos talentos que
possuímos. Somos atores e autores da nossa vida. Parte do “script” é de nossa
autoria e parte de autoria dos demais. Depois dessas considerações, de tintura
filosófica de uso comum, a descrição sintética dos fatos, no que diz respeito
ao tema, com algumas das razões que me levou a transmitir o que chegou ao meu
conhecimento, ou pela via da pesquisa ou porque foi enviado por aqueles que
tomaram conhecimento da minhas pesquisas.
A DESCRIÇÃO
Em agosto de 93
estava, posto em sossego, em Miami, aguardando a recuperação de um pequeno
acidente sofrido por minha esposa. Para aproveitar o tempo, visitei a firma de
um amigo cearense, já falecido, que tinha lá, um estabelecimento complementar
de sua fábrica de roupas. Não estava. Seu gerente, um cubano, cuja família
apoiara Castro, a ponto do avô, médico, ter arriscado a sua vida e a de toda a
família, por ter organizado um hospital clandestino, em sua fazenda, para os
“revolucionários” de Fidel.
Tinha tido, depois da
vitória de Castro, de sair de Cuba, com toda a família, por ordem de Fidel,
porque sua mãe, uma líder política comunitária, tinha procurado a Comissão
Militar encarregada do julgamento de militares acusados de apoiarem Batista, e
protestado contra a condenação dos mesmos ao “paredón”, pois conhecia, a grande
maioria, como militares profissionais, sem envolvimento político.
Como tudo que Castro
faz, até hoje, o silêncio dos políticos, da América Latina e do Brasil, com
exceção recente do presidente de El Salvador, que enfrentou Fidel na Cúpula das
Américas, de igual para igual, e continua a estar à disposição para
enfrentá-lo, para o que der e vier, sempre foi e é revelador do grave pecado da
omissão, dos governantes mundiais e latinos. Essa atitude foi e é geral, apesar
dos pruridos que revelam em relação a qualquer violação aos direitos humanos, inclusive
a ponto de até receberem medalhas...
Castro, num repente
de gratidão, contrário ao seu estilo, apenas expul sou toda a família do gerente
do meu cliente, ao invés de mandá-la para a cadeia ou para o próprio “paredón”,
mas não sem antes exigir que todos, sem exceção, mesmo menores de idade,
pertencentes à família, assinassem a doação, de todos os seus bens, ao Estado
cubano (ainda não haviam começado os confiscos generalizados).
Casado, depois, com
uma brasileira e falando português, pois esteve no Brasil por algum tempo, esse
gerente me afirmou, sem ter qualquer prova, mas apenas por ouvir dizer, que
Lula tinha estado em Havana, na semana anterior, onde fizera um Pacto de Ação
Continental com Fidel Castro. Isto teria ocorrido na última semana de julho de
93. Na época, tudo indicava que Lula ganharia as eleições de 94 (e eu não tinha
conhecimento, ainda, do compromisso de FHC de apoiá-lo para presidente,
assumido em Princeton, em inícios de 93).
Para mim, embora não
fosse do meu agrado, aceitava a regra do jogo, que representaria a eleição de
Lula, ainda que tivéssemos, a meu ver, de passar por muitos problemas, tendo em
vista o pensamento político dos que formavam o PT. A informação do gerente,
porém, mexeu com o pé da mesa relativa à cidadania, e com a veia de cidadão.
Uma coisa, para mim,
era Lula presidente, pelo jogo político interno; outra, era ser eleito e atuar,
na presidência, em Pacto político com Fidel, que, quando advogado, ainda
recentemente formado, havia simpatizado por achar que, de fato, desejava, com
sua “revolução”, a liberdade dos cubanos, mas, logo depois, também me insurgi
contra o “paredón”, especialmente quando, a ele, também foi condenado, apesar
de ter apoiado Castro, o presidente da FEU, correspondente à entidade brasileira
UNE, onde eu havia militado, e da qual havíamos afastado o controle então
exercido pelos comunistas, e seus aliados.
Na época, fiz uma
publicação, em “O Estado de S. Paulo”, pelo fato de Frei Josaphat não ter
aceito publicar a minha carta, na qual, como acionista do “Brasil Urgente”, da
ainda incipiente esquerda católica, ligada ao PDC, mas que havia conseguido
induzir as equipes de casais de Nossa Senhora, a subscrever o capital desse
jornal interno, eu tinha direito, assegurado pelos estatutos. Nele, eu exigia
um pronunciamento, daquele órgão, contra o fuzilamento do presidente da FEU,
tendo, como resposta, apenas em carta, que também não foi publicada na revista,
como também era o compromisso que havia sido assumido, pelos seus empreendedores,
com os acionistas.
A carta, que estava
assinada pelo diretor Ruy do Espírito Santo, então do PDC, sustentava que, “o
fuzilamento, por motivos políticos, algumas vezes, era necessário.” Publiquei
esta resposta no jornal “O Estado”, pois o Frei Josaphat, alter-ego de Frei
Beto, que escreveu o Paraíso Perdido, Nos Bastidores do Socialismo”, (e que
acabou sendo utilizado na armadilha contra Marighella), onde defende o regime
de Fidel, e todos os outros que se instalaram na AL, sob a alegação de
“Teologia da Libertação”, que de estudo de Deus (Teologia significa “estudo de
Deus”) nada tem, mas, na realidade, como constata quem o ler, é pura defesa de
uma ditadura coletivista, distributivista para “inglês ver”, pois os que dão
suporte ao regime, enquanto o são, até pelo medo da conseqüências, tem todas as
regalias.
Como disse, o Frei
Josaphat, não havia concordado na publicação, no jornaleco desse grupo, do qual
fui acionista, chamado “Brasil Urgente”, apesar de ter tentado, antes, que eu
ingressasse na Ação Popular, ainda em esboço, a partir da JEC e da JUC,
integradas , na época, ao PDC, e, depois, à Ação Popular.
Resolvi pesquisar se
a informação dada pelo gerente do meu cliente cearense, sobre a estada de Lula
em Havana, tinha fundamento. Procurei, por indicação desse gerente, o Bispo
Auxiliar de Miami, Monsenhor Agustin Roman, cubano, narrando e ele a razão pela
qual desejava ter certeza do fato que me havia sido narrado pela pessoa atrás
mencionada, sustentando que, se verdadeira, a eleição de Lula representaria um
imenso reforço para Fidel, que adiaria bastante a época de concretização do
desejo dos exilados de retornar a seu país, já livre da ditadura.
Por apresentação
dele, fui, no mesmo dia falar com Jorge Mas Canosa, que dependia, todavia, para
a pesquisa, que eu pretendia, de “Pepe” Hernández, vice-presidente, que estava
em Washington. O certo é que a Fundação Nacional Cubano-Americana,
surpreendentemente, não sabia nada sobre a fundação do Foro de São Paulo.
Na saída do encontro
com o Bispo, ele me indicou o Prof. Juan Clark, como o maior estudioso dessas
questões e que, talvez, pudesse ser útil. Um primo de minha esposa, que estava
conosco, Orlando Lovecchio, que havia perdido a perna num ataque terrorista ao
Consulado Americano em São Paulo, no início da luta armada no Brasil,
encontrou, em uma livraria, o livro de Juan Clark, sob o título de “Cuba, Mito
y Realidad”.
Procurei o autor, que
me deu indicação do Centro Norte–Sul da Universidade de Miami, onde tive toda a
colaboração de Guillermina Carrandi, também cubana, e que, tinha, no
Departamento dela, exatamente o que eu procurava: as coleções do jornal
“Granma”, edição interna de Cuba, onde, quase certamente, haveria alguma
notícia sobre essa visita.
De fato, tinha estado
duas semanas a procura do local onde poderia encontrar a coleção desse jornal,
órgão do Comité Central do Partido Comunista de Cuba, ( o primeiro Partido
Comunista foi arquivado e substituído pelo novo partido comunista, organizado
por Fidel, por ordem da URSS, depois que Castro declarou o regime de Cuba
comunista, pois o partido pré-existente ao formado por ele, sempre tinha
apoiado Batista e sempre tinha sido contra Castro. Esta posição continua sendo
a do filho do Secretário Geral do PC da época, já falecido, Blas Rocca. Tudo
indica que o filho está preso ou esteve até há pouco. Enfim, esta também era a
atitude de Luiz Carlos Prestes, que não morria de amores por Fidel, cujo
comunismo achava que era fruto de mero oportunismo, ou seja, da necessidade de
se contrapor aos Estados Unidos, para o que nada melhor do que, em plena
“guerra fria”, com a ameaça atômica, se “unir” a URSS, ou seja, em português
claro, se submeter a ela, na época de Kruschov.
O meu faro de
advogado me sugeria que, se Lula tivesse estado em Havana na época referida,
teria havido algum tipo de registro no referido jornal, porque interessava ao
regime mostrar, ao povo cubano, as dimensões internacionais do prestígio de
Fidel. O departamento Norte-Sul da Universidade possuía, de fato, a coleção do
jornal, e ajudado pela minha esposa e pelo seu primo, acima citado, iniciei a
pesquisa, começando pelos jornais da última semana de Julho de 93, que tinha
sido a indicada como a da visita de Lula a Fidel.
Para surpresa minha,
não era uma reunião de Lula e Fidel. Mas de uma organização da qual não se
tinha qualquer idéia, denominada “Foro de São Paulo”, que não era secreta mas
não era para conhecimento de gregos e troianos. Só era publicado o noticiário a
ele referente, internamente, em Cuba. Havia uma edição internacional, do
“Granma”, em várias línguas, que, entretanto, não publicavam os assuntos
relativos à estratégia da esquerda latino-americana, patrocinada pelo Foro,
depois de fundado, sob as “benções” e inspiração de Fidel Castro. Mais tarde, o
Foro passou a ter algum tipo de noticiário restrito em alguns jornais de alguns
países, e, até, uma revista, quase de circulação interna, chamada “América
Libre”, dirigida por Frei Beto, editada na Argentina.
Estavam presentes,
nessa reunião, 112 organizações de esquerda de toda a AL, além de observadores
convidados de organizações de esquerda de outros continentes. Era o seu IV
Encontro Internacional. A primeira, tinha sido quando da fundação em São Paulo,
no Hotel Danúbio, nos inícios de 90, logo após a vitória de Collor sobre Lula,
como estava previsto que deveria ser feito, se isso acontecesse, desde uma
reunião em 8 de janeiro de 89, em Havana, também publicada no “Paraíso
Perdido”, com a presença de Fidel, de Lula, Frei Beto, (atual assessor de Lula,
residindo no Palácio do Planalto), de José Genoino, (atual presidente do PT), e
do jornalista Kroscho, (atual assessor de imprensa do presidente Lula.)
A finalidade, nessa
ocasião, era fixar as estratégias para as eleições nos países do continente,
que iriam se realizar desde dos fins de 93, no México, até as eleições de
inícios de 95, na Argentina, num total de 14. Estavam presentes, nesse IV
Congresso, as organizações guerrilheiras e toda a cúpula do PC cubano, inclusive,
logicamente, Castro, bem como toda a cúpula internacional do PT, com Lula à
frente e, naturalmente, Frei Beto, que é o único que fala, praticamente de
igual para igual, com Castro.
Eu não sabia, ainda,
do Pacto estabelecido na Universidade de Princeton, em inícios do mesmo ano, no
qual, um dos compromissos assumido pelo Foro de São Paulo, com o Diálogo
Interamericano, fundado em 1982, sendo vice-presidente e principal
representante da entidade na América Latina, Fernando Henrique Cardoso, então
senador. (atualmente FHC é co-presidente do Diálogo, juntamente com Peter
Hankim). O Pacto de Princeton era abrangente, mas, para a esquerda orientada
por Fidel, era uma mera forma de obter apoios adicionais, sem afetar a
estratégia básica do Foro, embora este se utilizasse do Pacto com o Diálogo, em
tudo quanto lhe era favorável, e cumprisse os diversos pontos, enquanto eram do
seu interesse ou da estratégia estabelecida pelo Foro de São Paulo, que
poderiam influenciar o Diálogo, dando-lhe a impressão de uma efetiva disposição
de cumprimento da estratégia comum.
Não vale a pena maior
referência, agora, ao documento do Departamento de Estado, assinado por
Kissinger, em fins de 74, inicialmente sigiloso, mas tornado público por Reagan
e constando da Biblioteca do Congresso Americano, porquanto, em grande parte,
está superado. O ponto de partida era considerar a questão da imigração latina
como um caso de segurança nacional, pelo potencial de alteração da cultura
americana.
A idéia era reduzir a
referida imigração ao mínimo. Na verdade, hoje, a imigração latina é praticamente
incontrolável, e até fundamental para o futuro dos Estados Unidos. A política
do Diálogo, fundado em 82, com Fernando Henrique na vice-presidência, como
principal participe da AL, que visava cumprir a estratégia do documento de 74,
do Departamento do Estado, acabou por atingir objetivo inteiramente contrário,
como será possível verificar mais adiante, inclusive no Brasil e, na Colômbia,
nem se fala, acrescentando-se a Venezuela e, de certo modo, o Equador.
Mas, muitas vezes,
essas evidências não são fáceis de serem alcançadas pela mente daqueles que as
conceberam, aferrados que ficam às suas verdades dogmáticas, caiam tantos Muros
quantos caírem. Até que, nisso, têm uma certa razão, porque os muros não
carregam, nem o de Berlim, na sua queda, as utopias, ainda que derrube
governos, ou nem acabam com as idiossincrasias daqueles que não aceitam os que
não são frutos da mesma árvore ou do mesmo solo, pois os considerarem “inimigos
de classe”.
Mas há que voltar ao
Foro de São Paulo, que nasceu em julho de 90, mas foi concebido, tendo Fidel
por pai e Lula por mãe, em janeiro de 89, em reunião de cúpula do PC de Cuba e
PT do Brasil. José Genuíno estava presente, conforme descrição do livro de Frei
Beto (irmão terceiro dominicano, que não é sacerdote), com o título de “O
Paraíso Perdido” - Nos Bastidores do Socialismo”.
Nela, ficou
estabelecido que, se Lula não ganhasse as eleições em novembro de 89, deveria
ser formada uma organização para coordenar toda a esquerda continental e que a
liderança do processo caberia a Lula.
Collor não tinha
surgido. O receio, na ocasião, era de uma reviravolta a favor de Brízola, não
confiável para o projeto que estava delineado para que “fosse conquistado, na
AL, uma espécie de contrapartida, do que já se antevia, nessa reunião, ou seja,
que a URSS iria perder o leste europeu”. Para Fidel, o Muro já estava balançando,
com o que estava ocorrendo na Polônia, depois da eleição do Papa João Paulo II.
Com a vitória de
Collor, a esquerda continental, mesmo a de características guerrilheiras,
foram, em número de 48 entidades , para a reunião de fundação do Foro, em julho
de 90, no Hotel Danúbio, com algumas reuniões secretas, anteriores, em Itaici.
Este dado foi obtido
quase por acaso, pois ao se localizar a reunião realizada em 93, em Havana, do
IV Encontro do Foro, lia-se que Balaguer, do Comité Central do PC Cubano,
iniciava o discurso de saudação com elogio a Lula, dizendo que, quando, há três
anos, tinha sido fundado o Foro, para o qual o Frei Beto deu imensa
contribuição (ficou sendo diretor continental de revista do Foro “América
Libre”, impressa na Argentina), não se podia imaginar que, em tão pouco tempo,
teria obtido tal desenvolvimento, como provava aquela reunião de Havana, com
112 organizações (afora os convidados de outros continentes) e já com
candidatos a presidente na maioria dos países onde haveriam eleições nos
seguintes 20 meses.
Com a coleção de
Granma à disposição, a pesquisa recuou em três anos, que tinham sido mencionados
por Balaguer, e lá estava toda a hist&oa cute;ria da formação do Foro,
inclusive de certas visitas estratégicas feitas na ocasião, articuladas por
Frei Beto, levando à cúpula do partido comunista cubano, vinda à fundação do
Foro, em São Paulo, a uma reunião ao Cardeal Arns, da qual veio a ser enviada
carta de simpatia ao ditador Fidel Castro. E, assim, seguiu a pesquisa por diante.
Numa reunião se falava da próxima e, de tal sorte, foi possível ir pesquisando
o que foi feito pelo Foro nos anos que se seguiram, com reuniões sempre onde,
de algum modo, entidades do Foro tinham presença forte, como México, Nicarágua,
Montevidéu, Porto Alegre, El Salvador, etc. A próxima, novamente, será em
Havana. Há informações substanciais sobre reuniões em Manágua, na ocasião da
derrubada dos aviões dos “Hermanos en Resgate” perto de Cuba, de vez que considerei
tarefa minha a pesquisa referente a 94, embora tenha também tomado conhecimento
das reuniões de 95, no Uruguai, e 97, em Porto Alegre, nas quais o MST foi
apontado como a ponta de lança da revolução socialista na AL, devendo ter a
cooperação dos zapatistas e das Farc. (havia a possibilidade de colaboração do
Comando Vermelho, fundado sob a inspiração de documento da guerrilha urbana no
Vietnã, mas para uso de criminosos comuns)
Mas, sem dúvida, o VI
Encontro, em 93, foi o mais importante, feito depois do Pacto com o Diálogo
Interamericano, realizado na Universidade de Princeton, com o beneplácito de
Warren Christhofer, secretário de Estado de Clinton, no início do mesmo ano, em
que algumas estratégias para toda a AL tinha sido ajustadas entre as partes.
O ponto de partida,
para o Diálogo, era a certeza de que, com o desmanche da URSS, a esquerda da AL
teria necessidade um novo ponto de apoio, principalmente de natureza política,
enquanto, para o Diálogo, fazia falta, uma força com capacidade mobilizadora,
que a chamada social democracia agnóstica não tinha para dar suporte ao pontos
essenciais de seu projeto continental, inclusive porque alguns dependiam diretamente
da concordância entre a teoria e a capacidade de mobilização do povo, que FH
não tinha.
Para o Diálogo, a
eliminação das causas da imigração menos desejada, de latinos, impunha conseguir
que as forças guerrilheiras, ligada ao Foro, se transformassem em partidos
políticos e passassem a disputar o poder pelo voto, imaginando que assim eles,
ganhando algumas eleições, apoiados pelo Diálogo para tomarem posse e se
manterem no poder, se convenceriam da vantagem do jogo democrático, e se
tornariam civilizados, mesmo depois de conquistar o poder.
Isto, apesar de
diversos exemplos históricos, inclusive o de Hitler, em que as eleições
serviram para chegar ao poder, sendo, posteriormente, transformados em sistemas
totalitários ou similares, com a ingenuidade dos ocidentais, sempre dispostos a
imaginar que os ideais democráticos, com sua base de sustentação no voto
popular, acabem por conquistar os que só estão dispostos a governar pela força.
O Diálogo, todavia, acreditava na sua força de manter o voto como um fator de
democracia e, portanto, sem provocar o êxodo das populações atingidas por
regimes de força, da esquerda ou da direita.
A tolerância inglesa
com Hitler eleito, que vem se repetindo com a tolerância, dos Estados Unidos e
outros países, com Chávez, pelo fato de ter sido eleito na Venezuela, mas na
qual se prepara claramente um sistema ditatorial, baseado na “revolução”
bolivariana, numa nova e bastante repetida demonstração da ingenuidade
anglo-americana, que, depois, é obrigada a pagar o preço de uma guerra absurda,
como já admitiu Kissinger, em relação a um segundo Vietnã na Colômbia, com o
fracasso, que ele entende inevitável, do Plano Colômbia. Sem esquecer que foi
ele quem assinou o documento de 74...
Na realidade, o voto é
apenas um meio de exercer a democracia, mas não é ele que define a sua
essência, mas, fundamentalmente, o respeito, pelos detentores do poder, da
dignidade e da liberdade do homem.
E, agora, com o
covarde ataque que os Estados Unidos vêm de sofrer, em Nova York e Washington,
que só não atingiu a Casa Branca porque, por força de ligações de celulares,
pelos passageiros, já se sabia que o avião em que estavam seria utilizado pelos
terroristas, que já tinham dominado a tripulação desse quarto avião, para um alvo
importante, e que todos seriam mortos, de tal modo que os tripulantes e
passageiros entraram em luta contra os que dominaram a direção do avião e este
acabou se estatelando no chão em Pittsburg, sem cumprir a missão dos loucos que
planejaram a operação. Todos morreram, mas evitaram morrer no alvo dos
terroristas...
Volto ao assunto:
voto é forma; democracia é conteúdo. E conteúdo representativo, que ainda não
foi alcançado, com a plenitude e suficiência necessárias, na AL. Mas, enfim,
foi o que propôs o Diálogo: que a esquerda, mesmo radical e guerrilheira,
revolucionária e marxista, abandonasse a forma atual de tomar o poder, pela
revolução e optasse pela participação em eleições, tendo como contrapartida o
apoio o Diálogo para nele permanecer, pensando que, assim, evitariam as imigrações,
pois não haveria repressão interna de caráter totalitária. Será que vão
apreender com Chavez? E também, agora, com o Haiti?
Com isso, também em
contrapartida, haveria reação do Diálogo e de suas imensas influências nos
Estados Unidos, a qualquer tipo de repressão militar ou policial à esquerda,
que também resultava em imigração indesejada, forçada. A tudo, se acrescia um
esforço para que os governos fizessem acordos de paz com os que atuavam
revolucionariamente, colaborando por todas as formas, para que a paz fosse
obtida, de modo a permitir a formação dos partidos políticos de esquerda revolucionária,
como aconteceu com o M-19 e outros movimentos, até quando não se sabe. Esta aí
a causa do acordo de paz com a Farc, entregando-lhe um território à sua
administração, sem conseguir o objetivo.
De qualquer forma,
também o auto-golpe de Fujimori, eleito, já gerou certas desconfianças, mostrando
que a estabilidade pode ser atingida, tanto de fora para dentro como ao
contrário, e de forma a se tornar difícil uma ação coletiva eficaz. Além disso,
não se pode esquecer que o auto-golpe foi, em suas conseqüências, muito menores
do que a luta armada levada a cabo pelos Senderos, com milhares de mortos e que
agora volta a ameaçar o Peru.
A outra questão para
o Pacto de Princeton, onde também FHC foi professor, durante seu exílio
voluntário, durante o regime de 64/68, era o controle populacional, mas
através, agora de parte também do Diálogo, por formas radicais, mas em uso em
alguns Estados americanos, ou seja, pela legal ização, na América Latina, do
aborto, da esterilização e da união de homossexuais. Nos EE.UU. existem 600 mil
lares constituídos por homossexuais, mesmo que ainda não oficializados por leis
civis ou atos oficiais, que, todavia, já vem acontecendo em certas regiões.
As forças de
esquerda, no compromisso com o Diálogo, dariam a sua colaboração para atingir a
legislação necessária a oficializar essas questões, que, evidentemente, teriam,
previsivelmente, a oposição da Igreja Católica, que precisaria ser enfraquecida
com a noção de um misticismo individualista, que seria o determinante nas
relações de cada um com Deus, sem necessidade de Igreja, sacramentos ou
sacerdotes, ou, pelo menos, minimizando a presença desses elementos na população.
Frei Beto e Frei Boff escreveram um livro defendendo esta tese.
De outra parte, as
questões levantadas, impunham também o enfraquecimento das elites, ou seja, dos
partidos que sempre deram sustentação às elites dos países, responsáveis pela
pobreza, que, no caso do Brasil, por conclusão não declarada, eram o PFL, PPB,
e seus líderes, como ACM, Maluf, etc., além de empresários e suas bases de
sustentação na estrutura de governo.
Não podia se deixar
de ter presente que, nos quinhentos anos de civilização no continente, os pretendidos
suportes dessas elites, nessa visão de Princeton, eram as Forças Armadas e,
especialmente a Igreja Católica, com a exceção da Teologia de Libertação, que
só se diz católica por necessidade de permanecer atuando dentro dela. Há
exceções de praxe, daqueles que se preocupam com a questão social, sem se
recordar da doutrina social da Igreja e da sua atuação através dos séculos, na
defesa da vida, da liberdade e da dignidade do homem, muito acima do que hoje
se entende por direitos humanos. As Santas Casas e as escolas espalhadas por
todo o país, fizeram mais pelo país do que as estruturas governamentais.
Isto implicava noutro
ponto do Pacto, que era o enfraquecimento das Forças Armadas, pela sua redução,
de um lado, e por nova destinação, de outro, e pela redução da capacidade de
decisão das referidas Forças, por elementos a elas pertencentes, além de
reduzir seus quadros e usá-las nas Forças de Paz da ONU. As Forças Armadas tem
sua origem na necessidade, em certos momentos, de dar suporte para a diplomacia
ou para ataques, como o que acaba de sofrer os Estados Unidos. Há também
situações internas, que dizem respeito a manutenção da ordem e da lei, que
ultrapassam as condições das policias, que obrigam a presença das Forças
Armadas.
Quem é o ingênuo que
sustentará que qualquer outro país da AL não poderá passar por situações
semelhantes, como já sofreu na luta armada desencadeada por Castro no Brasil e
outros países da América Latina? Inclusive na Bolívia, onde morreu o argentino-cubano
Che Guevara.
Como afirmar que,
dentro dessa missão, não tenham de influenciar a política interna em razão de
uma política de defesa, que exige debates internos, entre civis e militares?
Como afirmar que a tradição da AL não exija, especialmente como mostra a
história do Brasil, a necessidade de se fazer ouvir em certas ocasiões,
especialmente em face da qualidade sofrível da classe política brasileira.?
Ninguém quer regimes militares, mas ninguém quer regimes civis que deixem o
brasileiro sem esperanças de construir um futuro adequado para seus filhos. A
classe civil que ponha a mão na consciência antes de criticar os
pronunciamentos militares em prol de um país que é de todos e em que todos são
cidadãos. A AL não é os EE.UU. e, por isso, os EE.UU não deve querer impor a
sua visão sobre o assunto, na AL, sob pena de desestabilizá-la.
De parte do Foro, na
reunião de Princeton, foi colocada a questão do Haiti, onde Aristide, eleito,
tinha sido retirado do poder pelas Forças Aramadas, devendo retornar a ele, o
que redundou num fracasso, que agora se tenta corrigir, inclusive com envio de
contingentes das FFAA brasileiras, dentro da nova destinação...
Também, foi assumido,
na reunião de Princeton, o compromisso de contribuir para a abertura de Cuba,
em aspetos comerciais, inclusive turismo, em maior escala, desde que essa
“abertura” ficasse dentro dos limites que assegurassem que o regime fosse
mantido, sem riscos, apesar de não ter sido eleito, há já 42 anos, como agora
afirmou Fox, presidente do México, além do presidente de El Salvador, que só
admite restabelecer relações diplomáticas com Cuba, após a adoção do regime
democrático. O certo é que, depois disso, a ONU aprovou a intervenção no Haiti.
Não fez o mesmo em relação a Cuba, apesar de Fidel não ter sido eleito.
O Diálogo, mais
recentemente, formou uma Comissão Parlamentar, do qual José Genoíno e dois
outros parlamentares brasileiros, inclusive um do PSDB, fazem parte, certamente
com vistas à alteração da legalização do aborto, esterilização e união civil de
homossexuais. O programa do PT não incluiu estes pontos, mas permitiu aos
parlamentares agirem como entendessem, no Encontro Nacional que se seguiu ao
Pacto com o Diálogo.
Dentro desse
contexto, realizou-se a reunião de Havana, de Julho de 93. As decisões foram,
fundamentalmente três, afora o habitual dos manifestos da esquerda continental.
Primeiro, decisão incondicional de todas as forças ali reunidas, no sentido de
dar todo o apoio à Cuba, durante o período especial, decorrente da cessação do
auxílio soviético e do leste europeu, inclusive com a compra de remédios e
estímulo ao turismo. Itamar, visitado por Lula, adquiriu 300 milhões em remédios
de Cuba, para entrega parcelada. Convênios de assistência médica familiar com
Municípios, etc. Agora se pretende que os médicos formados em Cuba não tenham
que passar por cursos de adaptação, a que são obrigados os formados em outros
países.
Segundo, concentração
de esforços de todas as forças do Foro para eleger Lula, tendo em vista a
necessidade de uma base territorial e de um governo de expressão, para dar
suporte ao que viria a ser uma espécie de União ou Federação (nome dado por
Chávez), das Repúblicas Socialistas da AL, (URSAL no lugar da URSS...)
facilitada pela quase unidade lingüística. No âmbito da imprensa atuaria, como
atuou, escrevendo a favor de Lula, inclusive, em Clarin, de Buenos Aires, Jorge
Castañeda, atual ministro de Relações Exteriores de FOX, mas assessor, na
época, de Cárdenas, um dos líderes do Foro e ligado aos zapatistas.
O terceiro objetivo
definido na reunião do Foro, em Havana,, seria impedir o desenvolvimento da
Nafta , que iria entrar em vigor no dia primeiro de janeiro de 94, no México,
com provável expansão para outros países, colocando-se a luta dentro do tema do
combate ao neo-liberalismo, por todas as formas possíveis. Nesse mesmo dia,
houve o levante zapatista...
Não houve, na reunião
de Havana, qualquer referência, pelo menos pública, ao acordo com o Diálogo Interamericano,
nem aos compromissos assumidos, inclusive sobre a transformação das guerrilhas
em partidos ou a cessação de levantes ou luta armada, tanto que, logo a seguir,
houve o levante de Chiapas (1/1/94), sem que, naquela época, os zapatistas, de
caso pensado, não participassem do Foro, o que só veio a ocorrer mais tarde.
Se algumas forças do
Foro se tornaram partidos, outras, como a FARC e o ELN fazem “cenas” de
participação em negociações de paz, que nunca chegarão ao um final, a não ser
com a tomada do poder por eles. O MST também faz parte do Foro e da estratégia
deste para toda a AL. Tudo indica que os Senderos estão de volta, bem como os
Montoneros, enquanto a Frente Ampla e o Movimento Sandinista se preparam para ganhar
as eleições. em seus países, e a Frepaso rompe com o governo de la Rua, que
acabou na rua.... Todos integram o Foro.
Por final, Lula
aceitou, em 93, convite de Fernando Henrique para entrar no Diálogo, de que faz
parte, com restrições, enquanto o seu introdutor não consumou a expectativa de
apoiar Lula em 94, que estava no bojo deste Pacto continental, com repercussões
na vida dos países do continente, embora não implicasse em união forçada dos
seus participantes. Na verdade. Com sua nomeação para o Ministério da Fazenda e
o Plano Real, FHC anteviu a possibilidade de se candidatar, deixando Lula a ver
navios, mas só decidiu faze-lo, em fevereiro de 94, quando teve certeza do
apoio de ACM e do PFL.
O Pacto continua de
pé, embora fragilizado, inclusive porque, com a eleição de Chávez, e a atuação
da Farc, o Diálogo se sente falando sozinho, embora, em suas análises, sustenta
que agora Lula é confiável e até democrata, como se não continuasse o seu
compromisso fundamental com Fidel Castro, o maior ditador totalitário já visto
na AL. Ao mesmo tempo, os principais representantes de ambas, FHC e LULA, para
a AL, não estão rezando pela mesma cartilha, pelo menos por enquanto. Desde que
mantenham certos princípios do Diálogo, podem brigar, um com o outro, à
vontade, sem causar maiores danos aos objetivos estratégicos do Diálogo.
De outro lado, o
instrumento fundamental do chamado neo-liberalismo, ou seja, a globalização,
oferece dificuldades que sequer exige muito empenho da esquerda para pô-lo em
cheque. Tudo indica que, neste início do Milênio, a América Latina vai ter um
papel de grande relevância para o mundo futuro e quem mais parece saber disso é
a China.
Já agora, com os
novos acontecimentos nos Estados Unidos, que mudaram o mundo, que vai obrigar à
tomada de posição de parte de gregos e de troianos, como na 2ª Guerra Mundial,
creio que cumpri meu dever, em época oportuna, de transmitir a análise que fiz
em pesquisas documentadas e, evidentemente, algumas conclusões de minha
autoria. Em 94, quando escrevi a “Estratégia da Utopia”, antes da pesquisa, e,
depois um relato de parte dos fatos acima, enviei, por dever de consciência,
para todos os Bispos Brasileiros, para os principais jornais, dentro os quais
‘O ESTADO”, “A FOLHA, ‘O GLOBO”, este entregue ao advogado, na época, de
Roberto Marinho, para a ABRIL, e “ISTO É”, tendo alguns jornais enviado
jornalistas em casa, para aprofundar a matéria.
Os únicos que
publicaram algo, foram “A TRIBUNA”, de Santos, que provocou processo eleitoral
do PT contra mim, inadmitido pelo Juiz, e o “CORREIO BRASILIENSE”, que,
inclusive pesquisou na Argentina e no Uruguai e entrevistou Lula, que não
rejeitou a sua ação de coordenação da esquerda latino-americana, publicando
duas páginas inteira sobre o assunto, na época e que, certamente, continua à
disposição de quem tenha interesse pela matéria,
Cumpro a minha tarefa
de cidadão, ficando o resto por conta de V.Sas., sem que eu faça distinção de
qualquer natureza entre os destinatários.
E, para ficar claro a
quem ler este documento, ele foi atualizado, da data original em que foi
escrito, para o ano de 2004, em alguns de seus tópicos.
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